terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Amor o e Matrimônio


Diz o Mestre Divino "Não cabe ao homem separar o que Deus uniu" (Mateus 19:6) A interpretação usual disto é que o matrimônio não pode ter dissolvido, pois o casal foi unido por Deus (no caso de casamento religioso) e o homem não teria autoridade suficiente para mudar uma decisão do Alto. Qualquer coisa nesse sentido ‑ dizem ‑ seria uma blasfêmia, uma negação do Poder Divino. A separação e o divórcio não seriam pois aceitáveis para o Ser Supremo, que desta forma condenaria o casal em conflito a "comer o pão que o diabo amassou".

Porém, uma análise mais profunda demonstra facilmente a fragilidade deste raciocínio. Com efeito, o que significa "o que Deus uniu"? Por acaso significa que uns simples homens ‑ sacerdotes ‑ têm o poder de substituir Deus? Com que autoridade? Isto poderia ser aceitável em outras épocas, nas quais se ensinava que para ter contato com Deus era necessário de intermediários. Hoje em dia ‑graças à luz crescente que ilumina os corações humanos apesar de tudo ‑ sabemos que Deus habita tanto fora (Deus transcendente) como dentro de nós mesmos (Deus imanente).

Portanto, não precisamos de representantes dEle, tão humanos como nós. Com efeito, Deus, o Pai, está sempre em contato com seu Filho e este, nosso Cristo ou Ser Interior, aloja‑se no centro de nosso coração.

Consequentemente, "o que Deus uniu" tem outro significado. Não tem nada a ver com a cerimônia nupcial, a troca de alianças nem o juramento de fidelidade. "O que Deus uniu", ou não, são os corações humanos. E isto não pode ser julgado pelas aparências externas nem pelas leis civis ou religiosas. Ou seja, quando duas pessoas se amam profundamente, verdadeiramente e autenticamente, é isso ‑ e só isso ‑ que significa uma união de natureza divina. Portanto, o "homem", ou seja, a sociedade, não poderá destruir esse sentimento, por mais que tente.

Podem desterrar um dos parceiros para um país longínquo, podem mandá-lo para a prisão durante muitos anos, podem até eliminar fisicamente um deles, mas se "Deus uniu", se o Esplendor Divino abençoou aqueles dois corações, eles nunca poderão ser "separados", ou seja, não poderão deixar de se amarem, mesmo que o tempo e a distância possam separá‑los materialmente.

Em resumo, se você cometeu um erro, casando‑se com uma pessoa inconveniente e tentou com o máximo de suas forças consertar a situação e não teve sucesso, fica somente um caminho aberto: cada um reiniciar a vida por seu lado. Se você foi positivo, construtivo, amoroso e otimista durante esse tempo e ainda não deu para superar os conflitos e atingir a normalidade da relação, tem todo o direito a se afastar, porque não é sua obrigação cósmica continuar preso àquela pessoa. Se apesar de tudo o negativismo emergente da relação você conservou a calma, a boa vontade e o amor, a experiência vivida foi mais que suficiente para aprender a lição que estava implícita.

Abra pois seus braços em direção ao céu, aspire o aroma das flores e embarque em outra direção. Com a aprendizagem efetuada, você estará em melhores condições para escolher um novo parceiro e agora sim viver maravilhosamente em sua companhia, alcançando ‑ definitivamente ‑ a sonhada meta de amar e ser amado.

Mas quem sabe! Com um pouco de paciência e muito amor, talvez você consiga mudar o ambiente, consiga que seu parceiro se contagie pela sua luminosidade e assim a felicidade possa brotar em seu relacionamento, sem necessidade de trocar de companhia. Seu coração será a melhor bússola que o orientará nesta travessia; quando a dúvida o ameace paralisar, afogue‑a em potentes jatos de amor, compreensão e alegria.

Porém,talvez fomos otimistas demais e o que realmente ocorre é que o membro mais negativo do casal é você. Antes de tudo, é imprescindível que seja completamente honesto e sincero consigo mesmo. Se por enquanto não pode reconhecer seu negativismo frente aos demais, não se preocupe, mas seria um erro terrível não aceitá-lo interiormente. Se você ama realmente a seu parceiro e quer recuperar e ainda melhorar seu relacionamento amoroso, comece com muita coragem uma verdadeira cirurgia interna, cortando os malignos tumores do medo e do ressentimento, da inveja e dos ciúmes, da vingança e da angústia. E enriqueça sua mente e seu coração com as claras e frescas águas dos ideais elevados, dos sentimentos puros, dos pensamentos altruístas.

Finalmente, pode acontecer que os dois conjugues tenham uma proporção bem maior de sentimentos negativos que de positivos. Aquele lar, como muitos que com certeza você conhece, parecem mais uma filial do inferno que outra coisa. Reclamações, queixas, brigas, insultos e até agressões ocorrem com freqüência, condicionando os filhos e registrando em sua frágil mente subconsciente uma matriz negativa que eles reproduzirão depois, em sua vida adulta, perpetuando os laços de dor, sofrimento, desdém e infelicidade que hoje assolam o mundo.

Se você estivesse, lamentavelmente, neste grupo, é bom que saiba que não está tudo perdido e que mais uma vez, tudo depende de sua atitude. Seu futuro está nas suas próprias mãos. Se você se deixa dominar pela Mente Coletiva, pela inércia, pela preguiça, pela resignação, a filial do inferno que é seu lar continuará "prosperando" negativamente, fazendo com que você e seus familiares continuem na lama e nas trevas.

Mas se você escolhe usar seu poder divino, seu livre arbítrio e decide que a situação é insuportável, que mudanças devem ser feitas para fugir do colapso final, acreditamos firmemente que terá encontrado a ferramenta mais indicada para lhe facilitar o trabalho.



José A Bonilla é rofessor da Universidade Federal de Minas Gerais. Temas: A Arte de Amar e Ser Amado, Educação para a Vida e Vida Espiritual. Autor de 18 livros e 247 artigos científicos e de divulgação.


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