quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando nos afastamos de algo para vê-lo melhor



O distanciamento saudável é uma atitude pró-ativa. Neste sentido, quando nos distanciamos de um sentimento, de uma pessoa ou de uma situação, não queremos romper nossos vínculos, mas sim harmonizá-los. Márcia Mattos, durante um de seus cursos sobre Astrologia, comentou que para uma amizade existir verdadeiramente é necessário que as pessoas tenham a capacidade de saber manter uma distância entre elas.

Neste sentido, quando uma oportunidade de crescimento surgir para o outro, temos a vontade natural de incentivá-lo a ir de encontro àquilo que é melhor para ele, mesmo que isto represente distanciar-se de nós.

O distanciamento saudável surge ao passo que sabemos apreciar o outro em suas diferenças, seja em sua personalidade ou em seus momentos de vida. No entanto, cultivar este espírito de eqüidistância num relacionamento entre amigos é bem mais fácil do que numa parceria amorosa ou na relação entre sócios.

Afinal, o relacionamento de parceria cresce à medida que aumentamos o sentido de cooperar, de estar aliado ao outro. Como parceiros, necessitamos do outro perto de nós, justamente porque na área em que atuamos juntos é preciso somar forças ao invés de prosseguirmos sozinhos. Enquanto parceiros, temos que aprender a ceder, isto é, a abrir espaço para incluir o outro em nossa vida. Para tanto, precisamos frear o impulso costumeiro de agir isoladamente. Apesar de vivermos numa sociedade que incentiva a autonomia e a independência, somos cada vez mais dependentes uns dos outros.

Perdemos a habilidade tanto de nos aproximarmos como de nos distanciarmos adequadamente. Quando sentimos demais as dores alheias, perdemos nosso eixo de equilíbrio e bom senso. Sentir empatia por alguém não significa perder-se nele. Não sufocar o outro com nosso amor, idéias e esperanças é um desafio que exige contínua vigilância.

Acredito que um dos segredos para mantermos um distanciamento saudável, sem nos desligarmos afetivamente do outro, consiste em reconhecermos se estamos vivendo mais a vida dele do que a nossa própria. Quando o humor do outro passa a reger o nosso, quando os projetos de vida dele não incluem as nossas ambições, ou simplesmente quando o desejo do outro por nós é que passa a definir o grau de atração que sentimos por ele, atenção: é sinal que já ultrapassamos os limites de um distanciamento saudável! Pois estas atitudes indicam que caímos nas armadilhas da co-dependência. Isto é, nos tornamos presas fáceis da força alheia, quando nos afastamos demais de nós mesmos e deixamos de sermos autênticos!

Cair no extremo oposto também gera conflitos: quando nosso distanciamento passa a gerar um ar de arrogância é sinal que perdemos novamente a medida justa. Infelizmente, muitas vezes escondemos nossa insegurança numa postura orgulhosa. Nestes momentos, em geral temos dificuldade em perceber o quanto nos tornamos antipáticos! Pensamos expressar para o outro segurança e autoconfiança, mas ele já percebeu e se afastou, porque nos tornamos cada vez mais arrogantes.

Não precisamos nos colocar acima nem abaixo dos outros para nos validarmos. Lama Gangchen Rinpoche costuma nos dizer que, para ter um relacionamento saudável com um mestre, precisamos agir assim como quando estamos perto do fogo: se nos aproximarmos demais iremos nos queimar, mas se nos distanciarmos muito iremos sentir frio e solidão.

Quando abandonamos a necessidade de comandar todo o espetáculo, as lutas de poder nos relacionamentos cedem. Finalmente, aprendemos a reconhecer o distanciamento saudável e assim sentimos a presença do outro como o calor do fogo que nos entusiasma a estar juntos!

Por Bel Cesar

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