domingo, 17 de maio de 2009

Rotina e monotonia no casamento e na relação

Chamamos de casamento a relação entre duas pessoas que decidiram, escolheram, juraram e se propuseram a se amarem para sempre, viverem juntos para sempre, serem fiéis um ao outro para sempre, felizes um com o outro para sempre; constituírem um lar juntos; uma família juntos; enfim, "tudo" junto e para sempre.


Passado um tempo, observamos que esta proposta inicial carregada de ideais, de certezas e de sonhos perde as raízes que a originaram e o casamento e a relação entre os companheiros se transformam em "fontes de problemas", muitas vezes somente solucionados pela separação.
Penso que o relacionamento entre duas pessoas que escolheram "o viver juntos para sempre" necessita ser "construído" no dia-a-dia do casamento.

Assim, é possível planejar: a compra de uma casa; da decoração desta casa; da festa do casamento; da viagem de lua-de-mel; de filhos e etc., porém, não dá para planejar exatamente o relacionamento no dia-a-dia, pois este depende de inúmeros entrecruzamentos que ocorrem na vida cotidiana e que acabam por interferir benéfica ou negativamente na relação, no casamento.

No casamento, cada um tem seu modo de ser, um modo de agir, de sentir, tem uma individualidade, uma maneira de se comunicar com as situações da vida. Por mais que se amem, um não é igual ao outro, não pensam exatamente igual, não sentem exatamente da mesma forma, etc. Porém, é necessário que possuam algo em comum que os una de uma forma mais verdadeira, como por exemplo: os valores essenciais, os objetivos de vida, a visão de vida dentre outros. Sem isto, a relação fica muito prejudicada, pois passada as primeiras euforias, que são as novidades da relação, logo aparecem as dificuldades, as desilusões as famosas frases: "antes você não era assim, você escondeu muito bem o que realmente você é, você me enganou direitinho..." dentre outras.

Para que o relacionamento não acabe desta forma, é necessária a observação mais profunda da comunicação no dia-a-dia, e saber construir a própria relação que deve ser uma constante evolução, pois a construção traz verdadeiramente o ir além dos sonhos e dos desejos, ou seja, esta "relação ideal" passa a ser um foco concreto de trabalho onde ambos são responsáveis por sua existência e pelo seu progresso. Desta forma, na consciência de que a relação é construída no dia-a-dia, a rotina passa a ter um entendimento diferente, onde ela cumpre a missão de ser aliada da relação e não a grande vilã, ou seja, a culpada, pois sentar e conversar para construir a harmonia do casamento se torna a verdadeira rotina a ser sustentada. Todos os dias são necessárias as atividades normais do cotidiano para a sustentação da existência, sendo assim, por que o conversar não pode se tornar uma dessas atividades?

É uma tendência do feminino a busca pelo alinhamento da relação quando algo não vai bem, pois normalmente são "elas" que chamam "eles" para conversarem e acertarem a relação. Porém, penso que quando o casal é consciente de que a relação deve ser construída, que a rotina não existe, pois a cada dia podemos fazer as coisas comuns de nossas vidas com uma nova visão, e, que, o que buscamos no nosso casamento necessita ser conversado, compreendido, colocado como um foco de trabalho e buscar sempre o ponto em comum da relação, tudo então passa a ser possível de ser atingido no passo a passo da construção.

Outro ponto muito importante é a crença de que a relação tem que ser igual para sempre. Se antes ela era ótima, maravilhosa, plena, onde tudo era perfeito, ela tem que ser sempre assim. Às vezes, o contrário também ocorre: antes ela era ruim, superficial, insegura e por isto também não irá mudar, será sempre assim. Na natureza, nada é igual para sempre, pois tudo é em contínua transformação. Penso que nós também somos assim, bem como tudo que envolve nossa vida, nossa existência. Desta forma, um casamento não é igual para sempre, o amor não é igual para sempre, a relação não é igual para sempre; porém, necessitamos saber acompanhar as mudanças e aceitá-las para não vivermos de sonhos ou de ilusões que nos prendem no passado de nossa existência nos impedindo de vivermos o presente onde tudo está acontecendo.

A amizade entre o casal também é uma grande base de sustentação, pois o amor entre duas pessoas pode nascer num primeiro momento de um sentimento mais físico de atração, por exemplo, porém, sem a amizade verdadeira que traz a cumplicidade, não há relação que perdure e que acompanhe as mudanças normais e naturais do relacionamento. É necessário desconstruir a crença de que casal que se ama não são "amigos"; que amizade é "uma coisa" e amor entre casal é "outra coisa".

Pela experiência de meu trabalho como terapeuta, constato que os relacionamentos mais harmônicos, mais duradouros, mais plenos, mais resistentes às dificuldades e os mais antigos são os que existem amizade entre o casal.

Não acredito em rotina ruim nem em monotonia, pois de acordo com a natureza tudo sempre é em movimento contínuo e o dia se completa com a noite que se completa com o dia que se completa com a noite e, assim, continuamente impulsionando nossa existência. Desta forma necessitamos desconstruir a crença de que a rotina leva a monotonia e que ambas são as destruidoras das relações entre casais que se amam.

Algumas dicas:


1- Ao notar dificuldades com o companheiro busque conversar sobre sua observação.

2- Ao observar dificuldades consigo mesmo busque conversar sobre elas com o companheiro.

3- Construa sua relação passo a passo sem buscar efetivamente o "resultado".

4- O amor não é igual para sempre, pois tudo sofre transformação contínua.

5- Aprenda a evoluir com as mudanças, pois elas podem ser muito positivas, principalmente, quando somos flexíveis e as acompanhamos. 6- Construa o caminho da harmonia da relação ao invés de procurar a perfeição.


Ramy Arany é co-fundadora do Instituto KVT, Instituto KVT Desenvolvimento da Consciência Empresarial , da Instituição Filantrópica Ará Tembayê Tayê e da Editora KVT. É assistente social, terapeuta comportamental, pesquisadora dos estados alterados da consciência e escritora.



Nenhum comentário: