domingo, 14 de dezembro de 2008

Necessidade neurótica



Necessidade neurótica de poder

O eu dos quem têm essa necessidade é controlador, dominador. Um eu forte exteriormente, mas frágil interiormente. Quando essas pessoas assumem um cargo de poder, os monstros do seu inconsciente entram em cena produzindo comportamentos autoritários e destrutivos.

Para elas, o poder acaba se tornando mais importante do que a vida. Tolhem a liberdade dos outros, não respeitam os seus espaços. Sentem-se ameaçadas por pessoas inteligentes e têm medo da competição, pois a perda do poder as asfixia. Em alguns casos vivem com a paranóia de que alguém sempre está querendo derrubá-las.

Ao longo da história, os ditadores sempre eliminaram mentes brilhantes por se sentirem ameaçados. Ao invés de usar o poder para promover o debate, o usaram para silenciar vozes.

Jornalistas com necessidade neurótica de poder escondem-se atrás das reportagens ou artigos para expressar seu sectarismo. Advogados e médicos usam seu status para constranger clientes e funcionários.

São deuses que não respeitam a dor e o potencial dos outros. Silenciam filhos, seus cônjuges, seus amigos e até eles mesmos, pois perdem a espontaneidade e a suavidade da vida. Embora não se dêem conta, são famintos de diálogos.

Executivos com necessidade neurótica de poder não suportam ser contrariados. Não ensinam a pensar, mas a obedecer. São centralizadores e individualistas. Valorizam o culto à personalidade, querem não apenas ser o centro das atenções como os donos da situação.

Não percebem que quanto mais lutam desesperadamente pelo poder mais o perdem, pois não têm controle sobre seus impulsos, suas idéias paranóicas, suas inseguranças.

O eu dessas pessoas precisa ser equipado para que se tornem capazes de reeditar a sua história. Precisam reconhecer o valor de cada ser humano, inclusive o próprio valor, pois a necessidade neurótica de poder é contra o princípio do prazer, contra a criatividade e contra a liberdade interior. Precisam desenvolver o eu a ponto de perceberem que os fracos controlam, mas os fortes promovem a inteligência; os fracos anulam os diferentes, mas os fortes aprendem com eles.

Necessidade neurótica de estar sempre certo

O eu dos que têm essa necessidade é perfeccionista, não admite suas falhas, não reconhece seus defeitos e evita entrar em contato com a própria realidade. São pessoas péssimas para desculpar-se, mas ótimas para se defender. Usam todos os argumentos possíveis e imagináveis, até os ilógicos e infantis, ara provar que suas idéias e atitudes são corretas. Não sabem, mas têm fome de humildade.

Um eu que se defende excessivamente e se esconde atrás dos seus argumentos são sabe o quanto é agradável e reconfortante admitir as próprias imperfeições. A compulsão neurótica de estar sempre correto torna-se estressante e insustentável.

Essas pessoas nem sempre são agressivas no tom de voz e nas palavras, mas na maneira de ser. Para se defender neuroticamente seus comportamentos desvalorizam os argumentos dos filhos, cônjuges, alunos, colegas de trabalho, deixando um rastro de dor por onde transitam.

Provavelmente a maioria das pessoas nas sociedades modernas tem essa necessidade doentia nos mais diversos níveis. Com frequência estamos mais perto delas do que gostaríamos. Quem muito se angustia, se inquieta, sente-se desconfortável quando corrigido e criticado, possui em diversos graus essa característica doentia.

Entre as principais vítimas dessa neurose encontram-se alguns intelectuais. Exalam informações por todos os poros, mas falta-lhes sabedoria para admitir seus erros. São pessoas difíceis de conviver. Quando confrontadas, algumas saem da esfera da mansidão e partem para a agressividade.

Os que não possuem essa necessidade doentia admitem suas falhas e incoerências, conseguem aprender com seus subalternos, por mais humildes que sejam, respeitam cada ser humano pelo que é e não pelo que tem.

Em contrapartida, os dominados por essa necessidade são intocáveis. Não aprendem com pessoas simples, mas fingem aprender com as mais experientes. Sofrem, frustram-se, choram, mas não absorvem lições importantes. Repetem seguidamente os mesmos erros.

A necessidade neurótica de perfeição leva algumas pessoas a serem obsessivas, a supervalorizarem esquemas, detalhes, listas, organização. Não se dão conta de que o excesso de preocupação com regras e esquemas bloqueia a criatividade e a ousadia. O detalhismo e a cautela excessivos travam a inteligência e truncam projetos.

Essas pessoas precisam desenvolver um eu que tenha consciência de si mesmo e de seus papéis fundamentais. Um eu transparente que olhe para dentro, que não tenha medo das próprias “loucuras”, que seja comprometido com a saúde psíquica e não com a imagem social.

Precisam desenvolver acima de tudo um eu consciente de que o perfeccionismo nos habilita a lidar com máquinas e não em seres humanos, pois somos seres imperfeitos vivendo em sociedades imperfeitas.

Parafraseando o Sermão da Montanha, bem-aventurados os que não se auto-abandonam, os que têm ricos encontros com seu próprio ser, pois deles é o reino da serenidade e do prazer de viver.

Felizes os que humildemente olham para o espelho da sua psique, que descobrem que não são deuses, que procuram superar a necessidade doentia de poder, de controlar os outros, de se fixar em preocupações, pois deles é o sabor inefável da liberdade e o paladar inexprimível da sabedoria.

Texto extraído do livro Os segredos do Pai-Nosso 2

Aprendendo a superar os conflitos humanos – Augusto Cury – Ed. Sextante.

Augusto Cury é medico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor; Pós-graduado em Psicologia Social, desenvolveu a teoria da Inteligência ou Psicologia Multifocal, sobre o funcionamento da mente e o processo de construção do pensamento.

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