quinta-feira, 21 de maio de 2009

Quando o distanciamento é saudável


Nas últimas semanas, tenho pensado muito sobre a importância de mantermos um distanciamento saudável, seja de nossas próprias emoções e pensamentos, seja de nossos relacionamentos.

Quando digo um distanciamento saudável, me refiro a algo similar à decoração de uma sala: intuitivamente nos afastamos até encontrar um ponto ideal do qual poderemos avaliar melhor o todo, para então dispor as partes de modo harmonioso.

A noção de idéia de equilíbrio que atribuímos a um ambiente é uma expressão de nosso interior. A maneira como decoramos nossa vida revela a dinâmica de nossas imagens internas.

Quando sentamos para meditar ou nos propomos a ficar quietos para pensar melhor sobre algo, nossos pensamentos logo ganham volume e intensidade.

Se soubermos nos manter conscientes nos momentos em que nossas emoções estão sob o efeito de uma lente de aumento, esta intensidade pode ser mais uma importante técnica de autoconhecimento. Mas, em geral, nos descontrolamos diante de emoções muito fortes, e acabamos por seguir os pensamentos negativos que elas geram. No entanto, quando conseguimos nos ver diante destes momentos de pico emocional, mudanças importantes podem ocorrem em nossa mente, pois surgirá um desejo autêntico de livrar-se de toda intensidade.

Com o distanciamento saudável não ficaremos mornos diante de nossas emoções! Afinal, a idéia não é deixarmos de nos sentir, mas sim, de vivenciar nosso mundo interno sem nos perder...

O budismo nos ensina que, para relaxarmos, temos que reconhecer a natureza transitória dos pensamentos: eles não são tão concretos quanto podem nos parecer.

O peso que dermos para eles é que fará com que tenham mais ou menos impacto sobre nós. Sem que percebamos, confundimos a veracidade da realidade externa com nossos próprios pensamentos. Quantas vezes nos surpreendemos ao constatar que o que pensávamos existir era mera fantasia!

Inocentemente, acreditamos na concretude de nossos pensamentos. É como a ilusão da internet. Confundimos facilmente o mundo virtual com o real. Por exemplo, às vezes visitamos um site de um produto tão bem exposto, que facilmente acreditamos que ele tenha qualidades muito além da realidade.

A realidade externa é sempre diferente da idéia que temos dela. Nossas avaliações precisam ser constantemente revistas. Ironicamente, o que pensamos pode não existir, mas tudo existiu primeiro na mente de alguém...

Em geral, damos um peso extra aos nossos pensamentos, como se eles existissem de forma concreta e maciça. Quando reconhecemos que nossos pensamentos são projeções mentais, começamos a ter uma atitude de mais espaço diante deles: um distanciamento saudável.

O autoconhecimento surge à medida que aceitamos nos soltar das velhas crenças e relaxar para rever nossas idéias de modo menos tenso e mais próximo ao real.

Nosso Eu está preso ao condicionamento de que há segurança na tentativa de controlar a mente, isto é, de permanecermos fiéis aos mesmos pensamentos. No entanto, só quando abandonamos a tensão desta contínua luta para manter o controle daquilo que é e que iremos nos abrir para encontrar uma nova possibilidade de evolução interior.

Ao passo que nos tornamos flexíveis, conquistamos mais espaço em nosso mundo interior. Assim, cultivamos uma sensação natural de inteireza e bem-estar.

Manter um distanciamento saudável com nossas próprias idéias é como segurar as rédeas de um cavalo: se quisermos escolher para onde vamos, teremos que mantê-las esticadas pela nossa própria força. Há uma medida justa. Se as segurarmos firmes demais, o cavalo irá parar. Mas se soltarmos demais as rédeas, o cavalo irá disparar e comandar a direção de nosso passeio. Aliás, assim como nossos hábitos mentais, o cavalo prefere sempre voltar correndo para o seu pasto conhecido. Se quisermos escolher novos caminhos para evoluir teremos que comandar nossos próprios trajetos!

Por Bel Cesar

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