Ontem fui a uma palestra em uma comunidade espírita.
O tema era muito interessante para que eu perdesse: “As mazelas, as dores e as doenças de quem sofre a dor do outro...”
O foco do orador foi MÁGOAS. Em meio a uma hora de fala corriqueira, como se aquilo tudo saísse do mais intimo cantinho de seu ser, eu, que sempre tenho dificuldades em palestras (para quem ainda não sabe, sou surda, uso prótese em uma orelha, mas a outra foi-se), me vi ouvindo tudo, cada palavra - essa é a boa notícia - e me identificando com quase tudo também, e essa é a má notícia.
Uma única frase dele me levou a escrever hoje, coisa que tenho feito, mas não chego ao final. Disse ele: “Guardar mágoas é tomar veneno e ficar esperando que o outro morra”!!! “Putz”!!! Pensei, “dancei mesmo”... Como a ficha demora a cair de vez em quando, não é? Sou uma pessoa que se fere muito facilmente, coloco um band-aid e fico ali olhando pra ferida.
GUARDAR MÁGOAS É COMO TOMAR VENENO E FICAR ESPERANDO QUE O OUTRO MORRA...
Isso, é isso mesmo. Os únicos afetados somos nós mesmos ao guardarmos mágoas, raiva, rancor. Mas o que fazer, então? Deixar pra lá? “Tá bom, vou deixar. Deixei. Uai, ta lá ainda... doendo”!!
Então, enquanto eu procurava lidar com as minhas tentativas de interromper esse processo destrutivo, ali e naquele momento, de forma mágica, como se fosse algo novo para mim, e não algo que falo aos meus clientes o tempo todo, (tendo inclusive texto já publicado a respeito da mágoa e aparecimento de miomas uterinos, em estudos de Aromaterapia), lá vem outra frase bacana: “O perdão é o único remédio”!!!
Uau, desta vez quase fui embora, afinal não sou eu que tenho um artigo publicado aqui mesmo a respeito de perdão? Putz, meus leitores vão me achar uma fraude se eu colocar este artigo no ar”?
Creio que quem lê meus textos sabe que sou humana, que sou sensível e que sou... mulher! Ahhhhhh, mulheres, seres encantadoras e encantadas, mas tão encanadas. Como a gente complica o que realmente pode ser simples. Sabe o que foi que captei e ficou no meu coração partido, ainda bem par-ti-di-nho, ao final desta uma hora durante a qual ele falou sem um intervalo?
“A mágoa é patrimônio de quem a provoca, não de quem a recebe. A este último, já basta a dor que sofreu”. É simples, não é? Então, por que é na gente que dói? Simples também. Porque quem magoa e não se arrepende, não se redime e não lambe as feridas que fez, simplesmente não se importa, se não se importa em ferir, não se redime do que fez, lá vai sofrer por conta de algo que não dói nele(a)?
Então, é mesmo aquela velha frase que falei no meu artigo antigo: “Tentar perdoar até conseguir e deixar claro que desculpar é outro papo.”
Quem fere alguém que diz amar tem duas opções: admitir que errou ou admitir que não ama. As duas coisas não combinam, mas às vezes se encontram.
Cabe a quem pratica o ato que fere se redimir e tentar não repetir a dose, mesmo que tenha recaído, tentar e tentar até que seja eliminado o ímpeto, porque, em alguns casos, casais passam a se comunicar pelas feridas que um vai abrindo no outro. Parece filme de terror? “Acontece nas melhores famílias”, diria meu pai. É como se só soubessem se amar assim, através da agressão e conseqüente “fazer as pazes”.
Até que um dos lados cansa, ou fica tão envergonhado de todos os “micos” pelos quais passa e também pelos que provoca, que desiste. Algo ainda poderia ser feito, relações poderiam sobreviver, mas um desiste por vergonha, falta de estímulo e o outro por preguiça, arrogância ou simplesmente porque descobre que não queria mais mesmo, só não tomava a atitude por que.... ah, às vezes nem sabe o porquê. Diria como uma criança: “Porque sim.”
Daí para a separação é mesmo um passo: um passo importante, perigoso, que geralmente não resolve o problema e ainda cria montes deles, gera ainda mais mágoas, proferem ainda mais ofensas, e a coisa perde de vez o freio. Bom, o que resta então??
Já que não dá para desligar as emoções da tomada e simplesmente deixar ir, tentemos os meios que nos cabem: quem ora, que ore muito; quem medita, que o faça com dedicação; quem não tem nenhum hábito que possibilite tentar ao menos, ache um; e quem já está suficientemente evoluído para o real perdão, perdoe e volte atrás, se feriu, redima-se, se é o ferido, converse e veja se há retorno, e se não houver, tente e tente. Persistência não é fraqueza, é vontade de acertar. Erra daqui, acerta dali, mas “quem não arrisca não petisca”!
Então esta deve ser a solução mais imediata: arrisque-se, puxe o fio do assunto, seja a tal mala sem alça que discute relações, deixe o orgulho ferido de lado, e se achar que não vale mesmo mais a pena, se o príncipe tiver mesmo virado sapo, aí meu bem, coloque ele na lagoa e vá viver, quem sabe ele um dia volta príncipe. Tem gente que só dá valor ao que não tem ou ao que teve e perdeu.
Por Carmem Calmon Lacerda
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