domingo, 25 de janeiro de 2009

Como saber a hora de parar


Quando um problema passa a ocupar a maior parte de nossa mente é hora de nos distanciarmos dele. A distância física ou mental daquilo que nos preocupa pode nos ajudar a recuperar o espaço interno perdido.

Não podemos parar o mundo, mas podemos parar a nós mesmos. Parar não é perda de tempo. Pode parecer paradoxal, mas a finalidade última de parar é a de gerar forças para seguir em frente.

Os mestres budistas nos ensinam: “Só enfrente um inimigo quando você estiver mais forte que ele. Até lá, continue se fortalecendo.”

Quando estamos envolvidos demais pela sensação de ter um problema, nos sentimos “sem saída”. No entanto, ao nos predispormos a ver o problema, ao invés de tê-lo, conquistamos naturalmente uma atitude interna de nos distanciarmos dele o suficiente para vê-lo melhor.

Guelek Rimpoche nos alerta: “O primeiro passo para sair de um problema é criar uma forte determinação de ficar livre dele. Essa determinação deve ser feita mesmo quando ainda se está preso ao problema.”

Para sair do sofrimento, precisamos antes de tudo aceitar a situação em que nos encontramos e então reconhecer, no poder da determinação, a saída por onde queremos ir. Apesar de intelectualmente sabermos que sempre há uma saída, a maior parte da vezes estamos tão convencidos de sermos vítima de nossa própria dor que resistimos a idéia de algo possa ser mudado. Quando nossas convicções do que sentimos como verdadeiro se tornam rígidas, precisamos recuperar uma certa flexibilidade. Somente mudamos uma atitude interna, quando nos estamos convencidos emocionalmente da real necessidade de mudar.

Pema Chödrön no seu livro Os lugares que nos assustam (Ed. Sextante) escreve: “Se percebermos que estamos sendo tomados por uma justa indignação, este é um sinal claro de que já fomos longe demais e que nossa capacidade de causar alguma mudança estará comprometida. Crenças e ideais se tornaram somente uma outra maneira de erigir muralhas”. Por exemplo, quando nos sentimos ressentidos, nos tornamos reativos: surge em nós o impulso de agredir quem nos magoou e nossa energia automaticamente se esvai.

Se reconhecemos a natureza reativa de nossa mente, poderemos nos dar conta do quanto nos abandonamos neste momento. Deixamos de ser “donos de nós mesmos” quando nos tornamos presos à necessidade de prestar contas com alguém que nos magoou. Não percebemos quanto poder estamos transferindo para uma pessoa quando pensamos: “Enquanto eu não tirar isso a limpo com ele, não sossegarei”. Agindo assim, ficamos presos à capacidade de entendimento com o outro para recuperarmos nossa calma. Só quando nos apropriarmos de nós mesmos, recuperaremos nossa capacidade de observar uma emoção negativa.

Se quisermos ter paz interior, precisaremos considerar e respeitar o espaço interno de nossa mente como algo muito precioso. Algo tão precioso que queiramos preservar acima de tudo.

Todos os métodos de purificação da mente visam o mesmo objetivo: separarmo-nos da energia impura. A paz interna é a habilidade de manter a energia da mente sempre como um espaço limpo, leve e pleno de energia positiva.


Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.

Nenhum comentário: