quarta-feira, 23 de março de 2011

Quando o esforço é excessivo


Esta noite, sonhei que havia me proposto a fazer um recital de piano em homenagem à minha avó que havia falecido. Foi um sonho tenso, no qual eu resistia em admitir que não sabia mais tocar piano. Sofria pelo esforço excessivo de tentar estar preparada para algo que eu, de fato, inconscientemente sabia que não estava. Mas foi quando me deparei com o piano que seria usado para o recital que relaxei: ele estava velho e desafinado... havia uma boa desculpa para eu me sentir aliviada... eu não poderia tocar nele! Compreendi então que não apenas eu não estava pronta, mas as condições também eram inapropriadas! Em seguida, passei a buscar uma nova solução para homenagear minha avó: fui perguntar às pessoas que viriam ao recital como elas poderiam participar da cerimônia...

Este sonho me fez pensar sobre a importância de explorarmos mais os recursos à nossa volta quando nos sentimos despreparados diante de um desafio.
Quando nosso esforço torna-se excessivo, é sinal de que nos tornamos rígidos e, portanto, há algo que devemos mudar; do contrário, não teremos força para seguir adiante.

Nossas metas podem continuar as mesmas, mas o modo de atingi-las deve ser alterado: podemos encontrar uma maneira de sermos mais realistas de acordo com as nossas condições e habilidades.
São tantas as vezes que nos auto-impomos expectativas exageradas que nem nos damos conta de que já ultrapassamos nossos limites!

Quando a tendência de abusar de nossas próprias forças torna-se um hábito, já nos distanciamos de nós mesmos, paramos de nos ouvir, perdemos a capacidade de nos alertar de que é hora de voltar!

Ao escrever esta frase, me veio à mente uma imagem clara desta idéia: minha filha tem um cão (da raça Golden Retriever) que adora nadar no mar em direção ao horizonte. Ela fica apreensiva ao vê-lo indo embora, fascinado em nadar sempre em frente, pois teme que ele não tenha forças para voltar. Então, grita inúmeras vezes por seu nome chamando-o de volta. Creio que temos que fazer o mesmo conosco mesmos quando já não mais medimos esforços em seguir nossos objetivos. Muitas vezes, estamos tão fascinados pelos horizontes que se abrem à nossa frente que esquecemos de olhar como andam nossas forças!

Não se trata de pensar pequeno; podemos (e devemos) ter metas elevadas como a de atingir a iluminação em benefício de todos os seres, mas se não reconhecermos nossos limites estaremos fadados a nos esgotar.

O medo e a inquietação são sinais de alerta, informando que ultrapassamos nossas capacidades. Eles nos mostram onde estamos frágeis e vulneráveis para seguir nosso combate. Quando algo nos deixa inquietos, significa que estamos perdidos: precisamos nos reorientar, pois provavelmente a sede ao pote nos enrijeceu. Precisamos nos tornar flexíveis novamente, ver o caminho sob um novo prisma. No caminho da evolução interior, precisamos constantementedesaprender para voltar a aprender!

Em vez de nadar alucinadamente em direção às nossas metas, podemos parar para resgatar nossas forças antes que elas se esgotem, bem como para rever nossas estratégias antes que elas se tornem exigentes demais.

Creio que isso seja particularmente importante quando estamos engajados em fazer mudanças radicais em nossa vida: quando queremos nos divorciar, mudar de emprego, de cidade ou até mesmo quando sabemos que estamos diante da morte. Não precisamos nos intimidar diante dos obstáculos, mas aceitar o quanto e onde estamos despreparados é, em si, uma atitude saudável que irá sempre nos ajudar.

Admitir que nossos esforços são excessivos é, com certeza, o primeiro passo. Em seguida, precisamos nos abrir para um novo aprendizado. Como o sonho me inspirou, uma boa dica pode ser a de buscar ajuda junto a outras pessoas! Por exemplo, podemos começar tendo a curiosidade de saber como outras pessoas enfrentaram desafios semelhantes aos nossos. Assim como diz Dugpa Rinpoche: Indo em direção aos outros, podemos descobrir a nós mesmos.

Por Bel Cesar


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