domingo, 15 de março de 2009

O Prazer

A palavra prazer tem, para muitos, uma conotação pecaminosa, pois aprendemos desde cedo a relacioná-lo ao sexo e seus tabus.

Por que será que não somos educados para buscar o prazer da vida? Ao invés disso, o que mais ouvíamos era a necessidade de cumprir com obrigações e deveres.
Sem dúvida, nossos pais e educadores consideravam que estimular a procura do prazer, seria o mesmo que nos direcionar para uma vida de ócio e libidinagem.

A noção de prazer, obviamente, muda de acordo com a cultura de cada povo, mas existem prazeres simples que podem ser usufruídos por qualquer ser humano, seja qual for a sua origem.

Eles dependem, fundamentalmente, do olhar com que focamos a vida. Se mantivermos uma disposição interior de aproveitar cada momento e tudo o que ele nos oferecer, com entusiasmo e alegria, poderemos encontrar prazer nas situações mais banais de nosso cotidiano.

Uma boa comida, um bom vinho e a companhia de pessoas que amamos, é uma das mais preciosas dádivas que podemos obter da vida.
Mas ela não é a única, pois podemos também sentir prazer quando estamos em nossa própria companhia, deleitando-nos com um bom livro, uma música ou um filme que toque nosso coração.

São muitas as possibilidades de prazer que a vida nos oferece, a cada dia.
E, mesmo quando a realidade não se mostra tão fácil de ser encarada, devemos nos lembrar que, apesar dos problemas e das tristezas, ainda podemos nos manter receptivos aos prazeres que a existência quiser colocar à nossa disposição.

Se você é capaz de saborear e manifestar gratidão sempre que estiver experimentando um momento de prazer, certamente estará ampliando as chances de uma vida plena, onde o arrependimento e a culpa jamais encontrarão espaço para existir.

CELEBRE!

Pequenas coisas devem ser celebradas - o sorver o chá precisa ser celebrado. As pessoas do Zen criaram uma cerimônia do chá. Esse é o ritual mais belo já desenvolvido.

Existem muitas religiões e muitos rituais nasceram, mas não há nada como a cerimônia do chá - simplesmente sorver o chá e celebrá-lo! Apenas cozinhar o alimento e celebrá-lo! Apenas tomar um banho - deitar na banheira e celebrar; ou em pé, sob o chuveiro, e celebrar. Essas são pequenas coisas - se você insistir em celebrá-las, o total de todas as suas celebrações será Deus. Se você me perguntar o que é Deus, direi: o total de todas as celebrações - celebrações pequenas e mundanas.

Um amigo vem e segura a sua mão ou te abraça. Não perca essa oportunidade - porque Deus veio na forma da mão, do abraço, na forma do amigo. Uma pequena criança passa e ri. Não perca isso, ria com a criança - porque Deus riu através da criança. Você passa na rua e uma fragrância vem de um jardim. Pare ali por um momento e se sinta grato - porque Deus veio como fragrância.

Se você puder celebrar momento a momento, a vida se tornará religiosa - e não existe outra religião, não há necessidade de ir a qualquer templo. Então, onde você estiver é o templo, e tudo o que você estiver fazendo é religião."
OSHO, do livro, For madmen only.


Elisabeth Cavalcante é Taróloga, Astróloga,
Consultora de I Ching e Terapeuta Floral.
Atende em São Paulo.

Por que precisamos desenvolver o mundo interno tanto quanto o externo


Com a finalidade de enriquecer nossas reflexões sobre a relação entre o mundo interno e o mundo externo, selecionei mais um texto do livro Autocura Tântrica III (Ed.Gaia) de Lama Gangchen Rinpoche.

POR QUE PRECISAMOS DESENVOLVER O
MUNDO INTERNO TANTO QUANTO O MUNDO EXTERNO

A sociedade moderna investiu a maior parte de sua energia no cuidado com o mundo externo e, como conseqüência, testemunhamos nos últimos trezentos anos uma explosão de desenvolvimento externo material. Esse desenvolvimento trouxe resultados benéficos, como a eletricidade, as viagens aéreas, a eletrônica, intervenções cirúrgicas capazes de salvar vidas, etc. Entretanto, não podemos negar que trouxe também muitos resultados negativos e altamente perigosos, como as armas nucleares e químicas e a energia nuclear.
Talvez eu esteja enganado, mas, em minha opinião, as últimas gerações superenfatizaram o desenvolvimento externo material e o conseqüente conforto e riqueza físicos, e negligenciaram o cuidado com o mundo interno a ponto de quase esquecerem-se de sua existência.

Não estou sugerindo que devemos parar o desenvolvimento material ou as pesquisas científicas e tecnológicas. Sem a tecnologia, para muitas pessoas seria impossível viver em nosso planeta hoje. Entretanto, talvez devêssemos dar maior ênfase ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas e positivas. Um bom exemplo disso são as tecnologias de redução da poluição ambiental, como os conversores catalíticos, os métodos de reciclagem, etc. Se usarmos a tecnologia de uma forma positiva, teremos resultados maravilhosos, e não os resultados negativos que atualmente todos nós conhecemos. Também precisamos nos preocupar em começar a fazer um investimento semelhante em nossos recursos para desenvolver o mundo interior.

No Tibete, antes da invasão comunista em 1959, não dávamos muita importância ao cuidado com o mundo externo, pois estávamos sempre muito ocupados cuidando do mundo interior. Dançávamos com a impermanência de forma criativa e usávamos essa dança para relaxar (Ngelso) no espaço absoluto e unir nosso dia-a-dia ao mandala de cristal puro. Como conseqüência, desfrutávamos muito mais a regeneração e o relaxamento interior profundo Ngelso e a satisfação duradoura, a felicidade e a liberdade interior do que se pode conseguir seguindo e tomando refúgio apenas nos fenômenos relativos. Se pudéssemos todos aprender a tomar refúgio em ambos os níveis da realidade, o absoluto e o relativo, e a cuidar dos mundos externo e interno, nossa sociedade se tornaria mais pacífica, mais feliz, satisfeita e grandiosa que qualquer civilização antiga.

Nos últimos tempos, a sociedade contemporânea tem se esquecido totalmente do mundo interno, que está agora sofrendo profundamente, sempre chorando e com ciúmes do mundo externo. Com ciúmes e raiva, ele está reagindo violentamente e, já que seus gritos têm passado despercebidos, como um grupo terrorista, o mundo interno vem secretamente desenvolvendo e estocando bombas atômicas internas de emoções negativas. Essas bombas atômicas internas estocadas em nosso coração, canal central e chakras, podem explodir a qualquer momento, ameaçando destruir nosso mundo interno, os outros seres, nossa sociedade e o planeta.

As bombas internas de emoções negativas não são apenas uma ameaça à nossa saúde mental e física e à nossa paz interior; elas podem também destruir os frutos positivos do desenvolvimento científico e tecnológico. Por exemplo, devido à ganância coletiva, à cobiça pelo poder, egoísmo, etc., usamos a tecnologia de forma errada, criando armas de destruição em massa, como as armas atômicas, químicas e a laser; causamos uma imensa poluição interna e externa, o esgotamento dos recursos naturais, a destruição do meio ambiente e a extinção de muitas espécies.

Também nos níveis social e político, podemos ver nossa energia negativa explodindo e dando curso à devastação, resultando em mais e mais guerras, fome, pragas, desastres naturais, desigualdade e corrupção política e social, genocídio, uso de tortura, abuso dos direitos humanos, terrorismo, sindicatos internacionais do crime, abuso de drogas, alienação social, desintegração da família tradicional e das estruturas religiosas, políticas e educacionais, doenças físicas e sofrimentos mentais em constante crescimento.

As armas nucleares que hoje proliferam pelo mundo e que tanto nos aterrorizam são apenas um fraco reflexo externo dos instrumentos internos de destruição que trazemos no coração. Se fôssemos sábios, deveríamos nos aterrorizar com as bombas nucleares internas de ilusões estocadas em nós mesmos. Precisamos nos perguntar honestamente: o que motivou a sociedade moderna a criar armas nucleares capazes de destruir todos os seres vivos do planeta? Quem ou o que realmente tememos? Quem é nosso verdadeiro inimigo?

Temos que descobrir como desarmar os instrumentos mortais suicidas da raiva, inveja, orgulho, ganância, instabilidade mental, desejo e ignorância em nosso coração. Primeiro, precisamos reconhecer que possuímos um precioso corpo humano, um veículo que nos permite fazer o que quisermos nesta vida. Possuir um corpo humano como o nosso é, nos níveis externo, interno e secreto, uma oportunidade fantástica, que não deve ser desperdiçada. Se soubermos usá-la de uma forma positiva, poderemos praticar a Autocura Ngelso momento após momento, e chegar à autocura completa – o estado de Buda – no curto período de uma vida.

Por outro lado, se usarmos este corpo de uma forma negativa, trilhando o caminho da escuridão interna, cada momento poderá contribuir para nosso suicídio pessoal e planetário. Podemos escolher ngel – ir da escuridão para a escuridão e da luz para a escuridão – ou so, da escuridão para a luz e ou da luz para a luz. A decisão é nossa.

Ao compreendermos a preciosidade de nosso veículo físico, deixamos espontaneamente de tratá-lo como uma máquina e desenvolvemos um genuíno interesse por cuidar dele e começar a aprender a usá-lo de uma forma positiva.

Por Bel Cesar

A dor que não vai embora.


Por Bel Cesar

Quem já não se pegou dizendo: Não acredito que isso ainda me vulnerabiliza... já devia ter superado essa dor!

Quando dizemos que não aguentamos mais sofrer, estamos à beira de mudar. Mas, para nos libertarmos da dor que resta, há algo que ainda temos de fazer: permitir sua existência para que ela depois se vá.

A dor que não vai embora é aquela que não foi sentida, vista e reconhecida. Aquilo que dói revela em nós algo que não gostamos de olhar: não termos sido vistos da maneira que gostaríamos. Nem pelos outros, nem por nós mesmos!

A dor que não vai embora clama por atenção e empatia e, por isso, cresce diante de críticas e julgamentos. Para nos aproximarmos dela, teremos que deixar de lado o desejo de justiça dirigido ao passado e olhar para frente. Se continuarmos a carregar as mágoas do passado, estaremos fadados a reencontrá-las no presente ou no futuro.

Mas simplesmente racionalizar a dor não a faz partir. Pois há um certo caráter emocional que a nutre e a faz crescer. Teremos, então, que usar de método afetivo: amar a dor.

Não se trata de ter uma atitude masoquista, mas, sim, de aceitá-la. Ao reconhecermos nossa indignação diante da própria dor, estaremos mais próximos de nossa verdadeira condição interior.

Como diz Naomi Remen, em seu livro As bênçãos de meu avô: A dor que não é sofrida transforma-se numa barreira entre nós e a vida. Quando não sofremos a dor, uma parte nossa fica presa ao passado.

Muitas vezes, tememos entrar em contato com certas lembranças que nos fazem sofrer. No entanto, a resistência à dor mostra-se maior do que a sensação original. Temos medo de sentir e de sermos destruídos por ela, mas é ao senti-la que ela se dissolve.

O convite deste texto é lembrar que podemos penetrar na dor e sair dela melhor do que estávamos!

Cabe ressaltar que esta proposta de penetrar na dor não se refere a algo como mergulhar num precipício, mas, sim, de sentir a dor apenas para superar os preconceitos e resistências em relação a ela. Cada um, a seu tempo, sabe como fazê-lo para não se perder na dor outra vez. Para tanto, há um método a seguir: contornar a dor até que você esteja pronto para encontrá-la.

Assim, podemos rodear a dor, como os antigos footings, aos domingos nas cidades do interior, onde os rapazes e moças se cortejavam dando voltas na praça em direções opostas e só quando, então, estavam prontos para se aproximar é que sentavam nos bancos para se conhecer melhor. Como disse uma tia minha, a segunda volta era uma grande emoção, pois nela estava a chance da confirmação do encontro de olhares...

A cada volta, nos aproximamos mais de nossa meta. Aprimoramos nosso olhar. Suavizamos as angústias que surgem antes de entrar em contato direto com nosso alvo.

Quando estamos calmos, aproximamos-nos naturalmente nos aproximamos do centro, pois as barreiras de defesa, que criavam os contornos à sua volta já não serão mais tão sólidas. Menos resistentes, já não tememos tanto o que antes parecia tão ameaçador. Quando compreendemos a dor, não estamos mais à mercê dela. Podemos nos libertar da dor à medida que recebemos a mensagem que ela queria nos dar.

Um ditado budista diz: Não se apegue, nem rejeite, então tudo será claro. Podemos penetrar na dor sem nela nos perdermos. A idéia é poder tocá-la com uma atitude amorosa. Por isso, se ao sentir a dor começarem os discursos mentais de revolta a seu respeito, é hora de sair dela novamente. E de darmos mais voltas em torno da praça para deixar espairecer a ansiedade, esvaziar os excessos e criar coragem novamente.

Uma vez que nos aproximamos afetivamente de nossa dor, estranhamente, deixamos que ela parta.