sexta-feira, 10 de abril de 2009

Budismo

O Budismo é definitivamente psicológico. Buda não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do mundo, da natureza do Divino ou questões desse gênero. Ele estava preocupado exclusivamente com a situação humana, com o sofrimento e as frustrações dos seres humanos. Sua doutrina, portanto, não era metafísica; era uma psicoterapia. Buda indicava a origem das frustrações humanas e a forma de superá-las. Para isso, empregou os conceitos indianos tradicionais de maya, karma, nirvana, etc., atribuindo-lhes uma interpretação psicológica renovada, dinâmica e diretamente pertinente. A resumida exposição, a seguir, apresenta um modo de vida que pode ser seguido, praticado e desenvolvido por qualquer indivíduo. É uma disciplina do corpo, da palavra e da mente, sendo, assim, um autoconhecimento e uma autopurificação.

Isto nada tem a ver com crenças, orações, adorações, ou cerimônias. Neste sentido, não contém nada que possa ser chamado popularmente "religião", fato este que por muitas vezes sugere que o budista seja um ateu, porém o budismo longe, muito longe disto, é um caminho que conduz à compreensão da Realidade Última, à liberdade, à felicidade e à paz, mediante a perfeição moral, intelectual e espiritual.

É interessante ressaltar, que nós habitamos um país que após a chegada dos primeiros colonizadores, tornou-se fortemente cristão. Daí, viemos a conhecer a vida e a palavra de Jesus através da Bíblia. Pode até mesmo parecer que estejamos, digamos, voltando-se contra Cristo depois de termos tido a felicidade de nos conduzirmos pelas igrejas fundadas em seu nome. Entretanto, a grande diferença é que nas tradições das religiões cristãs, os adeptos são levados a buscar ajuda externa, quando no budismo somos encorajados a fazermos essas buscas internamente, o que nos deixa muito mais seguro. E quanto a nossa posição em relação a Jesus, permanece exatamente a mesma, sem dúvida até mesmo com mais admiração por este grande ser iluminado.


Nos países Budistas há costumes e cerimônias simples. Elas, entretanto, têm pouca relação com o verdadeiro Caminho que Buda ensinou ser pura ciência e filosofia de vida, porém são úteis e válidas, até certo ponto, para satisfazer certas emoções e necessidades místicas dos povos.
Vejamos a partir daqui, o budismo como ciência, moral e filosofia.

"Evitar o mal, fazer o bem, purificar a mente" são os preceitos de todos os Budas. O Budismo é uma filosofia de caráter essencialmente psicológico, uma maneira de viver, tendo em vista a Correta Compreensão, isto é, o reconhecimento da existência do sofrimento, a verdade da causa do sofrimento, "o eterno auge da felicidade" - Nirvana - e o verdadeiro Caminho que leva à cessação do sofrimento, conhecido como Nobre Caminho Óctuplo, ou Caminho da Correta Compreensão, ou ainda o Caminho do Meio.

A Doutrina do Buda não determina uma crença ou credo, mas um "venha e veja"; é uma filosofia viva cujos ensinamentos de mais de 2.500 anos, não foram ultrapassados pela Ciência ou Psicologia moderna.

No Budismo está a resposta aos que procuram o sentido da vida, a resposta aos vários problemas psicológicos e sociais, espirituais ou místicos dos nossos dias; ele não é baseado em teorias e especulações.

Ao longo de toda a sua gloriosa existência, Gautama Buda sempre fez questão de ressaltar sua natureza humana, não se atribuindo nenhuma inspiração divina ou algum poder sobrenatural.


Segundo o Budismo, é o homem quem traça a rota do seu próprio destino. Assim, Gautama Buda exortava seus discípulos a que eles mesmos fossem seus próprios refúgios, ou ajudas. Estimulava em cada um o autodesenvolver-se, porque, mediante seu próprio esforço e dedicação, o homem tem em suas mãos o poder de libertar-se da escravidão, da ignorância e de todo o sofrimento.

O Budismo ensina o homem a ser seu próprio mestre, a libertar-se dos condicionamentos, dentre os quais principalmente os preconceitos, a não permanecer dependente de cultura ou análises intelectuais, como também não se apegar a nenhum instante passado, nem a nada ainda não acontecido, a viver integralmente o presente e a reconhecer o mundo e a si próprio tais como são. Os ensinamentos de Gautama Buda se revestem de um caráter psicológico e moral, e ele sempre aparece como um mestre, um pensador, um sábio, um verdadeiro cientista, que estuda e analisa a fisiologia da mente humana. Nos seus ensinamentos não há lugar para adorações e preces.

Pode-se verificar que tanto Gautama Buda como outros grandes mestres não fundaram nenhuma religião em particular, porém seus discípulos e adeptos mais tarde divulgaram e interpretaram seus ensinamentos de diferentes modos, adaptando-os ao meio e ao país em que viviam; como aconteceu no Budismo, aconteceu no Cristianismo, Islamismo, etc.

As qualidades, os defeitos e os sentimentos humanos como o amor, a caridade, a compaixão, a tolerância, a paciência, a amizade, o desejo, o ódio, a má vontade, o orgulho a vaidade etc. não são rótulos sectários e não pertencem a uma religião em particular. O mérito ou demérito de uma qualidade, ou de uma falta, não se engrandece nem diminui pelo fato de ser encontrada num homem de uma determinada religião, ou mesmo sem nenhuma



Para quem procura a Verdade, não é importante saber de onde vem uma determinada idéia, ou qual a sua origem, nem é necessário saber se o ensinamento provém deste ou daquele mestre; o essencial é vê-la e compreendê-la. As raízes do mal estão na ignorância, causa das idéias errôneas.

Para progredir, precisamos libertarmo-nos da dúvida e para isso é necessário ver claramente, o que só é possível quando a Verdade vem através da visão interior, adquirida pelo autoconhecimento.

"Não vos deixeis guiar pelas palavras dos outros, nem por tradições existentes, nem por rumores. Não vos deixeis guiar pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem por aparências, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou pela idéia. Mas desde que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis, falsas ou ruins, então renunciai a elas... e quando souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e segui-las”.

Hoje ainda é legível a inscrição original de um dos editos do rei Asoka, gravados na rocha no século III a.C.: "Não devemos honrar somente nossa religião,condenando as outras; devemos acima de tudo respeitar todas as crenças, pois sempre há algo a ser apreciado por esta ou aquela razão. Agindo desta forma, glorificamos nossa própria crença e prestamos serviço às demais. De outro modo, prejudicamos a nossa própria religião e fazemos mal à dos outros. Por conseguinte, que todos escutem e estejam dispostos a não se fecharem às doutrinas professadas pelos demais".

O Budismo se apresenta sob a forma de um sistema psicológico, moral e filosófico baseado na raiz dos fatos, que podem ser testados e verificados pela experiência pessoal, pois é racional e prático, isento de doutrinas esotéricas (ocultas).

Ver por si mesmo e não crer. Uma das características essenciais do Budismo é a rejeição de qualquer fé prévia. Crer é aceitar o que não sabemos se realmente existe. O Budismo é baseado na visão das coisas pelo conhecimento e compreensão, e não pela fé ou crença cega. A crença surge quando não há visão - visão em todo sentido da palavra. No momento em que vemos, a crença desaparece e a fé cede lugar à confiança baseada no conhecimento.

Compaixão para com todos os seres vivos: Cada um deve dar conta de si mesmo, segundo esta aritmética invariável do universo, dando a cada um sua medida segundo seus atos, suas palavras e seus pensamentos; esta lei exata, implacável e imutável vigia eternamente e faz com que todos os futuros sejam frutos do passado.

Há mais de 2.500 anos, o Bem-Aventurado observou os costumes da sociedade e notou quanta miséria decorre da malícia e de estúpidas ofensas feitas somente para satisfazer a má vontade e o orgulho.

Foi Gautama Buda quem, pela primeira vez na história da civilização, tentou abolir a escravidão, proclamando a igualdade de castas, assim como também a emancipação da mulher, afirmando que ela pode alcançar o grau superior de conhecimento da mesma maneira que o homem, pois a "liberdade transcende as formas e, por conseguinte, não depende do sexo...”

"O homem é o seu próprio refúgio, quem outro poderia ser?" Conforme esse princípio de responsabilidade individual, Buda dava toda liberdade de pensamento a seus discípulos, coisa indispensável para a emancipação do homem, porque dele depende a própria compreensão da Verdade. Esta não é privilégio vindo de um determinado Ser Supremo ou força exterior, mas está no interior de cada um de nós.

Não se apegar nem à Verdade. Pois Buda ensinou que estar apegado a uma coisa, "sob um ponto de vista", e desprezar outras coisas, "outros pontos de vista", chama-se vínculo.

Buda explicou que a vida espiritual não depende de opiniões metafísicas. Qualquer que seja a opinião sobre esses problemas, existe sempre o nascimento, a velhice, a decrepitude, a morte, a desgraça, as lamentações, a dor, a angústia.


Grande parte deste material foi pesquisado e adaptado do livro “Budismo: Psicologia do Autoconhecimento” do Dr. Georges da Silva e da Sra. Rita Homenko, publicado pela editora Pensamento.


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