sexta-feira, 9 de julho de 2010

Curando as feridas da vergonha


O que acontece quando você briga feio com seu parceiro ou parceira? Ou quando você se desentende com seu sócio ou chefe e fica um clima muito ruim entre vocês? Quando você recebe uma crítica negativa pesada de um superior, o que você sente? Quando passamos por alguma dessas situações acima podemos tocar sentimentos de insegurança, inadequação ou vergonha.

Nossa reação automática é fugir das pessoas, nos esconder, chorar as nossas dores ou mesmo entrar imediatamente em uma compulsão ou vício – socialmente aceitável ou reprovável. Queremos esquecer que existimos.
As sensações que vêm junto podem ser de encolhimento ou peso, uma profunda insegurança ou um sentimento de vazio. Algo que não sabemos de onde vem nos puxa para baixo. Os pensamentos nos acompanham dizendo “eu não vou conseguir”; “não sou bom o bastante”; “todos são melhores do que eu”; “não sou atraente”; “sou um covarde”; “ninguém nunca vai gostar de mim”: uma grande gama de crenças negativas.

Esses são sintomas do que chamamos de “ferida da vergonha”.
Todos esses sentimentos que compõem a ferida da vergonha estão dentro de nós há muito tempo. Eles podem ter surgido através do maltrato dos nossos pais, reprovações, falta de apoio ou até mesmo através de violências e abusos por parte dos que nos educaram.

Nossa primeira reação quando vivemos essa ferida é tentar provar que somos exatamente o oposto disso. Esforçamo-nos para sermos os melhores.

Queremos provar para nossos pais e sociedade que somos capazes e podemos fazer algo de bom da nossa vida. Queremos obter sucesso, respeitabilidade e atenção.
Quando não conseguimos o que almejamos nos sentimos deprimidos e fracassados.

Nesse momento submergimos na ferida da vergonha. Começamos, então, a acreditar que somos as piores pessoas do mundo. Apesar de tudo o que fizemos, nada deu certo. Tudo deu errado. Sentimo-nos péssimos.

Temos certeza de que nunca seremos felizes e realizados.
Algumas pessoas, quando caem na ferida da vergonha, desistem dos projetos de vida e submergem no poço da depressão. Acham-se impossibilitados de reagir e se resignam.

Reconhecer e aceitar todos esses sentimentos são os primeiros passos para curar a ferida da vergonha. A cura dessa ferida passa por reconhecer e acolher a criança emocional que existe dentro de cada um de nós.
Você se identifica com alguns dos sentimentos acima? Então, aproveite este momento agora, feche os olhos, respire algumas vezes, relaxe e transporte-se para sua infância. Traga todas as memórias de experiências nas quais você se sentiu humilhado, criticado, colocado para baixo, não ouvido, não apoiado.

Talvez você se sentisse um estranho na sua própria família. É muito possível que essas experiências venham acompanhadas por sentimentos de medo, insegurança, raiva ou diversos outros sentimentos.
Neste momento respire no centro desses sentimentos. Diga “sim” para eles.Eles são as feridas da sua criança interior. A criança ferida é uma metáfora que damos ao nosso estado emocional doente e desequilibrado.

É importante compreender que criança não quer saber de explicações como: “... mas isso era o que meu pai e minha mãe podiam me dar naquele momento”; “eles fizeram isso pensando no meu bem”; “eles não tiveram estudo nem educação, por isso agiram assim”.

Todas essas explicações não têm nenhum significado para a criança interior ferida. Quando ela experienciou pela primeira vez esses sentimentos era inocente e indefesa. Era cem por cento sentimento. E a linguagem que ela reconhece hoje é somente o sentir – a linguagem do coração.
Então, deixe-se sentir toda vulnerabilidade e insegurança desse momento. Não justifique, nem tente fugir. Respire e esteja alerta.

Esse é o momento em que a criança interior adquire confiança e se aproxima de você. Ela quer ser reconhecida, resgatada, acolhida, respeitada e, acima de tudo, quer ser amada.
Resgatando a criança interior ferida Aproxime-se mais da sua criança e diga: “Sei que estive muito tempo longe de você. Mas agora estou pronto(a) para lhe acolher. Quero ouvir tudo o que você tem para me dizer e espero poder fazer algo para que nos aproximemos”. E aguarde... Talvez ela fique temerosa para falar no princípio. Dê um tempo para ela.

Lembre-se de que o tempo emocional é bem mais lento do que o tempo psicológico.
O que quer que ela diga ou pergunte, responda com o coração. Lembre-se: criança interior fala somente a linguagem do coração. Ela talvez responda através de sons, imagens ou movimentos corporais. Se isso acontecer, siga as indicações. Aos poucos um elo irá se formando entre vocês.

Uma amizade nova estará nascendo.
Lembre-se de que a criança ferida só precisa do seu acolhimento e do seu amor. Isso é tudo o que ela quer e é o que é necessário para começar um processo de cura e resgate dessa parte essencial do seu ser. Nossa criança interior é o que há de mais sagrado em nossa vida. Ela é a expressão sublime da inocência, pureza e amorosidade do nosso ser. Fazer as pazes e resgatar nossa criança é começar a viver com o que há de mais profundo e significativo dentro de nós.

O Místico Indiano Osho nos dá dicas preciosas a respeito da nossa criança interior: “O verdadeiro sábio novamente torna-se uma criança. O círculo se completa – da criança de volta à criança. Mas a diferença é grande. A criança, como tal, é ignorante. Ela terá que passar pelo camelo, pelo leão e voltar à criança; e essa criança não é exatamente a velha criança, porque ela não é ignorante. Ela se moveu pelas experiências da vida: da escravidão, da liberdade, do sim impotente (camelo), do não feroz (leão) e, ainda assim, deixou tudo para trás. Não é ignorância, mas inocência. A primeira criança era o início da jornada. A segunda criança é a conclusão da jornada”.


Por Guilherme Ashara

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