sábado, 24 de janeiro de 2009

Eu nunca estou transtornado pela razão que imagino


Por Dr. Gerald G. Jampolsky

A maioria de nós tem um sistema de crenças baseado em experiências do passado e nas percepções dos sentidos físicos. Já pensou algum dia que aquilo em que acreditamos é aquilo que vemos? Ou, nas palavras do comediante Flip Wilson, “o que você vê é o que você tem”.

Como nossos sentidos físicos parecem retransmitir informações do mundo externo para o nosso cérebro, podemos acreditar que o nosso estado de espírito é inteiramente controlado pelo feedback que recebemos. Essa crença contribui para uma percepção de nós mesmos como entidades distintas e separadas, em grande parte isoladas, que se sentem sozinhas num mundo indiferente e fragmentado. Isso pode nos deixar a impressão de que o mundo que vemos nos leva a sentir irritação, depressão, ansiedade e medo. Esse sistema de crenças pressupõe que o mundo externo é a causa e nós, o efeito.

Vamos considerar a possibilidade de que esse tipo de raciocínio está de cabeça para baixo e da frente para trás.

Que aconteceria se acreditássemos que o que vemos é determinado pelos pensamentos de nossa mente? Talvez pudéssemos acalentar uma idéia que, nesse momento, parece pouco natural e estranha a nós, isto é, que nossos pensamentos são a causa e o que vemos é o efeito. Nesse caso, não faria sentido acusar o mundo, nem os que habitam nele, das misérias e sofrimentos que sentimos, porque, então, seria possível considerar a percepção como “um espelho e não um fato”.

Imagine também que a mente pode ser comparada a uma câmera de cinema que projeta nossos estados interiores para o mundo.

Quando a mente está cheia de pensamentos desagradáveis, vemos o mundo e seus habitantes como desagradáveis. Por outro lado, quando a mente está em paz, o mundo e seus habitantes nos dão a impressão de estarem em paz. Podemos escolher acordar de manhã e ver um mundo acolhedor por meio de óculos que filtram tudo, exceto o Amor.

Talvez conviesse questionar a nossa necessidade de tentar controlar o mundo externo. Podemos, em vez disso, controlar permanentemente o nosso mundo interior escolhendo os pensamentos que queremos ter na cabeça. A paz da mente começa com nossos próprios pensamentos e estende-se para fora. É a partir da nossa paz da mente (causa) que surge uma percepção da paz do mundo (efeito).

Todos temos o poder de dirigir a mente e substituir os sentimentos de irritação, depressão e medo pelo sentimento de paz interior.

Sou tentado a acredita que estou irritado por causa do que outras pessoas fazem ou por causa das circunstâncias e eventos que parecem estar fora do meu controle. Posso sentir que estou sendo perturbado sob a forma de raiva, ciúme, ressentimento ou depressão. Na verdade, todos esses sentimentos representam uma forma do medo que sinto. Quando reconheço que sempre tenho a escolha entre sentir medo e sentir o Amor estendendo o Amor a outros, não preciso mais me sentir perturbado por nada.

Exemplo

Durante muitos anos sofri de uma dor nas costas crônica que me deixava relativamente incapacitado. No decurso desses anos, não consegui jogar tênis, nem fazer jardinagem, nem muitas outras coisas que gostaria de fazer. Fui hospitalizado várias vezes e, a certa altura, o neurocirurgião queria fazer uma operação no que era chamado de “doença orgânica das costas” - um disco degenerativo. Optei por não fazer a cirurgia.

Pensei que estava mal por causa da dor e da tensão gerada por ela. Então, certo dia, tive a impressão de que havia uma vozinha dentro de mim que dizia que, mesmo que eu tivesse uma síndrome orgânica nas costas, eu é que estava causando o meu sofrimento. Era claro para mim que meu problema nas costas piorava quando eu estava sob tensão emocional, principalmente quando sentia medo e estava ressentido com alguém. E não estava mal pela razão que eu supunha.

À medida que fui aprendendo a me libertar de meus ressentimentos com a prática do perdão, minha dor desapareceu. Agora não tenho mais limitações para as minhas atividades.

Eu achava que ficava mal por causa da dor nas costas. Mas descobri que ficava mal por causa de relacionamentos mal resolvidos. Eu tinha me deixado persuadir de que o corpo controla a mente, em vez de perceber que a mente é que controla o corpo. Tenho certeza de que a maioria das pessoas com problemas nas costas têm o potencial de aprender a se libertar de seus ressentimentos, suas culpas e medos e, por meio do perdão e a outros e a si mesmas, curar a si próprias.

Ao longo de todo o dia, sempre que se sentir tentado a ter medo, lembre-se de que pode sentir Amor em lugar de medo.


Texto extraído do livro Amar é libertar-se do medo.

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