terça-feira, 29 de março de 2011

Corrigir a rota e exercer o livre-arbítrio


Existe livre-arbítrio? É possível mudar nosso destino? As estrelas comandam nossa vida? O destino é pré-traçado? O que podemos fazer para cumprir nossa missão e corrigir os erros do passado?

Estas e outras tantas perguntas são repetidas exaustivamente em meu consultório pelos clientes (ou pacientes?) que me procuram para uma orientação astrológica. Geralmente, numa primeira consulta, eu costumo fazer uma análise mais abrangente, uma espécie de 'pacote', incluindo em minha orientação não somente os traços principais do mapa natal da pessoa, mas também a indicação das influências astrológicas que estarão em seu caminho nos meses e eventualmente nos anos vindouros. Podemos examinar o mapa com a visão da astrologia convencional, a qual afirma que nosso caráter é determinado pela posição dos planetas e estrelas no momento do nascimento. Esta astrologia é bastante determinista.

No entanto, a astrologia cabalística afirma que as decisões sobre trilhar este ou aquele caminho estão em nossas mãos. Nós temos livre-arbítrio. Como dizia C. G. Jung: 'Livre arbítrio é fazer bem feito aquilo que somos obrigados a fazer'! Eu eliminaria o 'obrigados a fazer' e o substituiria por 'escolhemos fazer'!

Devemos convir que as nossas escolhas sejam determinadas por alguns fatores básicos, ou seja, por nosso caráter e nossa forma de pensar e agir. Devemos também aceitar de início que o espírito escolhe o momento astral adequado para o seu desenvolvimento e desta feita, devemos concluir que nossas escolhas passadas determinam o ponto de partida de nossa caminhada atual. Do mesmo modo, concluímos que nossas escolhas atuais irão determinar as nossas futuras caminhadas!

Os cabalistas afirmam que desde o inicio dos tempos tivemos que fazer escolhas. Eles consideram que a humanidade (o Homem Adão Kadmon, que vivia no Paraíso) escolheu se afastar da Luz por causa do seu desejo de aprender a ser ele próprio 'gerador de Luz'. De fato, no inicio, o Homem só recebia a Luz, e se sentia preenchido e realizado. Porém, ao receber a Luz, ele recebeu também o 'desejo de gerar Luz' e num belo momento, resolveu ser dono do seu próprio destino e se separar da Luz inicial. Este foi o primeiro ato de 'livre-arbítrio' do Homem. E esta atitude o obrigará, encarnação após encarnação, a compartilhar a Luz com os outros homens.

Adão disse: "Se eu sou igual ao Criador, eu também posso ser gerador de Luz!" e, então, ele se tornou responsável por seu próprio destino. Certamente, nosso espírito, ao encarnar, precisa fazer uma longa caminhada para merecer voltar para o 'colo do Pai', para a Luz Infinita primordial. E ao longo das encarnações, este espírito precisará de um corpo físico e terá particularidades e circunstâncias a superar. Ele fará boas ou más escolhas, e nem sempre acertará o caminho de volta! A cadeia das encarnações é proveniente do 'mundo dos desejos', situado e representado pela Lua que na Cabala é relacionada com a Sefiroth de Yesod, de nº 09. (leiam mais sobre Cabala e a Arvore da Vida no meu site pessoal).

Por essa razão, quando fazemos uma análise cabalística do mapa natal, (uma análise mais espiritualizada e menos mundana) podemos identificar melhor quais serão os pontos principais de nossa caminhada e identificar também nossa bagagem atual, nossos obstáculos. Com este conhecimento, será mais fácil fazer nossas escolhas.

Costumo sempre comparar nossa jornada na Terra como sendo um 'passeio' do espírito numa carruagem. O espírito é o passageiro de uma carruagem (corpo) que lhe é emprestada pelos pais para lhe fornecer o DNA Físico. Este DNA físico é principalmente identificado pelo signo Ascendente e pelos planetas que ali se encontram.

A carruagem pode ser adequada -ou não-, ao espírito (identificação solar), mas será com ela que ele precisará integrar-se e percorrer sua caminhada. Então o espírito/Sol entrega um roteiro a um cocheiro/Lua que cuidará da carruagem e também dos cavalos, que o levarão rumo à sua meta derradeira. O espírito/Sol conhece o roteiro e conhece também quais serão os obstáculos que ele terá que enfrentar ao longo do caminho.

Porém, muitas vezes, ele 'adormece' e deixa que o cocheiro/Lua siga a sua rota, sem sua interferência. Desta forma, o cocheiro/Lua poderá errar o caminho, se perder, trilhar rotas inadequadas e finalmente poderá sucumbir aos condicionamentos e necessidades dos cavalos (instintos), poderá quebrar uma roda da carruagem/ASC e poderá sucumbir, levando a carruagem para um caminho inadequado.

Devemos aceitar, porém, que os obstáculos estão no nosso caminho para nos fazer evoluir, para nos ensinar algo que nosso espírito necessita. Não é isso que pregam todas as filosofias espiritualistas? Porém, como enfrentaremos os obstáculos se estamos 'adormecidos'?

Caro leitor, se a astrologia convencional lhe diz que 'você é vítima do seu destino', não acredite! As estrelas não determinam nosso destino, elas simplesmente indicam o caminho a seguir. Afinal, um bom navegador deve conhecer o caminho das estrelas, para não se perder no mar, não é mesmo? Se seguirmos rumo ao Sul, procuraremos o Cruzeiro do Sul, se estivermos no hemisfério norte, procuraremos a Estrala Polar, e assim, nos ajudando com as outras constelações, seremos guiados para nosso destino. Deus colocou o céu sobre nossa cabeça para escrever mensagens, dizem os sábios. A astrologia lê e interpreta essas mensagens.

A astrologia cabalística, em particular, possui uma ferramenta (entre outras) muito poderosa para ajudar você a encontrar o 'seu rumo'. No Mapa Natal existem dois Nodos Lunares, o Nodo Sul e o Nodo Norte que os cabalistas chamam de Tikkun. Os nodos são dois pólos diametralmente opostos, chamados também de Cauda do Dragão (Sul) e Cabeça do Dragão (Norte).

Os Nodos não são algo tangível, pois não possuem massa física. São simplesmente pontos de intersecção entre duas orbitas: a do Sol com a da Terra, e a da Terra com a Lua. Considerando que a Lua é o indicador do passado (daí sua identificação astrológica com o ambiente familiar) e o Sol é o indicador do Futuro, (daí a identificação com o seu Eu Interior, ou Espírito), os nós são indicadores do destino. Os dois Nodos têm em geral um movimento retrogrado, porém às vezes podem também ter movimento direto.

A palavra 'Tikkun' em aramaico quer dizer 'correção'. Poderíamos então interpretar que o Tikkun de nosso mapa nos indica qual o 'ponto de correção' de rota nesta encarnação? Se tivermos uma chance de corrigir nossa rota, então quer dizer que temos livre-arbítrio, não é mesmo? Certamente, porém, dentro de alguns limites impostos pelas nossas escolhas passadas!

Ao compreender o significado de nosso 'Tikkun' pessoal saberemos principalmente:

- identificar nossas fraquezas e erros do passado;
- reconhecer a bagagem que trouxemos das encarnações passadas;
- evitar os bloqueios e desvios que atrasam o nosso progresso em direção à Luz;
- superar nossos medos internos;
- identificarmos-nos mais com o nosso Sol, no conceito mais espiritual e profundo.

O cabalista Rav E.P.Berg, escreve sem eu livro Kabbalistic Astrology: Pense numa nave interestelar que está a caminho de uma estrela distante. A bordo existe um computador que mantém o foguete em seu curso. Ao longo da rota, o foguete passa por planetas ou estrelas que exercem uma força gravitacional sobre ele e podem desviar sua rota, mas o computador mantém o rumo traçado inicialmente, fazendo eventuais correções de rota, quando necessário.

Imagine então que nós somos este foguete e temos um poderoso computador de bordo (nosso Espírito), os planetas e as estrelas funcionando como um hardware. O Tikkun funcionaria como o software que manterá nossa vida individual no rumo certo e tornará útil o computador. O computador é representado, portanto, pelo 'momento astrológico do nascimento', configurado principalmente pelo nosso signo solar, pelos aspectos planetários que com sua disposição indicarão como será o nosso corpo físico. Finalmente os Nodos Lunares serão o tikkun, o 'software' que usaremos para manter nosso foguete no rumo certo.

Sem o tikkun, certamente o foguete errará o rumo e não atingirá o alvo desejado: a Luz. Se levarmos em conta a informação contida na posição dos Nodos Lunares, dentro do contexto de nosso mapa natal, poderemos fazer as devidas correções em nosso comportamento e melhorar nossa performance para alcançarmos a meta. A Lua, em astrologia, se identifica com a mãe e o ambiente familiar, é responsável pela psique, pelas lembranças, emoções e sentimentos.

A Lua, na Cabala, exprime nosso 'desejo de receber', desejo este que precisa se expressar não para nosso próprio beneficio, mas para o 'desejo de compartilhar a Luz'. Se este desejo se torna egoísta, não conseguiremos ir adiante em nossa caminhada e padeceremos encarnações após encarnações!

O Nodo Sul descreve toda a bagagem que trouxemos de nossas prévias encarnações. É como uma 'caixa de Pandora' onde guardamos nossos talentos e habilidades, mas também nossos condicionamentos, fraquezas e defeitos!

O Nodo Norte descreve o caminho ou a correção que devemos fazer na presente encarnação. O tempo todo, a posição (signo solar e casa astrológica) onde ele se encontra, servirá de 'lembrete' para que possamos fazer essas nossas 'correções de rota'.

Os dois Nodos, se interpretados no contexto de seu mapa natal, podem nos fornecer a chave da auto-realização. Ainda há tempo para corrigir nossa rota, já que não há limites para o autoconhecimento. Não andem pela vida sem conhecimento como uma carruagem sem destino. Não esperem para alcançar a realização pessoal. Somente o autoconhecimento pode nos libertar dos condicionamentos e erros do passado.

Por Graziella Marraccini


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