A atividade onírica é mais complexa do que imaginamos. Os sonhos, na verdade, são uma mistura de experiências do cotidiano, principalmente, as situações não resolvidas na ordem dos sentimentos, preocupações latentes e medos, associado à percepções sensoriais, suprasensoriais, de âmbito mediúnico e de projeção do espírito para fora do corpo físico.
No sentido da interpretação dos sonhos, tanto o Espiritismo, através de Allan Kardec, codificador das obras básicas, quanto a Psicanálise, criada por Sigmund Freud, têm as suas parcelas de contribuição em relação ao significado dos sonhos, pois os mesmos expressam, nada mais nada menos, que a natureza interdimensional do ser humano.
À medida que o indivíduo aprofunda-se no autoconhecimento de nível interdimensional, torna-se mais fácil para ele, distinguir quando um sonho reúne experiências associadas (dimensões física e espiritual) ou apenas uma dimensão (física ou espiritual).
As experiências oníricas associadas, assim como as que representam uma só dimensão, são passíveis de interpretação sob a ótica interdimensional, que vê nessas experiências a projeção do inconsciente superficial e profundo, insights referentes à memória extracerebral (vidas passadas), desdobramento do espírito e contatos espirituais durante o sono.
Portanto, sonhar que o espírito está volitando, ou seja, deslocando-se no espaço após projeção (saída) do corpo físico durante o sono, não significa sintomas de baixa auto-estima, carência afetiva ou algo parecido como podem supor "especialistas da área", e sim, que o indivíduo, realmente, estava projetado do corpo físico e se deslocando em espírito pela dimensão física ou espiritual. É óbvio que cada caso é um caso a ser analisado pela ótica interdimensional, o que não poderia ser diferente quando se trata de psicoterapia. É o que veremos a seguir, na abordagem de um caso clínico, conforme relato de um sonho ocorrido recentemente com um paciente.
O SONHO DO PACIENTE
Sonhei que me deslocava no espaço e que para movimentar-me era necessário mexer os braços como num movimento de mergulho na água.
Inicialmente inseguro, percebia que conforme exercitava o movimento de braços e pernas, mais confiança adquiria em relação ao próprio deslocamento e no contorno de obstáculos como postes de luz, prédios, entre outros.
Lá de cima, via o burburinho da cidade. Às vezes baixava e ficava pouco acima da rede elétrica das ruas. Outras vezes, subia acima dos prédios mais altos, a observar detalhes da movimentação humana, Lembro nítidamente de ter passado por cima de um parque arborizado.
Noutras vezes, "pousava" no passeio público e me sentia um homem comum. Mas quando "alçava" vôo novamente, chamava a atenção de algumas pessoas próximas e que me observavam admiradas sem entenderem o que estava acontecendo. Mas logo baixavam a cabeça e retornavam à rotina de suas vidas. A grande maioria, no entanto, demonstrava no que via, indiferença ou incredulidade.
E assim, me deslocando de um ponto a outro com uma indescritível sensação de liberdade, sentia-me como um pássaro novo a exercitar as suas asas no primeiro vôo de uma vida independente.
DESDOBRAMENTO ESPIRITUAL
O sono fisiológico, denominado como "um estado de morte", por propiciar o torpor das faculdades pensantes e fazer desaparecer a aparente realidade do mundo objetivo, faculta ao espírito um parcial desdobramento, no qual se movimenta além dos limites corporais.
Conforme as suas inclinações, desejos e hábitos, tão logo sente se afrouxarem os liames periespirituais, o espírito desloca-se para lugares onde encontra respostas para as necessidades cultivadas. (Fonte: Joanna de Angelis)
VOLITAÇÃO
Capacidade que o espírito tem, em certo nível de adiantamento, de "voar" não apenas no sentido literal, mas também de maneira mais transcendental. O espírito se transporta para onde quiser ou lhe for determinado, sob a ação e o impulso de sua própria inteligência. (Fonte: Portal Espírita http://www.plenus.net/)
COMENTÁRIO
Interpreto o "sonho" como de característica associada, ou seja, reflexos das duas dimensões da natureza humana (física e espiritual), à medida que preocupações da experiência encarnada encontram-se inseridas na experiência transcendental em forma de mensagem.
O fato de sentir-se em deslocamento pelo espaço físico era real, pois havia se desdobrado do corpo físico durante o sono que começara próximo das 21 horas. Assim como era real a preocupação - que era latente - em relação à incredulidade e indiferença das pessoas, registrado no relato.
O paciente, uma pessoa espiritualizada, durante a psicoterapia, experenciou uma angústia em relação ao que ela denominou "alienação das pessoas com as coisas do espírito". E essa preocupação latente revelou-se em forma de recado ou mensagem da espiritualidade superior durante a experiência onírica.
E a mensagem, ao analisarmos o conteúdo da experiência, é a de cada indivíduo tem o seu ritmo e o seu momento de despertar para as verdades do espírito. Dentro do seu ritmo, cada ser humano vivencia a sua própria jornada evolutiva. Nessa caminhada, alguns encontram-se à frente, muitos atrás, e outros, parados pelo caminho, perdidos ou à espera do "despertar". Realidade, que como sabemos, começa a mudar a partir do milênio em curso...
A heterogeneidade da natureza humana é o motivo da existência de diferentes níveis de consciência entre nós. Fato que torna lento o processo de evolução do coletivo de espíritos que reencarnam na Terra.
Fica claro na interpretação interdimensional da mensagem, que devemos aceitar o fluxo da evolução humana que é lento por natureza, e evitar excesso de preocupações que não leva a lugar algum, pois tudo tem o seu tempo, inclusive, o tempo de mudanças que se anuncia para o planeta...
Fica claro também, que somos ainda inexperientes nos vôos mais altos do espírito, e que, ao visualizarmos os nossos irmãos do alto, não somos diferentes deles, mesmo em vôo de principiante. Talvez menos indiferentes e mais receptivos aos valores do espírito aplicados à filosofia de vida. No mais, somos todos eternos aprendizes da evolução.
Por Flavio Bastos
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