quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O quanto somos dissociados de nós mesmos?


Fazer desaparecer da consciência experiências desagradáveis é uma das muitas táticas adotadas pelo nosso cérebro a fim de que o nosso sistema emocional sobreviva. Dissociação é um dos nomes utilizados para este tipo inconsciente de intento. Existem vários outros exemplos especificando os significados da palavra dissociação.

Aqui evidencio uma dentro dos princípios que iremos abordar. Ou seja, quando passamos por uma experiência muito ruim, de impensável digestão, nossos mecanismos de defesa e de sobrevivência realocam a experiência com todo o significado e impactos compreendidos no momento, como se estivessem numa caixinha congelada em algum local do nosso cérebro onde a mente consciente não se comunica.

O problema é quando eventos deste tipo ocorrem, acabamos sendo vítimas deste tipo de invenção.

Vou explicar melhor com um exemplo de um paciente meu que embora amasse profundamente a sua esposa, frequentemente era tomado por compulsão desmedida a ter casos extraconjugais, sendo que isso sempre foi uma constante em sua vida. Desde os tempos de namoro a sua história era sempre a mesma. No começo, e até há pouco tempo, buscava convencer-se de que agia assim pelo simples fato de ser homem e ser homem implicava em ter casos extras, acreditava.
Com o passar do tempo começou a perceber que não era tão dono da situação como supunha. Sentia-se impulsionado, como se fosse um mero escravo de obscuros aspectos seus, como se algo secreto o comandasse. O pior era o depois, quando sentimentos depressivos e de culpa o assolavam.

Racionalmente, desculpava-se, afinal, estava inserido num certo contexto social de aceitação e havia encontrado uma tribo de adeptos.

- Note que aqui não estamos falando, em hipótese alguma, de algum sentido moral e, sim, de bem-estar ou mal-estar gerados por alguma atitude efetivada sem o comando do eu consciente. Estamos falando de quando somos vítimas de nós mesmos, quando somos nossos próprios algozes.

Este é um exemplo típico de dissociação... Onde o motivo, por mais que fosse pesquisado em terapia, não mudava o contexto das ações e muito menos das angústias geradas.

Como romper um ciclo dissociativo?

Aqui se deve ser bastante consciencioso para conhecer se a pessoa tem estabilidade emocional para unificar-se e, definitivamente, curar-se. Por vezes, o processo pode levar mais tempo devido a certas fragilidades pessoais. O terapeuta tem obrigação de entender em qual status emocional seu paciente está para poder conduzi-lo a si mesmo em meio a maior eficácia, sem correr o risco de fragmentá-lo ainda mais.

No caso deste paciente, depois de algumas sessões em EMDR, durante o seu reprocessamento, ele se viu em sua casa de infância no interior, entrou em contato com inúmeras cenas que havia se esquecido totalmente e quando reviveu algumas delas, por alguns momentos passou por alguns rompantes emocionais que estavam enclausurados devido a fortes sentimentos represados desde sua infância. Durante o reprocessamento ocorreu descongelamento de cenas que ficaram pairando em seu cérebro, num tempo emocional muito distante do tempo dele de agora, adulto, mas que o estava afetando sobremaneira.

Seu aspecto adulto pode entrar em contato com a sua criança assustada libertando-a do medo e da desilusão em que estava e, assim, unificando-se, pode associar-se a si mesmo e trazer aspectos dessa criança curada para seu universo atual. Como efeito dessa unificação, ficou mais espontâneo e muito mais presente no seu agora. Neste momento, redesenha seus projetos futuros, assim como pode reprocessar eventos traumatizantes do passado sob uma nova compreensão emocional.

Neste caso específico, suas tendências extraconjugais perderam o sentido e outros significados, anteriormente impensáveis em sua vida, surgiram-lhe à mente como idéias inovadoramente surpreendentes.

Presente, passado e futuro, todas as dimensões de um só agora... Ininterrupto, intenso e mutante, basta se posicionar, ousar e conquistar – EMDR – Cura emocional na máxima velocidade.

Por Silvia Malamud


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