domingo, 25 de janeiro de 2009

Sobre opressores e oprimidos

Por Flávio Gikovate

Considero um pouco simplista a visão do homem como o opressor e da mulher como a oprimida. A análise das relações entre os gêneros hoje em dia mostrará que isso é óbvio. Porém, mesmo do ponto de vista da nossa história, penso que as generalizações deste tipo excluem importantes aspectos relacionados com a organização social.

Acho que é muito importante separarmos os humanos em membros das elites e integrantes do povo. As elites sempre oprimiram a grande maioria das populações, homens e mulheres. A vida do povo sempre foi tão desastrosa que fica difícil dizer quem é mais oprimido: se o homem que trabalhava de sol a sol para ganhar o suficiente para comer e dar de comer à sua família; ou se a mulher que tinha que cuidar de tudo na casa e ainda devia consideração ao marido.

Eram todos escravos de uma minoria que os oprimia. Não será isso verdadeiro, ainda hoje, para mais da metade da população do planeta?
As elites sempre foram constituídas de dois grupos: os mais egoístas - usualmente detentores do poder político e militar -, sempre os mais influentes na constituição das normas sociais a serem seguidas pelas próprias elites; e os mais generosos - detentores do conhecimento, guardiões das religiões e das ponderações de ordem moral - que influíam e influem muito sobre o modo de agir do povo ingênuo e dócil. Sabemos que os dois grupos de poderosos sempre rivalizaram entre si, padeceram de recíproca inveja e viveram de forma muito parecida.

Os privilégios eram divididos de forma desigual (favorecendo os egoístas, é claro), mas estavam presentes no cotidiano de todos. O discurso da elite generosa sempre foi usado pelos egoístas, donos do poder, para influenciar no modo de vida da plebe, que deveria se manter obediente e trabalhar para gerar riquezas para eles.
Sempre convivemos com dois conjuntos de regras: as que eram pregadas para serem seguidas pelo povo e as que determinavam a vida das elites.

Os casamentos não eram feitos com base no amor nem num grupo e nem no outro. O amor, quando existia, se manifestava em paralelo, fora do contexto familiar. Aí o amor e o sexo eram vivenciados no contexto das paixões. Penso que estes acontecimentos eram mais comuns entre os membros das elites do que entre os do povo, obrigados a trabalhar e a viver como escravos. Já me referi várias vezes ao fato de que as escolhas das parcerias extraconjugais eram determinadas essencialmente pelas mulheres, especialmente as mais atraentes.

O comportamento dos homens teria que estar de acordo com os critérios de admiração que elas elaboraram. Assim sendo, continuo achando que as mulheres influenciaram, e muito, na constituição dos valores que passaram a ser seguidos pelos homens mais poderosos.
Este aspecto, relacionado com o surgimento do encantamento amoroso e com o interesse sexual feminino, precisa ser mais bem entendido e talvez reavaliado. Sim, porque são muitos os casos em que fica muito difícil distinguir amor de puro interesse. Até hoje, quando as moças de 15-16 anos de idade falam dos rapazes que elas admiram e gostariam de namorar, sempre falam que eles são “os mais alguma coisa”: os mais populares, os mais ricos, os mais bonitos, os mais engraçados ou inteligentes. Faz tempo que não ouço uma moça falar que achou graça em um rapaz porque ele tem um sorriso encantador, um olhar sincero, um jeito de ser delicado.

Os critérios de admiração delas ficaram e estão até hoje profundamente comprometidos com um sutil jogo de interesses práticos. Parece que elas ainda olham para os rapazes como seres que deverão lhes ajudar a avançar, a subir um degrau na escalada social. Não pensam no companheirismo. Até hoje são estimuladas a pensar que os bons parceiros são os vencedores, aqueles que se destacam em algum aspecto relevante da vida social.
Separar de forma mais clara amor de interesse seria mais uma das sugestões que gostaria de fazer para que as pessoas possam se afastar dos padrões culturais que nos foram transmitidos. É preciso que os critérios de valor sejam levados mais a sério e que os generosos não estejam tão contaminados com os valores dos egoístas, os que construíram estes critérios.

Eles são todos extremamente superficiais, relacionados mais com a casca do que com o miolo das pessoas.


Temos que parar de valorizar tanto a beleza, a capacidade de seduzir, a competência para se destacar pela habilidade social e principalmente a condição material (efetiva ou potencial). Quem gostar de dinheiro que trate de se empenhar para conquistá-lo; não cabe usar os relacionamentos afetivos para resolver este problema. Parceiros sentimentais admiráveis são aqueles que nos alimentam e gratificam emocionalmente. São os que nos tratam com carinho, consideração e nos cercam de gentilezas. Devem ser pessoas suficientemente maduras para esperarem o mesmo de nós. E mais nada.

Quando chorar faz bem

Chorar é um comportamento cultural.

Algumas culturas choram mais que outras. Certa vez ao acudir no Nepal, uma tibetana que estava chorando, ela me disse constrangida: “Chorar para os tibetanos não faz bem: faz a nossa energia cair e deixa os outros tristes também”.
Existem vários tipos de choro: desde aquele que alimenta a autocomiseração e busca manipular o ambiente ou o estado de espírito dos que estão em volta, até o choro saudável no qual lamentamos a nossa dor para nos desapegar dela. Este último, não é regido pela vitimização, mas sim pela necessidade sincera de sentir nossa dor sem restrições.

Lamentar não é reclamar ou se queixar, o que apenas intensificaria o sofrimento.

Lamentar é expressar nossas mágoas como uma forma de aliviar a pressão interna. Nos ajuda a desbloquear uma emoção presa em nosso interior.
Morrie Schwartz, em seu livro Lições sobre amar e viver (Ed. Sextante) nos inspira a lamentar seja pela perda de nossos entes queridos, seja por nós mesmos, quando escreve: “Depois de chorar algum tempo, encontro alívio em expressar esses sentimentos profundos, consolo em saber que posso expressá-los – que eles estão ali, que posso pô-los para fora. Meus sentimentos me fortalecem, em vez de me enfraquecerem.

Depois de passar por esse tipo de lamentação, é mais fácil enfrentar o dia, tão mais fácil fazer o que tenho de fazer com minha família e meus amigos, ser carinhoso e estar pronto para o que vier a acontecer”.
Chorar é permitir a intensificação de uma emoção. Sua função é despertar compaixão, compreensão e proteção. Aquele que costuma reprimir o choro perde a oportunidade de criar intimidade com a sua própria emoção. Ser testemunha de si mesmo gera confiança e autoconhecimento. Uma vez que expressamos nossos sentimentos, descobrimos que não só somos capazes de suportá-los, como também que podemos nos desapegar deles quando nos damos por satisfeitos. Quem já não se disse com firmeza: “Agora chega de chorar”.

O choro é como uma válvula de escape para as descargas de hormônios que ajudam a restabelecer nosso equilíbrio interior. O fluxo lacrimal está relacionado a várias partes do sistema nervoso. A lágrima é uma resposta não só da glândula, mas do corpo como um todo. A repressão das emoções é extremamente nociva para o organismo.

Ao tentar segurar o choro, contraímos toda a musculatura, comprimimos os vasos sanguíneos, o estômago, o intestino, nos causando muitos males.
O corpo relaxado pensa melhor. Ao chorar, nos aproximamos da nossa dor e captamos melhor a mensagem que ela tem a nos passar.

Costumo diferenciar um choro quente de um choro frio.

O choro quente, por ser livre da autocrítica, faz derreter o coração frio, congelado pela dor. Ele não é depressivo e pesado. Ele nos torna pessoas mais meigas, pois nos ajuda a dissolver as mágoas e a relaxar à medida que nos sentimos sintonizados com as nossas emoções.


O choro frio é mental e muitas vezes está contaminado pelo sentimento de termos sido injustiçados. Seu objetivo é expressar a sensação de sermos vítimas, por isso é queixoso e lamuriante. Esse tipo de choro tende a entorpecer o sentimento, ao invés de nos permitir entrar em contato com ele. Enquanto choramos, arquitetamos uma vingança contra a injustiça da qual acreditamos ter sido vítimas. Assim, ele não nos traz alívio, ao contrário, nos deixa cada vez mais tensos. Ele surge como uma expressão vazia que aumenta a sensação de distanciamento de si e dos outros.

Alguns pacientes vêm à terapia para reaprender a chorar. Na maior partes das vezes são homens que sabem que precisam chorar, mas não choram há anos.


Enquanto evitarmos viver uma dor emocional, ela se transformará em vícios, comportamentos compulsivos, medos e manias que limitam nossa vida.
Como alerta Alessandra Kennedy em seu livro E a vida continua – como superar a perda de um dos pais (Ed. Gente): “O pesar revolve os mais profundos níveis da psique trazendo à tona questões não resolvidas, que silenciosamente sabotam a nossa vida.

Os sonhos nos informam sobre a presença dessas questões e fornecem orientação de como resolve-las. Quando ignorados, podem se repetir ou surgir de forma mais dramática, talvez transformando-se em pesadelos”.
Não adianta esperar que a dor “passe com o tempo”. O tempo atenua a dor, mas não a cura. Pois, a dor em si não purifica o sofrimento. Apenas a consciência do sofrimento é capaz de transformá-lo. Sofrer sem sabedoria é acumular mais confusão e dor.

Um novo olhar de autoreconhecimento começa a surgir quando passamos a acolher, com afeto e tempo, a fragilidade diante da dor da perda. Passamos a ter insights, frases que brotam naturalmente em nossa mente, expressando mensagens de nossa sabedoria intuitiva.


Certa vez, eu estava em silêncio no carro, presa em um grande engarrafamento no final do dia, quando me veio o seguinte pensamento: “Como você ainda está sofrendo esta perda? Isto é apenas apego ao que não está mais aqui”. Então repeti, mais algumas vezes internamente “não está mais aqui”, e foi quando tive o insight de que aquela dor era uma dor inútil. Devemos aproveitar esses raros momentos onde finalmente conseguimos unir, de fato, o pensamento ao sentimento! A partir de então senti que um certo peso havia sido eliminado de meu interior.
O luto é um processo que foge ao nosso controle e por isso pode durar muito mais tempo do que imaginamos. Mesmo depois de nos recuperarmos, ainda iremos, inesperadamente, nos encontrar em situações que fazem com que sintamos que caímos outra vez no vácuo da perda. Cada vez que nos erguermos, retornaremos mais inteiros.

Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.

Como saber a hora de parar


Quando um problema passa a ocupar a maior parte de nossa mente é hora de nos distanciarmos dele. A distância física ou mental daquilo que nos preocupa pode nos ajudar a recuperar o espaço interno perdido.

Não podemos parar o mundo, mas podemos parar a nós mesmos. Parar não é perda de tempo. Pode parecer paradoxal, mas a finalidade última de parar é a de gerar forças para seguir em frente.

Os mestres budistas nos ensinam: “Só enfrente um inimigo quando você estiver mais forte que ele. Até lá, continue se fortalecendo.”

Quando estamos envolvidos demais pela sensação de ter um problema, nos sentimos “sem saída”. No entanto, ao nos predispormos a ver o problema, ao invés de tê-lo, conquistamos naturalmente uma atitude interna de nos distanciarmos dele o suficiente para vê-lo melhor.

Guelek Rimpoche nos alerta: “O primeiro passo para sair de um problema é criar uma forte determinação de ficar livre dele. Essa determinação deve ser feita mesmo quando ainda se está preso ao problema.”

Para sair do sofrimento, precisamos antes de tudo aceitar a situação em que nos encontramos e então reconhecer, no poder da determinação, a saída por onde queremos ir. Apesar de intelectualmente sabermos que sempre há uma saída, a maior parte da vezes estamos tão convencidos de sermos vítima de nossa própria dor que resistimos a idéia de algo possa ser mudado. Quando nossas convicções do que sentimos como verdadeiro se tornam rígidas, precisamos recuperar uma certa flexibilidade. Somente mudamos uma atitude interna, quando nos estamos convencidos emocionalmente da real necessidade de mudar.

Pema Chödrön no seu livro Os lugares que nos assustam (Ed. Sextante) escreve: “Se percebermos que estamos sendo tomados por uma justa indignação, este é um sinal claro de que já fomos longe demais e que nossa capacidade de causar alguma mudança estará comprometida. Crenças e ideais se tornaram somente uma outra maneira de erigir muralhas”. Por exemplo, quando nos sentimos ressentidos, nos tornamos reativos: surge em nós o impulso de agredir quem nos magoou e nossa energia automaticamente se esvai.

Se reconhecemos a natureza reativa de nossa mente, poderemos nos dar conta do quanto nos abandonamos neste momento. Deixamos de ser “donos de nós mesmos” quando nos tornamos presos à necessidade de prestar contas com alguém que nos magoou. Não percebemos quanto poder estamos transferindo para uma pessoa quando pensamos: “Enquanto eu não tirar isso a limpo com ele, não sossegarei”. Agindo assim, ficamos presos à capacidade de entendimento com o outro para recuperarmos nossa calma. Só quando nos apropriarmos de nós mesmos, recuperaremos nossa capacidade de observar uma emoção negativa.

Se quisermos ter paz interior, precisaremos considerar e respeitar o espaço interno de nossa mente como algo muito precioso. Algo tão precioso que queiramos preservar acima de tudo.

Todos os métodos de purificação da mente visam o mesmo objetivo: separarmo-nos da energia impura. A paz interna é a habilidade de manter a energia da mente sempre como um espaço limpo, leve e pleno de energia positiva.


Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.

Confiar um no outro, essencial para um amor maduro


Por Flávio Gikovate

Amor implica depender, estar na mão da outra pessoa. Por isso, amar alguém que não nos transmite confiança é ser irresponsável para consigo mesmo.

Poucos são os casais que vivem em concórdia, num relacionamento que crie condições para que ambos cresçam emocional e intelectualmente. Mas, porque existem alguns casais que vivem em harmonia, devemos nos empenhar para também fazermos parte dessa minoria privilegiada. Hoje quero me dedicar a um aspecto essencial das boas relações amorosas que é o desenvolvimento da confiança recíproca.

Amar implica depender, estar na mão de outra pessoa. Ela tem, mais do que ninguém, o poder de nos fazer sofrer. Basta querer nos magoar que conseguirá isso, com uma simples palavra ou gesto. Se quiser nos fazer sentir insegurança, não terá problema algum. Fica mais do que evidente que, quando uma pessoa ama alguém que não se empenha em despertar a sensação de confiança e de lealdade, ela irá padecer muito. Irá se sentir permanentemente ameaçada, terá ciúme de tudo e de todos. Amar alguém que não nos passa confiança é, pois, uma irresponsabilidade para consigo mesmo. É uma ousadia, uma ingenuidade e uma grande demonstração de imaturidade emocional - ou sinal de que se tem satisfação com o sofrimento.

Em geral as pessoas se colocam nessa condição em virtude de terem se encantado com alguém que, de fato, não dá sinais de confiabilidade. Aceitam essa atitude egoísta do amado imaginando que seja uma fase, um período doloroso que irá passar com o tempo. Fazem tudo para demonstrar o seu amor, para cativar o outro e esperam que isso faça com que, finalmente, ele se renda, e também se entregue de corpo e alma à relação afetiva.

Acaba se compondo uma espécie de desafio, em que aquele que não é confiável percebe que recebe mais atenções e carinho exatamente por agir dessa forma. Com isso se perpetua a situação e me parece bobagem achar que o futuro será diferente do presente.

Afinal de contas, aquele que não se entrega ao amor, acaba sendo altamente recompensado por isso e não terá nenhuma tendência para alterar sua atitude.

Quando a “mágica” do encantamento amoroso não vem acompanhada da “mágica” da confiança, a pessoa está posta numa situação muito difícil, na qual o sofrimento e insegurança serão as emoções mais constantes. E essa “mágica” da confiança de onde vem? De vários fatores, sendo que o primeiro deles depende do comportamento da pessoa amada.

Não é possível confiarmos numa pessoa que mente, a não ser que queiramos nos iludir e tentemos achar desculpas para não perder o encantamento por ela. Não é possível confiarmos em pessoas cujo comportamento não está de acordo com suas palavras e suas afirmações. Aliás, quando o discurso não combina com as atitudes, penso que devemos tomar essas últimas como expressão da verdadeira natureza da pessoa.

Não é possível confiarmos em pessoas que mudam de opinião com a mesma velocidade com que mudamos de roupa.

É evidente que todos nós, ao longo dos anos, atualizamos nossos pontos de vista. Porém, acreditar em certos conceitos num dia - na frente de certas pessoas - e defender conceitos opostos no outro - diante de outras pessoas - significa que não se tem opinião firme sobre nada e que se quer apenas estar de bem com todo mundo. Amar uma pessoa assim é, do ponto de vista da autopreservação, uma temeridade.

A capacidade de confiar depende também de como funciona o mundo interior daquele que ama e não apenas da forma de ser e de agir do amado. Não são raras as pessoas que não conseguem desenvolver a sensação de confiança em virtude de uma auto-estima muito baixa. Desconfiam da capacidade que têm de despertar e conservar o amor da outra pessoa; se sentem inseguras, acham que a qualquer momento podem ser trocadas por criaturas mais atraentes e ricas de encantos. E, o que é mais grave, se sentem assim mesmo quando recebem sinais constantes, coerentes e persistentes de lealdade por parte da pessoa amada.

Nesses casos, não há o que essa criatura possa fazer para atenuar o desconforto daquelas, cuja única saída é um sério mergulho interior em busca de resgatar a auto-estima e a autoconfiança perdidas em algum lugar do passado.

Finalmente, para uma pessoa desenvolver a capacidade de confiar é necessário que ela seja uma criatura confiável. Costumamos avaliar as outras pessoas tomando por base nossa própria maneira de ser. Se nos sabemos mentirosos, capazes de deslealdade e de desrespeito aos outros, como ter certeza de que as outras pessoas não farão o mesmo conosco? Só aquele que tem firmeza interior, que tem confiança em si mesmo no sentido de respeitar as regras de conduta nas quais acredita, pode imaginar que existam pessoas em condições de agir da mesma forma. Se a felicidade sentimental depende do estabelecimento da confiança recíproca, ela será, pois, um privilégio das pessoas íntegras e de caráter.

sábado, 24 de janeiro de 2009

O erro de educar ensinando amor incondicional



Aceitar atitudes inadequadas das crianças é não querer que elas cresçam fortes e independentes. É também não prepará-las para a realidade da vida adulta.

É fácil compreender as razões pelas quais quase todos nós nos perdemos como educadores. As descobertas da psicanálise acerca da importância dos primeiros anos de vida nos deixaram com muito medo de provocar traumas irreparáveis em nossos filhos. Preferimos, então, errar por falta de rigor do que por excesso de rigor. Para não “traumatizarmos” as crianças, passamos a temer até mesmo decepcioná-las e frustrá-las; coisa que elas percebem como fraqueza e tratam de abusar de nossa insegurança.

Agora, o que não pode continuar a acontecer é a passividade diante do fato de que temos que educar os nossos filhos. Não podemos nos acovardar diante dessa responsabilidade apenas porque nos tornamos mais conscientes dos riscos que corremos. Seria a mesma coisa que os médicos se recusarem a fazer cirurgias apenas porque existe o risco de insucesso e mesmo de morte do paciente. E algumas coisas que me parecem indiscutíveis: temos que transferir a cada nova geração os princípios morais mínimos que regem a nossa vida em comum; temos que lhes ensinar a ter os hábitos de higiene que aprendemos e que são tão importantes para a boa saúde; temos que lhes transmitir o conhecimento essencial acerca da língua, da matemática, das ciências, enfim, de tudo o que a nossa espécie com tanto sacrifício conseguiu colecionar como saber, ao longo de milênios de civilização.

Podemos discutir qual é o melhor caminho para que a educação seja a mais eficiente e menos frustrante possível. Podemos discutir que tipo de método a escola deveria usar para transferir o conhecimento às crianças; mas não podemos transigir diante da necessidade de que isso aconteça. Não é razoável que os jovens cheguem à universidade sem saber sequer escrever a sua língua. Isso não vai levar a nada, tanto na vida pessoal deles como do ponto de vista da coletividade. Podemos discutir se castigar condutas inadequadas é ou não mais eficiente do que recompensar aquelas que são consideradas como adequadas.

Mas não podemos deixar que nossas crianças cresçam negligentes quanto ao fato de que existem outras criaturas sobre a Terra e que estas outras têm iguais direitos que devem ser respeitados.

Não podemos ficar indiferentes ao desrespeito das crianças em relação às outras pessoas em lugares públicos, tais como restaurantes, aviões, praias etc. Não podemos tolerar crianças que não escovem os dentes, não tomem banho, não cuidem de seus pertences pessoais, nem ajudem os adultos em todo o tipo de tarefa quando isso se faz necessário; que não tenham rendimento escolar digno de sua inteligência.

Aceitar passivamente atitudes inadequadas das crianças é não querer que elas cresçam fortes e independentes. É não prepará-las para a realidade da vida adulta. É, pois, uma extrema maldade para com elas, que ficarão condenadas à eterna dependência em relação aos pais. E não são poucos os pais que superprotegem, absolutamente conscientes de que isso irá fazer com que seus filhos não evoluam.

Querem é isso mesmo, pois não os criam para o mundo e sim para si mesmos. Agem com um egoísmo sem precedentes, disfarçado em tolerância e generosidade. Transmitem aos seus filhos a idéia de que o amor dos pais por eles é incondicional; ou seja, que os filhos não têm que ter comportamentos dentro do que se considera adequado para que sejam amados. São amados pelo simples fato de que são filhos; e pronto.

É claro que uma atitude desse tipo tira dos pais todo o poder de educar, uma vez que o que as crianças mais temem é justamente a perda do afeto dessas figuras que tanto lhes são essenciais. Se vão ser amados de todo o jeito, porque não fugir da escola, roubar dinheiro do vizinho e mais tarde usar drogas que prometem felicidade fácil?

A meu ver, a maior maldade que está presente nesta noção de que os pais têm que amar os filhos incondicionalmente é que ela não terá continuidade. Na vida adulta, os namorados, amigos, conhecidos e colegas nos amam apenas quando não ofendemos suas convicções e não desrespeitamos seus direitos. Quando os jovens educados dentro dessa idéia do amor incondicional perceberem que suas atitudes inadequadas afastarão as pessoas de perto deles, aí sim serão fortes para desenvolver raiva e revolta contra seus pais, que os iludiram, que mentiram para eles ao prometer um mundo que não existe. É possível que alguns pais – especialmente mães – amem seus filhos incondicionalmente enquanto sejam bem pequenos. Mas com o passar dos anos o amor deixa de ser uma coisa só física e passa a depender da admiração.

Quem não se empenhar para despertar a admiração, não será amado nem pelos pais nem pelas outras pessoas.

Flávio Gikovate é médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Confira o programa "No Divã do Gikovate" que vai ao ar todos os domingos das 21h às 22h na Rádio CBN (Brasil)
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A sua crise é a crise da falta de percepção de si mesmo

A grande maioria das pessoas que vem por conta própria em busca de um tratamento psicológico tem a certeza de que está passando por algum tipo de crise.
Mas que tipo de crise poderia ser esta?

Na história e na crescente formatação da consciência humana, podemos notar que o indivíduo permanece incessantemente entrando e saindo de espaços fechados, todos configurados em meio a diversas leis e sistemas. Se a pessoa não está dentro de um contexto familiar, está dentro de um contexto de trabalho ou em alguma outra situação sócio-cultural que o requisite num estado padronizado de manifestação que interage e modifica a sua biografia pessoal. É deste modo que podemos observar o movimento que gera o aprisionamento do nosso ser essencial em uma trama que, ao atar, cega.

O mais triste deste estado é que o cegar vale tanto para uma visão mais acurada sobre a realidade externa, como também para uma visão interior. A crise, portanto, acontece quando o indivíduo passa a se dar conta de que não se entende nos vários sentimentos e sensações a que é acometido. Sente uma ruptura no sentido da vida.

Muitos se queixam de terem dificuldades para dizer um não ao mesmo tempo em que outros se observam extremamente impacientes e até violentos em determinadas situações. O que todos estão falando é que algo acontece dentro de si mesmos que resulta em algum tipo de manifestação não satisfatória e sem controle do próprio eu.

Outra queixa comum daqueles que se percebem em estados mais depressivos é a falta de ação, mas mesmo neste estado de aparente não ação, exacerba-se mais uma amostra de um tipo de manifestação também sem controle.

Notem que quando abordamos a palavra controle, não é referente ao controle que estamos acostumados a viver ou a ouvir por aí, estamos falando da presença do Eu lúcido em qualquer situação que estamos criando ou à qual podemos ir de encontro.

Sabemos que processos vivenciados dentro de uma psicoterapia auxiliam o indivíduo a entrar em contato com os aspectos que o estruturaram e que, dentro deste processo, a pessoa tem a oportunidade de se observar e de se transformar.

Isto gera a possibilidade de um reconhecimento perceptivo a respeito de nós mesmos e dos possíveis motivos que chegaram a nos distanciar de quem realmente somos.

Acontece que num processo gradativo a nossa percepção pouco a pouco acaba sendo minada. Passamos a achar normal uma vida medíocre sem grande entendimento sobre nós mesmos. Achamos que é normal corrermos atrás de uma ganância desenfreada alimentada por uma competição atroz.

Pouco a pouco perdemos a referência de quem somos e o pior é que passamos a achar que a baixa qualidade de prazer que temos na vida é normal.

Não nos apropriamos de nós mesmos e como conseqüência deixamos de existir como consciências quânticas que somos, passando a funcionar num limiar muitíssimo baixo.

De repente, porém, este nosso Si Mesmo passa a desconfiar de que algo não vai bem ou que talvez poderia estar melhor. Este é o precioso momento onde o indivíduo tem a chance de se resgatar, de se ganhar de volta. Nesta hora percebemos que tudo poderia ser diferente do que está, começamos a entrar em contato com várias das nossas questões que são emergenciais para qu nos atualizemos como existências completas. Percebemo-nos em crise.

O hexagrama chinês de crise é composto de dois caracteres, um representando o perigo e outro a oportunidade.

Notamos que falta a percepção do por que estamos funcionando de modo tão insatisfatório há tanto tempo...

É lógico que temos toda uma história por trás que construiu e que ainda constrói tanto os nossos pensamentos, como a maneira de nos compreendermos como entidades dentro de toda esta trama. Isso inclui todas as nossas possibilidades de ação até o presente momento.

Fazendo um recorte histórico, podemos observar algo sobre parte desta construção de nós mesmos que se passou entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial, o que houve no antes e no depois, só para dar um pequeno exemplo evidenciando como foram se construindo as nossas "pseudo-verdades":

- Desde o final da Segunda guerra mundial a sociedade vem "evoluindo" em ordenação de serviços, em ordenações psico-lógicas. Ordenações absolutamente necessárias para a tentativa de organizar-se no caos instalado nesta época de pós-guerra.

Em nome de se deter vários tipos de doença, o processo de higienização enunciado no início do século passado, devido a doenças contagiosas resultantes de constelações familiares atípicas dentro dos padrões atuais, pôde ter um desenvolvimento mais efetivo. Deste modo a estrutura familiar como a concebemos nos dias de hoje, teve um maior respaldo para se configurar no mundo como uma verdade importante e absoluta a ser vivida.

Indivíduos buscando segurança em diversos níveis passaram a compactuar com vários tipos de crença desta matriz, acreditando ser a estrutura familiar como a conhecemos, a forma ideal para se viver. Então, em nome de se deter as doenças transmissíveis e também de cuidar do tipo de patrimônio gerado pelo capitalismo, as famílias passaram a funcionar de modo monogâmico.

Notem que nada temos contra as estruturações familiares monogâmicas, assim como nada temos contra as estruturas poligâmicas, etc, etc, apenas estamos como observadores destas organizações, verificando também o desenvolvimento do psiquismo e da crença humana de acordo os diversos tipos de sistemas vigentes.

A formatação, o viver dentro de determinados conceitos, leva ilusoriamente o indivíduo a sentir que pode controlar tudo... o que, como sabemos, é um paradoxo. Não dá para se controlar nada enquanto formos frutos inconscientes de um controle.

Temos nos trabalhos também determinados padrões de controle, na área da ciência outros grupos de controle e assim por diante.

No final das contas todos vivem como se fossem funcionários de uma grande indústria, onde o pensamento global de uma arrecadação maior gera pensamentos locais de arrecadações individuais, tudo na inconsciência, longe do que é de fato o Ser. Em outras palavras, cada um pensa em si, mas está preso a um pensamento maior.

O próprio pensamento não advém das necessidades básicas e pessoais, mas sim da construção gerada pelo corpo maior que dá a ilusão de uma base que sempre será faltante, por isso a busca frenética do ter. Mas isso tudo também é uma construção que não tem nada a ver com a realidade interna do indivíduo.

Somos os atores de nós mesmos, por isso é que necessitamos saber com clareza de que modo estamos atuando e sendo a cada instante, podendo assim desenvolver as nossas habilidades, tornando-nos os senhores criadores das nossas realidades com maior consciência, deixando de sermos autômatos conscienciais, ou seja, sem a percepção lúcida de nós mesmos.

A proposta é o agir de modo simultâneo, porém extremamente consciente, ora como participantes ativos inseridos dentro de um suposto contexto, ora como observadores, porém sem jamais nos perdermos novamente daquilo que somos em essência.

Ao longo dos nossos estudos, temos notado o importante auxílio, suporte e complementação que a Psicologia, têm oferecido.

A meditação também passa a ter importância definitiva no movimento de conhecimento e transformação pessoal. É por intermédio da meditação que a pessoa pode passar por alguns estágios em que seu complexo bioenergético fica totalmente ativado pela energia vital gerada e, de acordo com os nossos estudos, já sabemos que esta pessoa obterá um novo impulso que facilitará sobremaneira sua transformação pessoal em vários níveis; estando muito mais dinamizada e fortalecida para conseguir aprofundar-se em si mesma, podendo se transformar de modo mais autoconsciente e centrado.

Silvia Malamud é psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Atendimentos em EMDR, Psicoterapia breve, Quântica e
máquina SCIO - a máquina da saúde.

Autora do Livro: Projeto Secreto Universos


Quando o amor foi insuficiente


Você sente que recebeu amor suficiente quando era criança? Cada um, a seu modo, tem uma história para contar... Basta escutar os enredos que surgem quando sonhamos dramas baseados no abandono e na carência afetiva. Há sonhos - ou melhor, pesadelos - que nos paralisam na sensação de uma intensa dor sem saída: resta-nos apenas a esperança de que um herói, que tenha coragem no coração, venha nos salvar! Apesar dessa força extra encontrar-se em nosso interior, nós a projetamos para fora de nós. Este é um hábito mental que desenvolvemos quando ainda éramos crianças.

É como escreve o mestre budista Tarthang Tulku em seu livro A mente oculta da liberdade: “À maioria de nós foi ensinado que o amor se acha fora de nós mesmos – é algo a ser obtido. Por isso, quando o encontramos, nós o agarramos firmemente, como se não houvesse o suficiente para todos. No entanto, na medida em que o amor se torna apego egoísta, nós nos isolamos da verdadeira intimidade. O amor mais gratificante que podemos vivenciar é o que já existe dentro de nós, no coração de nosso ser. Aí se encontra uma infinita fonte de calor, que podemos usar para transformar nossa solidão e infelicidade. Ao entrar em contato com essa energia nutriente, descobrimos os recursos interiores necessários para sermos verdadeiramente responsáveis pelo nosso próprio crescimento e bem-estar”.

Mensagens como essa são um estímulo de coragem e libertação para aqueles que já se sentem comprometidos com o caminho da transformação interior. Mas temos que admitir que enquanto estivermos presos à dor da carência e da falta de amor, não será suficiente saber racionalmente que sofremos porque não sabemos amar verdadeiramente.

Será preciso reviver a dor do abandono sob um novo prisma para superá-la.

Racionalizar a dor emocional faz parte do processo para curá-la, mas, em si, não é uma experiência capaz de gerar uma mudança autêntica e profunda.

Portanto, devemos partir do pressuposto de que não há nada de extraordinário no fato de admitir que recebemos amor insuficiente quando éramos crianças. Pois será a partir da aceitação desta falta que iremos encontrar forças para resgatar nosso amor interior.

Eva Pierrakos e Judith Saly dedicaram todo um capítulo a esta questão em seu livro Criando união (Ed. Cultrix). Elas escrevem: “Como as crianças muito raramente recebem suficiente amor maduro e bondade, elas continuam a ansiar por ele durante toda a vida, a menos que a falta e a mágoa sejam reconhecidas e devidamente manejadas. Caso contrário, os adultos seguirão pela vida chorando inconscientemente pelo que não tiveram na infância. Isso fará deles pessoas incapazes de amar com maturidade. Vocês podem ver como esta situação passa de geração em geração”.

Podemos não parar para pensar sobre como anda nosso fluxo de contabilidade do amor em nosso interior. Mas é importante nos conscientizarmos do forte elo que existe entre as nossas ansiedades de infância e as dificuldades afetivas que enfrentamos enquanto adultos.

O ponto de partida para romper esta linhagem de amor imaturo encontra-se num exercício de mão dupla: se por um lado passamos a nos abrir para aceitar o fato de que nos faltaram experiências significativas de reconhecimento de afeto, por outro, ficamos cientes de que esses sentimentos de carência e abandono não nos levarão a lugar nenhum. Isto é, a intenção de admitir a dor está vinculada à decisão de superá-la, e não de recriá-la!

Remoer a dor infantil sem a correspondente vontade de sair dela é como andar para trás, isto é, estaremos repetindo assim apenas os padrões emocionais já conhecidos em vez de refinar nossa alma.

A dinâmica do querer ser amado transforma-se no desejo de amar quando nos conscientizamos de uma vez por todas de que não adianta querermos que as coisas sejam diferentes ou que as pessoas aprendam a amar com maturidade para sermos mais bem servidos em matéria de amor.

Quando nos dispomos a amar verdadeiramente, damos inicio à jornada do amor maduro. Esta é uma bela frase; no entanto, só terá sentido quando nos propusermos a redirecionar nossas emoções de abandono e carência, isto é, quando não temermos mais sentí-las.

É preciso voltar ao local do crime para desvendar o mistério. As autoras Eva Pierrakos e Judith Saly revelam, no livro Criando união, um método de autoconhecimento para aplicarmos nos momentos em que reconhecermos, por trás de nossa raiva, frustração e ansiedade, a dor de não termos sido amados na infância: “Quando sentirem a dor de não serem amados no problema atual, ela servirá para despertar a dor da infância. Pensando na dor presente, voltem ao passado e tentem reconsiderar a situação com seus pais: o que eles lhe deram, o que vocês sentiam de fato por eles. Vocês perceberão que, sob muitos aspectos, sentiam falta de algumas coisas que nunca viram antes com clareza - porque não queriam ver. Vocês descobrirão que essa carência deve ter sido dolorosa na infância, mas a mágoa pode ter sido esquecida no nível consciente. No entanto, ela absolutamente não está esquecida. A dor causada pelo problema atual é exatamente a mesma dor do passado. Agora, reavaliem a dor atual, comparando-a com a da infância. Finalmente, será possível perceber que ambas são uma só. [...] Depois de sincronizar as duas dores e perceber que elas são uma só, o passo seguinte é muito mais fácil”.

A cura, então, surge na medida em que reconhecemos que não somos mais tão indefesos diante da dor quanto pensávamos na infância. Como completam as autoras: “Já não precisarão ser amados como precisavam na infância. Primeiro, vocês adquirem consciência de que é isso o que ainda desejam, e depois já não buscam esse tipo de amor. Como vocês não são mais crianças, buscarão o amor de forma diferente, dando em vez de esperar receber”.

Quando filtramos a dor emocional por meio dos recursos já adquiridos na atualidade, vamos mesclando à dor passada a compreensão que nos faltava. Desta maneira, a necessidade de ser reconhecido pode ser substituída pela autovalidação. Do mesmo modo, a necessidade de expressar as emoções contidas poderá encontrar novos recursos de comunicação. Passamos a selecionar melhor as pessoas, e as situações nas quais poderemos finalmente nos tornar criativos e contribuir com nossa individualidade para o crescimento coletivo.

Em resumo, precisamos aprender a não temer nossas emoções fragilizadas pela falta de amor. Ao sentí-las, poderemos simplesmente nos posicionar positivamente e dizer: “OK, naquela época eu não tinha recursos para lidar com esta falta, por isso passei a pensar que não havia nada a fazer senão esperar passivamente por amor. Agora, posso agir, pois tenho minha consciência a meu favor, assim como a vontade de amar cada vez mais e melhor”.


Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa,
O livro das Emoções
e Mania de sofrer pela editora Gaia.


Fazedores de loucos



Os controladores/dominadores e a sua força; como lidar com eles.

É muito difícil de se entender porque as personalidades dominadoras e controladoras habilmente e quando menos se espera exercem um poder cego sobre determinadas pessoas, muitas vezes minando por completo qualquer possibilidade de manifestação pessoal. Porém, em determinado momento, como se fosse observado pelo filtro de um sonho e em lapsos de consciência, os presos neste tipo de realidade, ainda que sonambúlicos e assustados, retomam em flashes aspectos mais lúcidos de si mesmos, percebendo que estão apenas e somente existindo como robôs comandados.

- Escrevo aqui a pedido de algumas pessoas que se vêem nesta situação e já conscientes ainda manifestam dificuldade para lidar com estes tipos de personalidade.

Certa vez alguém me disse a seguinte frase: - “O pensamento do mais forte se sobrepõe ao do mais fraco”. Podemos ver este aspecto em várias áreas da vida, quer seja nos relacionamentos de casais, de pais com filhos, filhos com pais, irmão com irmão, amigo com amigo, sem falar ainda dos ambientes escolares e de trabalho.
Nos dias atuais, incontável número de pessoas deseja ter alguém que lhes diga como viver, que direcionamento tomar, quais escolhas são as melhores e mesmo o que comer.
Penso que este não é o caso de você que se interessou por este artigo.
Não poucas vezes o poder do outro é tão intenso que se acaba por desistir do comando da própria vida. Um torpor sobre si mesmo se instala e efetivamente o existir deixa de ser pessoal e o individuo acaba tornando-se a extensão dos desejos e metas do controlador/dominador.

Mas o que rege a postura da presa dominada? Seria o medo do não amor? Uma possível rejeição? Ou mesmo o medo de não existir, de não se reconhecer fora deste contexto?
Deve-se ter um cuidado especial para não sucumbir neste tipo de armadilha.

A saber, personalidades controladoras freqüentemente usam este tipo de ferramenta para com o outro por estarem cegamente presas a dogmas. São consciências com mente militar e que de longe não sabem lidar com a criatividade, fazendo uso deste tipo de poder para impedir o outro de ser criativo. Aqui neste tipo viciado de comando, existe uma dificuldade e um medo atroz em relação à morte, mas é aqui que paradoxalmente não há vida. Porque para que a existência se valide, é necessário que o novo sempre se instale e que o mesmo - na seqüência - seja reconhecido e ampliado para um outro tipo de forma ainda desconhecida. Isto é criatividade. Isto é vida pulsando.

- O que fazer para sair deste padrão?

Quando você receber uma ordem, ou mesmo um olhar de controle, a tática é a da desestabilização deste suposto poder. Quebre a linha de comando perguntando: “O quê?”, como se não estivesse entendendo a lógica do comando/controle. Tenha coragem para refletir internamente e leve a sério o que de fato faz sentido para você. Diga que não concorda se for este o caso. Fale sobre o caminho diferente a trilhar, bem como sobre a possível diferença que pode causar. Abra espaço para o “não sei”, sem medo. Crie coragem e responsabilize-se por você mesmo. Pelo que sente, bem como pelas suas idéias criativas. Aprenda a silenciar no intuito de ouvir os seus sentidos interiores. Ouse ser o seu melhor amigo. Ame-se.
Atente para o não debate. Lembre-se da comunicação não violenta. Note que se você tentar impor seu ponto de vista estará entrando em uma arena que não é sua. Apenas o exponha e em hipótese alguma retruque a controvérsia normalmente inquestionável.
Depois deste tipo de exercício e de certamente descobrir que você pode sobreviver, observe que não existe erro algum em qualquer atitude independente que possa tomar desde que você continue se observando e conscientemente deseje rumar para o seu melhor.
Lembre-se que se divorciar de qualquer padrão conhecido, por pior que este possa ser, sempre será um ato de coragem. Apesar de você levar consigo toda a sua identidade anterior, certamente uma grande transformação interior se instalará em você e pode ser que em alguns momentos você nem se reconheça ou nem acredite que foi o que foi. Mas esse tipo de aventura da consciência é só para quem ousa de modo consciente e aposta em si mesmo. É só para quem de verdade e deliberadamente se dá a chance de ser diferente e não espera que a vida o atravesse. Uma coisa é certa, esta é uma decisão que por si só atravessa a própria vida e abre um espaço único de transformação pessoal. Abre espaço para o novo de si mesmo fortalecendo tanto o eu como o self de modo impensável. Mas isso serve apenas para quem ousa. E você, tem a coragem?

- Eu aposto que sim. Aposto em você.

Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga e atua em seu consultório em São Paulo.
Atendimentos em EMDR, Psicoterapia breve, Quântica e
máquina SCIO - a máquina da saúde.

Autora do Livro: Projeto Secreto Universos


Eu nunca estou transtornado pela razão que imagino


Por Dr. Gerald G. Jampolsky

A maioria de nós tem um sistema de crenças baseado em experiências do passado e nas percepções dos sentidos físicos. Já pensou algum dia que aquilo em que acreditamos é aquilo que vemos? Ou, nas palavras do comediante Flip Wilson, “o que você vê é o que você tem”.

Como nossos sentidos físicos parecem retransmitir informações do mundo externo para o nosso cérebro, podemos acreditar que o nosso estado de espírito é inteiramente controlado pelo feedback que recebemos. Essa crença contribui para uma percepção de nós mesmos como entidades distintas e separadas, em grande parte isoladas, que se sentem sozinhas num mundo indiferente e fragmentado. Isso pode nos deixar a impressão de que o mundo que vemos nos leva a sentir irritação, depressão, ansiedade e medo. Esse sistema de crenças pressupõe que o mundo externo é a causa e nós, o efeito.

Vamos considerar a possibilidade de que esse tipo de raciocínio está de cabeça para baixo e da frente para trás.

Que aconteceria se acreditássemos que o que vemos é determinado pelos pensamentos de nossa mente? Talvez pudéssemos acalentar uma idéia que, nesse momento, parece pouco natural e estranha a nós, isto é, que nossos pensamentos são a causa e o que vemos é o efeito. Nesse caso, não faria sentido acusar o mundo, nem os que habitam nele, das misérias e sofrimentos que sentimos, porque, então, seria possível considerar a percepção como “um espelho e não um fato”.

Imagine também que a mente pode ser comparada a uma câmera de cinema que projeta nossos estados interiores para o mundo.

Quando a mente está cheia de pensamentos desagradáveis, vemos o mundo e seus habitantes como desagradáveis. Por outro lado, quando a mente está em paz, o mundo e seus habitantes nos dão a impressão de estarem em paz. Podemos escolher acordar de manhã e ver um mundo acolhedor por meio de óculos que filtram tudo, exceto o Amor.

Talvez conviesse questionar a nossa necessidade de tentar controlar o mundo externo. Podemos, em vez disso, controlar permanentemente o nosso mundo interior escolhendo os pensamentos que queremos ter na cabeça. A paz da mente começa com nossos próprios pensamentos e estende-se para fora. É a partir da nossa paz da mente (causa) que surge uma percepção da paz do mundo (efeito).

Todos temos o poder de dirigir a mente e substituir os sentimentos de irritação, depressão e medo pelo sentimento de paz interior.

Sou tentado a acredita que estou irritado por causa do que outras pessoas fazem ou por causa das circunstâncias e eventos que parecem estar fora do meu controle. Posso sentir que estou sendo perturbado sob a forma de raiva, ciúme, ressentimento ou depressão. Na verdade, todos esses sentimentos representam uma forma do medo que sinto. Quando reconheço que sempre tenho a escolha entre sentir medo e sentir o Amor estendendo o Amor a outros, não preciso mais me sentir perturbado por nada.

Exemplo

Durante muitos anos sofri de uma dor nas costas crônica que me deixava relativamente incapacitado. No decurso desses anos, não consegui jogar tênis, nem fazer jardinagem, nem muitas outras coisas que gostaria de fazer. Fui hospitalizado várias vezes e, a certa altura, o neurocirurgião queria fazer uma operação no que era chamado de “doença orgânica das costas” - um disco degenerativo. Optei por não fazer a cirurgia.

Pensei que estava mal por causa da dor e da tensão gerada por ela. Então, certo dia, tive a impressão de que havia uma vozinha dentro de mim que dizia que, mesmo que eu tivesse uma síndrome orgânica nas costas, eu é que estava causando o meu sofrimento. Era claro para mim que meu problema nas costas piorava quando eu estava sob tensão emocional, principalmente quando sentia medo e estava ressentido com alguém. E não estava mal pela razão que eu supunha.

À medida que fui aprendendo a me libertar de meus ressentimentos com a prática do perdão, minha dor desapareceu. Agora não tenho mais limitações para as minhas atividades.

Eu achava que ficava mal por causa da dor nas costas. Mas descobri que ficava mal por causa de relacionamentos mal resolvidos. Eu tinha me deixado persuadir de que o corpo controla a mente, em vez de perceber que a mente é que controla o corpo. Tenho certeza de que a maioria das pessoas com problemas nas costas têm o potencial de aprender a se libertar de seus ressentimentos, suas culpas e medos e, por meio do perdão e a outros e a si mesmas, curar a si próprias.

Ao longo de todo o dia, sempre que se sentir tentado a ter medo, lembre-se de que pode sentir Amor em lugar de medo.


Texto extraído do livro Amar é libertar-se do medo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Tudo que dou é dado a mim mesmo


Dar é receber, é a lei do Amor. Segundo essa lei, quando damos amor aos outros, ganhamos, e o que damos recebemos ao mesmo tempo.

A lei do Amor é baseada na abundância; estamos completamente repletos de Amor o tempo todo e nossas reservas de Amor estão sempre cheias e transbordantes. Quando damos Amor aos outros incondicionalmente, sem expectativas de retorno, o Amor, aumentamos o Amor que existe dentro de nós e todos ganham.

A lei do mundo, por outro lado, diz que perdemos quando damos alguma coisa. Isso é o mesmo que dizer que, quando damos alguma coisa, não podemos tê-la mais e sofremos sua perda.

A lei do mundo baseia-se na crença da escassez. Diz que nunca estamos realmente satisfeitos. Continuamos nos sentindo vazios procurando o Amor e a paz em qualquer forma externa através da qual passamos a considerá-los desejáveis.

O problema, naturalmente, é que nado do nosso mundo exterior vai nos satisfazer de forma contínua e total. De acordo com a lei do mundo, buscamos incessantemente, mas nunca encontramos o que queremos. Achamos muitas vezes que o nosso poço interior está vazio e que estamos passando necessidade. É então procuramos satisfazer nossas necessidades imaginárias por meio de outras pessoas.

Quando esperamos que os outros satisfaçam nossos desejos e eles nos decepcionam, inevitavelmente sofremos. Esse sofrimento pode assumir a forma de frustração, desapontamento, raiva, depressão ou doença. Por causa disso, é provável que nos sintamos presos numa armadilha, limitados, rejeitados ou atacados.

Quando estamos sentindo que não somos amados, quando nos encontramos deprimidos e vazios por dentro, encontrar alguém que nos dê Amor não é realmente a solução. O que ajuda é Amar alguém totalmente e sem expectativas. Esse Amor é, ao mesmo tempo, dado a nós mesmos. O outro não tem de mudar, nem nos dar coisa alguma.

O conceito distorcido do mundo é que você tem de ter Amor dos outros para sentir o Amor dentro de você. A lei do Amor é diferente da lei do mundo. A lei do Amor dez que você é diferente da lei do mundo. A lei do Amor diz que você é Amor e que, a medida que você dá Amor aos outros, você mostra a si mesmo quem é.

Hoje, permita-se aprender e sentir a lei do Amor.

Eu estava errada ao acreditar que poderia das a alguém outra coisa além do que quero para mim mesma. Como quero sentir paz, Amor e perdão, esses são os únicos presentes que posso oferecer aos outros. Não é caridade de minha parte oferecer perdão e Amor aos outros, em lugar de atacá-los. Oferecer Amor é, ao contrário, a única forma de aceitar o Amor para mim mesma.


Texto extraído do livro Amar é libertar-se do medo do Dr. Gerald G. Jampolsky – Ed Fundação Petrópolis.


Quando o amor acaba


O fim de uma relação amorosa nos sobrecarrega tanto psíquica quanto fisicamente; mas do ponto de vista evolutivo a montanha-russa emocional na qual embarcamos nessas situações tem um objetivo: nos preparar para novos recomeços.

O fim de um relacionamento afetivo costuma provocar uma revolução em nossa vida emocional. Principalmente quando o término nos pega desprevenidos – ou a decisão parte da outra pessoa. Um turbilhão de sentimentos como raiva, insegurança, carência, saudade, dor e desejo de vingança se misturam e nos invadem. Nesse momento atribulado, alguns tomam atitudes extremadas, se expõem, esperneiam, suplicam; outros se recolhem. Qualquer que seja a reação, é inevitável escaparmos do sofrimento. O rompimento nos sobrecarrega tanto psíquica quanto fisicamente – muitas vezes causando reações como uma espécie de “bloqueio” que pode durar semanas ou até meses.

Mas, pensando bem, não seria mais sensato e saudável – pelo menos do ponto de vista biológico – deixar logo de lado toda essa dor e recomeçar de uma vez por todas a busca por um novo parceiro para procriação? Certo, há questões psíquicas envolvidas, como a necessidade de realização do luto e do processamento de todo o aprendizado emocional que a situação traz. “Mas se toda a natureza trabalha no sentido de garantir a continuidade da espécie, por que, então, não desenvolvemos um método com o qual seja possível simplesmente descartar um romance malsucedido, sem tanto dispêndio de tempo e energia?”, questiona a antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutger, Nova Jersey.

Ela mesma admite que talvez nos aproximemos mais de uma resposta se nos voltarmos para o início do relacionamento – e, mais precisamente, ao momento em que nos apaixonamos. A utilidade evolucionária do encantamento que, por vezes, nos arrebata parece clara: nos concentramos totalmente em uma pessoa que escolhemos para o acasalamento, sem gastar tempo ou energia com assuntos secundários. “Mas o que se passa na cabeça de homens e mulheres apaixonados?”, pergunta-se Fisher. Para estudar a questão e tentar responder a essa pergunta, ela decidiu unir-se à neurocientista Lucy Brown, da Escola de Medicina Albert Einstein, e ao psicólogo Arthur Aron, da Universidade Estadual de Nova York.

O grupo recorreu à tomografia por ressonância magnética funcional, com a qual é possível acompanhar a atividade do cérebro. Enquanto estavam dentro do tomógrafo, os voluntários que consentiram em participar do estudo observavam, alternadamente, a foto da pessoa que amavam e a imagem de uma pessoa conhecida com quem tivessem um relacionamento afetivamente neutro. De vez em quando, eles tinham de resolver uma atividade como distração, para que sensações e sentimentos pudessem se atenuar. “Nessas diferentes situações comparamos a atividade cerebral e percebemos que as duas regiões cerebrais estavam especialmente envolvidas durante a observação do amado: partes do núcleo caudado e da área tegmentar ventral (ATV) direita no mesencéfalo.

IRONIAS DA NATUREZA

É interessante notar que em ambas as regiões há células neurais que se comunicam através da substância mensageira, a dopamina, e reagem de forma sensível àquilo que causa bem-estar – como alimentos saborosos, por exemplo – ou mesmo à possibilidade de experimentá-los. O fato de a paixão estar relacionada a esse “sistema de recompensa”, indica que o que estamos habituados a chamar de “sentimento” talvez seja, na verdade, um “estado de motivação” para a busca de algo – comparável à fome, que nos leva a buscar e consumir alimentos. Se pensarmos assim, o cenário fica menos romântico. Afinal, talvez não nos apaixonemos (como muitas vezes gostamos de pensar) em razão de uma trama bem engendrada do destino ou dos belos olhos do outro, de seu charme e de sua sensualidade. Sob essa óptica o encantamento se vale, antes, de mecanismos neurológicos cuja função é aplacar uma necessidade biológica. E garantir a sobrevivência da melhor forma possível.

Há alguns anos, a equipe de Fisher estudou a atividade cerebral de -pessoas apaixonadas, porém infelizes, que estavam sofrendo profundamente pelo fim de um relacionamento amoroso. Embora os pesquisadores reconheçam não saber com precisão o que se passa no cérebro das pessoas nessas situações, admitem que, aparentemente, a elevada atividade na ATV e em regiões do núcleo caudado ligadas a ela, ativas quando o relacionamento parecia ir bem, ainda se mantém. Será então que continuamos amando, apesar de termos sido abandonados?Psiquiatras dividem o processo de separação em duas fases: primeiro vem o protesto; depois, o desespero. Durante a fase de protesto, em geral a pessoa abandonada tenta obstinadamente recuperar o objeto de seu amor.

Tenta entender o que deu errado e como poderia reacender o interesse do outro. Algumas chegam a fazer cenas dramáticas diante do ex-parceiro; outras choram sozinhas, saudosas e, por algum tempo, não vêem nada no mundo que lhes atraia a atenção. Qualquer que seja a reação, porém, em vez de desaparecer, a paixão parecer crescer. Na base dessa reação estão processos neurais. Segundo os psiquiatras Thomas Lewis, Fari Amini e Richard Lannon, da Universidade da Califórnia em São Francisco, a reação de protesto está atrelada à dopamina e à noradrenalina. Em experiências com animais, elevadas concentrações desse neurotransmissor são associadas não apenas ao aumento da vigilância, mas também fazem com que o indivíduo solitário identifique a falta e busque o que necessita. O fato de a concentração da dopamina aumentar justamente logo após o abandono poderia esclarecer por que o interesse pela pessoa perdida fica mais intenso nessa fase. Além disso, o neurocientista Wolfram Schultz, da Universidade Suíça de Fribourg, descobriu há alguns anos o que acontece no cérebro dos macacos quando uma guloseima que lhes havia sigo apresentada “desaparece” repentinamente: neurônios do sistema de recompensa passam a trabalhar por um período especialmente longo, como que para suprir (ou tentar entender) a perda.

Mas que ironia da natureza! Mal se deixa de ter acesso ao objeto do amor, intensifica-se justamente a atividade daqueles circuitos cerebrais que provocam o desejo mais pronunciado. Mas não é só o mecanismo de recompensa que fica severamente esgotado na primeira fase de privação amorosa. Além do desejo intensificado, surge o medo, como se os indivíduos estivessem mais expostos e vulneráveis. Segundo o neurocientista Jaak Panksepp, da Universidade Estadual Bowling Green, em Ohio, nos mamíferos há uma reação neuronal de pânico em cadeia quando a mãe se ausenta. Segundo o pesquisador, nessas situações os filhotes se tornam imediatamente inquietos, choram e apresentam palpitações.

Nos humanos, resquícios mentais dessa experiência podem ressurgir quando ocorre uma nova separação, ativando tanto mecanismos psíquicos quanto cerebrais.Quase sempre o parceiro que não queria a separação é tomado, em alguns momentos, pela fúria – mesmo que a relação tenha terminado de forma transparente e sincera. O psicólogo Reid Meloy, da Universidade da Califórnia, em San Diego, denomina essa reação abandonment rage (raiva do abandono). O fenômeno também parece outro estranho capricho do processo evolutivo, se considerarmos que a ira ou o ódio dificilmente farão o desertor voltar.

E como o amor pode se transformar tão repentinamente em ódio? Se examinarmos bem, os dois sentimentos não são antagônicos – o oposto do amor seria o desinteresse. Aparentemente, a raiva do abandono não exclui o amor. O seguinte experimento demonstra que amor e ódio estão muito próximos um do outro: se estimularmos eletricamente o circuito de recompensa no cérebro de um gato, ele expressa forte sentimento de bem-estar. Porém, assim que interrompemos a estimulação, o animal arranha e morde. Esse tipo de reação a expectativas não correspondidas é conhecido como “resposta de frustração-agressão”.

De alguma forma, parece que nossos antepassados desenvolveram esse infeliz curto-circuito neuronal entre amor e ódio – talvez com o objetivo bem prático de solucionar problemas de procriação. Provavelmente, todas as etapas vividas convergem justamente para esse mecanismo – que nos possibilita de fato encerrar um relacionamento amoroso fracassado para que possamos ousar um novo começo. Além disso, é a raiva do ex que faz com que os pais, no caso de uma separação, lutem tão intensamente pelo (que acreditam ser o) bem-estar de sua prole.

Quantas vezes, homens e mulheres anteriormente equilibrados se transformam repentinamente durante uma separação, tentando conseguir o que acreditam ser “o melhor” para seus filhos, da pior maneira possível. Nos Estados Unidos há juízes que mandam instalar um botão de emergência em sua mesa, caso os brigões que estão se divorciando resolvam se agredir fisicamente durante a audiência. Mas, em algum momento, as pessoas desistem. E aí inicia-se a segunda fase da separação: é o momento de lidar com a perda e resignar-se. Nessa fase, os mais propensos ao uso de álcool podem recorrer à substância; outros se isolam ou passam a maior parte do tempo apáticos. “Em 1991, um grupo de sociólogos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, entrevistou 114 homens e mulheres que tinham sido deixados por seus amados nas oito semanas anteriores. Mais de 40% sofria de depressão. Dos que receberam esse diagnóstico, 12% classificaram a patologia como mediana ou intensa”, observa Helen Fisher.

A fase de resignação também se reflete na rede de recompensa neuronal. Filhotes abandonados por suas mães, que inicialmente protestaram e entraram em pânico, mais tarde experimentam um estado de resignação, uma espécie de letargia, em “resposta de desespero”. Quando esses animais compreendem que suas esperanças não serão mais realizadas, as células produtoras de dopamina no mesencéfalo reduzem sua atividade. A falta desse neurotransmissor, por sua vez, leva ao desânimo e, nos casos mais graves, à depressão.

Num primeiro momento, assim como o “amor-ódio”, o desespero também parece contraproducente. Para que perder tempo com aflições? Alguns especialistas, porém, acreditam que a depressão se desenvolveu como mecanismo de superação. Existem toneladas de teorias sobre esse tema. Uma hipótese extremamente interessante é defendida pelo antropólogo Edward Hagen, da Universidade Humboldt de Berlim, e pelos biólogos Paul Watson e Paul Andrews, da Universidade do Novo México, assim como pelo psiquiatra Andy Thomson, da Universidade da Virginia. Segundo eles, o alto ônus psíquico, físico e social causado pela depressão tem sua utilidade: seus sintomas funcionam como claro sinal de que a pessoa afetada precisa urgentemente de apoio daqueles que a rodeiam.

Imaginem uma moça do período paleolítico cujo companheiro se junte abertamente a outra mulher. No início, ela protesta furiosa tentando forçar seu parceiro a abandonar o affair. Ela pede ajuda a amigos e aos companheiros do clã, mas suas súplicas não são atendidas. Por fim, ela entra em profunda depressão. Isso faz com que a família finalmente expulse o homem infiel. Eles apóiam a jovem abandonada até que ela reúna forças suficientes para procurar um novo companheiro e conseguir novamente colaborar com a alimentação e os cuidados das crianças.

A depressão, porém, oferece mais uma vantagem evolucionária: nos obriga a encarar os fatos como são. Pessoas depressivas vivem aquilo que o psicólogo Jeffrey Zeig, da Fundação Milton H. Erickson, em Phoenix, Arizona, chama de “falha da negação”. Somente a depressão leva uma pessoa a aceitar finalmente o apoio oferecido ou a tomar uma decisão que, em última instância, pode acabar tendo efeito positivo sobre suas chances de sobrevivência e procriação.

A natureza humana tem bons motivos para ser moldada de forma que soframos massivamente pela privação repentina do amor – no início, para que possamos protestar e tentar recuperar o objeto de nosso afeto e, por fim, quando nada disso funciona, para que deixemos de lado esse objeto e possamos recomeçar.

Por Aparecida Souza Corrêa

Texto extraído do blog amigos de Freud.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Energia extrafísica


“Somos apenas uma gota no oceano, mas o oceano não seria o mesmo sem essa gota”

Madre Teresa de Calcutá


Matéria interessantíssima extraída do livro Energia – Novas dimensões da bioenergética humana de Robson Pinheiro.


Quando se analisa o ser humano sob a ótica da ciência holística, ele é considerado uma unidade biológico-energética e psicológico-espiritual.

Na matéria a seguir temos uma visão extrafísica fantástica, com psicografia de um dos mais renomados nomes da espiritualidade, André Luiz. Abram suas mentes e deleitem-se com os ensinamentos.

Fatores emocionais extremos

Alguns fatores dificultam a absorção das energias que mantém o equilíbrio vital. No planeta Terra, no presente momento evolutivo, estão incorporados nos corpos humanos egos ou consciências, em sua grande maioria, carentes de reeducação emocional. Pela simples observação, deduz-se que as pessoas em geral são bastantes permeáveis ao descontrole emocional e energético, cujas bases remontam ao passado reencarnatório das multidões. Verificamos quanto as questões emocionais, com suas nuances e seus agravantes, interferem no tônus vital de cada um.

Grande números de dimensões extrafísica – às vezes até como pretexto para justificar seu comportamentos. Assim, teima em continuar negando ou desviando a atenção das próprias deficiências emocionais e da desorganização moral que traz impregnada em seu ser, num fenômeno clássico denominado pela psicologia como projeção. Muitos estão mergulhados num mar de emoções descontroladas ou vivem nos limites do equilíbrio emocional, mas não estão dispostos a encarar a própria debilidade, pois que é mais atraente creditar tais perdas, desgastes e danos energéticos a terceiros. Daí eleger causas mirabolantes, de natureza mística, extrafísica ou extra-sensorial, é um passo. Logo aparecem argumentos que creditam tais distúrbios à paranormalidade ou à mediunidade descontrolada, “não desenvolvida” etc... Dessa maneira, a um só tempo, sustenta-se o desequilíbrio emocional e obtém-se destaque para si, preenchendo a carência por atenção, pois há certo status em ser vítima de forças ocultas e “sobrenaturais”,não? Para esses indivíduos, parece que sim.

É muito comum encontrar esse tipo humano buscando soluções religiosas, prodigiosas e fantasiosas para a problemática que é intensa, psicológica e emocional. Ele imputa a um agente externo – seja um espírito ou um suposto trabalho de magia que visa prejudicá-lo – o próprio descontrole, desequilíbrio e, às vezes, até mesmo a fuga da realidade. Ao topar com pretensos terapeutas, guia sespitiruais desinformados e in capazes de variada espécie, com profundas tendências místicas, entrega-se a maiores desvarios, até desembocar em amargas decepções e tragédias pessoais. Eis como milhares, estacionados numa postura mística e sem nenhum senso prático da vida, entregam-se com facilidade e naturalidade impressionantes, à condução cega e perigosa de indivíduos cheios de segundas e terceiras intenções.

O caos emocional que não é trabalhado convenientemente acaba produzindo insatisfação, constrangimento e perda de tempo, com consequente aumento apreciável da problemática inicial. Adias indefinidamente o enfrentamento daquilo que incomoda, transferindo responsabilidades, é dos caminhos mais daninhos e drásticos que podem ser tomados. Com o passar do tempo, o ser constrói uma realidade paralela e, enredado em meio a tantas desculpas, justificativas e explicações que inventou para mascarar a fuga insensata de seus reclames internos, não sabe mais como se conduzir, perdendo as rédeas da própria vida. Evidentemente, vive quase sempre em estado de perda energética ou de pseudo-obsessão.

Muitas anomalias energéticas são geradas a partir de algumas emoções de caráter doentio, notadamente mágoa, ressentimento e medo excessivo, além de atitudes igualmente nocivas, como fuga, constrangimento e abatimento extremos. Fatores como esses criam algo semelhante a uma fuligem em torno do corpo psicossomático, dificultando a assimilação de energias externas ou limitando o poder de transmutá-las e absorvê-las, de modo análogo ao que ocorre com as ervas daninhas em meio à horta.

Nada pior que a mágoa para apagar o brilho da vida e a beleza da alma humana. Juntamente com as idéias errôneas e castradoras que se abrigam nas fontes do pensamento e das emoções, colabora para formar o panorama interno de infelicidade e desgosto profundos. Somem-se a isso os mecanismos de fuga da realidade – em geral da realidade interior – e das responsabilidades perante a vida, o destino e a conquista da realização pessoal... Pronto: está desenhado um quadro lamentável, que exige coragem, determinação e muito trabalho e apatia frente à vida e aos desafios que lhe são inerentes ocasionam o comprometimento do fluxo energético que sustenta a vitalidade orgânica, enquanto estiver debilitada, a pessoa mantêm-se em estado de desânimo incomum, em que predomina a depressão. O corpo psicossomático ou emocional termina por sucumbir, dado à falta de resistência a desequilíbrios que são intensos e, sobretudo, duradouros.

Ao contrário do que crê o senso comum, as consequências energéticas da emoção desajustadas são absolutamente concretas; repercutem na estrutura astral com tamanha violência, que causaria surpresa àqueles que imaginam a dimensão extrafísica como um plano diáfano, brando e suave. A realidade energética é muito mais dramática e grosseira – às vezes, até grotesca – do que faz crer a atmosfera fabulosa idealiazada por místicos e imaturos, a qual só existe nos contos de fada e nas descrições de um suposto paraíso, pregado pelas religiões.

Desajustes e anomalias emocionais de caráter mais ou menos duradouro produzem, num estágio inicial, uma espécie de fuligem em torno das células do corpo psicossomático, a qual não passa da simples condensação ou materialização de emoções e pensamentos desequilibrados.

Ao persistir a aglutinação dessa fuligem, com o transcorrer do tempo, dorma-se, num segundo instante, uma crosta que chega a revestir toda a estrutura etérica e astral, dependendo do caso.

Pessoas com tais características não se encontram aptas a desempenhar sequer as transmutações energéticas necessárias à própria saúde, quanto mais tarefas de doação de recursos fluídicos.

Carecem urgentemente de submeter-se à terapêutica bioenergética e emocional ou psicológica.

Porém, até que possa promover a recuperação parcial do reequilíbrio, o tratamento poderá se estender por um período mais dilatado, devido aos sérios danos que as emoções desequilibradas suscitam na contraparte etérica ou energética do homem.

O acúmulo de trabalho físico, emocional ou mental acaba por gerar um tipo específico de desgaste, que se assemelha, na prática, às consequências do roubo vital. O desgaste advindo do estresse e do cansaço se parece muitíssimo com os efeitos da absorção indevida e sem permissão do fator vital, fato este que poderá levar a pessoa a supor-se vítima de alguma espécie de vampirismo energético.

Muita correria, às vezes sem produtividade, além da convivência com o estresse do dia-a-dia, com um cotidiano acelerado por imposição de um ritmo frenético que virou marca da pós-modernidade, faz com que o desgaste atinja níveis alarmantes. Adicione-se a isso a exposição a situações desconfortáveis e a obrigação, para muita gente, de agir e conviver com situações contrárias à sua natureza e a seus gostos pessoais. Tudo isso representa uma ameaça à identidade emocional do indivíduo, de maneira a influenciar até mesmo a resposta imunológica de seu organismo físico.

Realizar tarefas de modo compulsório, sem satisfação e comportar-se com a obrigação de agradar os outros, como um subterfúgio para evitar complicações maiores nos relacionamentos, constituem estratégias arriscadas e insensatas. Provocam a perda de grande cota de vitalidade, que é desviada para sustentar as aparências e a mentira social. Como ase não bastasse, a pessoa perde a liberdade de ser o que é e o que deseja ser, forçando-se a abdicar de emoções, sentimentos e raciocínio para manter uma fachada de tranquilidade e equilíbrio. Tal estado de coisas faz com que seu sistema energético reaja de forma a cobrar a vitalidade despendida nessa maneira anormal de viver a vida. Por isso afirmo que, algumas vezes, é preferível se expor, brigar e gritar por suas idéias a implodir pelo estresse e cansaço emocional, produzido pela atitude de mascarar a realidade interna. De qualquer modo, é necessário um trabalho de autoconhecimento a fim de que o indivíduo aprenda a identificar as necessidades emocionais e a expressar sua identidade.

Ao analisarmos a vida de Cristo – considerado por muitos, inclusive por mim, como o maior psicoterapeuta da humanidade – notamos momentos em que ele eleva o tom de sua voz e repreende seus interlocutores, chegando mesmo a xingar tanto seus seguidores quanto doutores da lei, escribas e fariseus, todos representantes do establishment de então. Há relatos em que manifesta evidente raiva, como ao derrubar mesas de cambistas no templo.

Fatos como esses, descritos no Evangelho, não são apenas anotações de caráter religioso; ao contrário, trazem ensinamentos de grande proveito, sob o ponto de vista terapêutico. Mostram que há ocasiões em que a energia de insatisfação acumulada deve ser expurgada da intimidade do ser, a fim de não causar desequilíbrio.

Sob esse ponto de vista, não é inteligente abrigar emoções conflitantes e insatisfações, tampouco mascarar situações constrangedoras em nome de uma pretensa paz.

Em geral, essa maquilagem das emoções e a tentativa de vivenciar uma santidade irreal ou falsa produzem estresse emocional. A pessoa que disfarça assim sua verdadeira situação ou insatisfação acaba por implodir; o corpo físico se ressente, então, e as defesas imunológicas respondem de maneira deficiente, permitindo o desenvolvimento de elementos indesejáveis para a economia do organismo.

A depressão, tenha ou não raízes no assédio extrafísico, sempre é algo devastador na economia energética do indivíduo, com graves consequências também no que tange à química cerebral. Comumente, a pessoa que se entrega, em algum grau, aos estados depressivos perde cotas enormes de energia vital, principalmente porque sua mente passa a gravitar com insistência em torno de problemas, na maioria das vezes, de solução relativamente simples – os problemas, não a enfermidade.

Digo simples porque acredito que a maior parte desses problemas poderiam ser resolvidos com um sim ou com um não. Sem menosprezar a complexidade dos fatores que envolvem o quadro psiquiátrico denominado depressão, realmente estou convicto de que, ao menos em sua gênese, essa patologia está ligada a um traço comum de personalidade. Quase todos os pacientes de depressão são indivíduos que, ao longo do tempo, adotaram o hábito de adiar decisões preciosas para a sua saúde integral; essa é uma prática que responde por grande número de processos depressivos de longo curso. O indivíduo abstêm-se de tomar decisões na hora certa, com prudência e correção, embora saiba, muitas vezes, a resposta a seus questionamentos e conflitos existenciais. Ninguém passa incólume ao adiamento sistemático da tomada de decisões: quando se vê diante da problemática e, mesmo que de modo inconsciente, nota que abdicou do controle da situação e de sua própria vida, envolve-se na aura do pessimismo e termina em depressão.

Tive a oportunidade de observar também outros fatores que ajudam a compor o quadro das depressões. Entre eles, doenças prolongadas, perdas familiares e amorosas e bloqueios emocionais, entendidos como dificuldades em resolver-se ou tomar decisões que possam diluir suas emoções. Além disso, podem-se observar outras causas frequentes, tais como a visão reduzida da realidade e o confronto com a verdade da vida. Em certos casos específicos, existem de fato assédios conscienciais, em que notamos a clara participação de inteligências extrafísicas atuando n processo obsessivo, embora essa causa esteja entre as de menor número, comparadas àquelas que dependem exclusivamente da pessoa acometida.

No entanto, é conveniente observar que, qualquer que seja a razão do processo depressivo, ele vede ser considerado como doença da alma e, como tal, abordado de forma intensiva. A depressão fatalmente produz uma defasagem energética intensa. Essa perda de tônus vital deve-se aos pensamentos desgovernados e às emoções cristalizadas, que consomem as reservas energéticas do corpo, da mente e do duplo etérico, as quais passam a ser canalizadas para alimentar a problemática e o padrão mental decorrentes da situação de enfermidade. Depressão, portanto, está intimamente relacionada a defasagem energética, a perda de fluido vital em todas as suas manifestações.