quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quer ser feliz? Confronte-se com acolhimento



Temos tanto medo de nos confrontarmos com nossa realidade interior, que vivemos buscando respostas para nossos problemas e angústias fora de nós. Culpamos e julgamos todas as pessoas com quem convivemos, acreditamos que somos vítimas da má sorte e que Deus nos esqueceu, como uma forma de colocarmos em algum lugar externa, as responsabilidades por todas as nossas dificuldades e dissabores. Algumas vezes, em momentos de dor mais intensa, entramos em um processo de muito medo, e acabamos nos rendendo às evidências do desequilíbrio, e não vemos outra saída, a não ser buscar ajuda exterior.

Porém, quando finalmente nos encontramos diante de um profissional que possa nos ajudar a reencontrar o equilibrio, nossa intenção é no sentido de fazer com que ele acredite em nossa condição de vítima. Contamos nossa história, nossos dissabores, temores e angústias, mas o tempo todo estamos tentando fazer com que esse profissional nos dê uma fórmula mágica a qual fará com que nossos problemas se dissipem e, o que mais desejamos, é que ele nos mostre um meio de mantermos nossa vida, atitudes e personalidade do jeito exato em que se encontra, sem que precisemos mudar qualquer condição interna em nós. Nossa tentativa é no sentido de encontrarmos meios de sairmos da dor e do medo, reassumindo o controle, e meios de mudarmos as pessoas que "nos ferem e prejudicam", como se toda a culpa fosse delas.

Não queremos que ele nos faça sugestões de promovermos mudanças internas, mesmo porque não gostamos nada da idéia de que ele nos aponte os nossos erros, nossas atitudes incorretas, nossa responsabilidade dentro do que nos acontece. Quando ele faz esse papel, de nos mostrar aquilo que está oculto em nosso inconsciente e que não queremos ver, e de nos mostrar o que em nós precisa ser modificado para que nossa interação com as pessoas e circunstâncias possam ser mais equilibradas, nossa reação é de recusa e de negação. Nos fechamos de forma a impedir que o terapeuta nos mostre além daquilo que estamos dispostos a ouvir e conhecer a nosso respeito.

Nosso pensamento é: não vim aqui para ser acusado, mas para que ele me ajude a provar, a mim mesmo e a todos, que estou certo e que sou a parte injustiçada e prejudicada, portanto, não quero ser responsável por nada do que me ocorre, mas quero encontrar uma forma de me fortalecer para vencer os problemas e as pessoas envolvidas nele, e para que possa encontrar meios de provar a essas pessoas o quanto elas estão erradas e precisam mudar. Elas sim precisam mudar, pois estou certo e convicto de que meus pensamentos, sentimentos e atitudes estão perfeitamente corretos.

Enquanto o terapeuta nos mostra a responsabilidade dos outros e nos acolhe em nossas dores, nos entregamos ao processo, mas basta que ele passe a nos apontar nossos defeitos e negatividades que nos trancamos internamente, na tentativa de não deixarmos que ele nos invada.

É aqui que nos prejudicamos, pois nessa atitude teimosa, arrogante, prepotente e defensiva, estamos perdendo a oportunidade de voltarmos o olhar para dentro de nós, com humildade e honestidade, para encontrarmos com nossos verdadeiros "inimigos", aqueles que são os únicos responsáveis por nossos fracassos, dores e temores - nossos medos, crenças antigas, mecanismos de auto-sabotagem, ódio, instinto de vingança, arrogância, dentre muitos outros - os quais mantemos tão habilmente trancafiados em nosso inconsciente para que ninguém, nem mesmo nós, possamos descobrir e para que evitemos entrar em contato com a dura realidade: somente nós somos os responsáveis por tudo o que nos acontece.

Somos responsáveis quando manipulamos as pessoas; quando nos omitimos em determinadas situações que pedem um posicionamento firme; quando permitimos que as pessoas nos prejudiquem ao invés de interditá-las, e nos fazemos de vítimas; quando nos deixamos manipular e envolver por hábeis tiranos, mesmo tendo consciência dessa interação; quando abrimos mão de nosso poder pessoal, ao invés de mantermos as rédeas de nossa vida em nossas mãos.

Portanto, fica claro que quanto mais insistimos em nos colocarmos em posição de infelizes vítimas da vida, ao invés de nos voltarmos para dentro de nós na intenção de descobrirmos quem somos de verdade, mais estamos resistindo ao processo que nos levará a uma liberdade verdadeira, em que nos libertaremos dos grilhões que nós mesmos nos impusemos inconscientemente. Quando atravessamos a densa camada de nossa negatividade, com consciência e determinação, encontraremos, oculta por essa camada, nossa verdadeira identidade, nossa essência divina. Portanto, quanto mais mergulhamos em nós, mais de nossa Luz libertamos.

Quando resolvemos nos confrontar, a despeito de todo e qualquer aspecto negativo que venhamos a descobrir a nosso respeito, e se soubermos acolher cada um desses aspectos, com amorosidade e aceitação, somos finalmente capazes de encontrar a felicidade que buscamos.

Não existe outro caminho a não ser o do autoconhecimento. Mas se não estamos dispostos a ir até as profundezas de nosso inconsciente e tentarmos apenas olhar para a superfície dele, acreditando que com o conhecimento de meia dúzia de defeitos já será o bastante para nos libertarmos, nunca nos sentiremos seres íntegros e equilibrados. Se resistirmos e nos enganarmos, por preguiça, medo ou covardia - também devemos descobrir esta verdade oculta -, nosso Ego reassumirá o poder, e tentará, a todo custo, nos fazer acreditar que o caminho do autoconfronto é perigoso e que fará com que nos percamos de nós mesmos. Se nos perdermos, será do nosso próprio Ego, se sentirmos a sensação de confusão e de perda de identidade é porque estaremos nos desidentificando com nosso Ego, o que é ótimo, para que possamos ter a liberdade de descobrir nossa negatividade oculta, o que nos levará a descobrir nossa identidade Real.

Porém, poderemos nos equivocar e passarmos a nos identificar com nossos aspectos negativos, acreditando que somos essa parte horrível de nós. Era justamente pelo medo que tínhamos de descobrir essa realidade, que nos deixávamos guiar por nosso Ego, para que o mundo não viesse a descobrir o ser abominável que somos. Mas se perseverarmos, conseguiremos nos libertar novamente das garras do Ego manipulador e nos entregaremos novamente ao processo, que nos levará a descobrir tudo o que há de pior em nós, sem acreditarmos que somos esses aspectos negativos, mas que apenas os contemos. Conseguiremos compreender, que nossa negatividade é proveniente da mesma corrente de energia positiva, que faz parte da Luz de nosso Ser Real, a qual apenas se negativou, mas continua sendo luz.

Isto nos trará serenidade para passarmos a nos confrontar cada vez mais profundamente e, a cada descoberta de negatividade, saberemos que ela apenas faz parte de nós na dualidade e que não é nossa realidade final. E tudo de negativo que faz parte de nós na dualidade, deve ser acolhido e aceito, para ser "educado e orientado", para que encontre o caminho de volta à nossa luz, o caminho da reconversão e reintegração com nossa essência divina.

Por Teresa Cristina Pascotto

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