Se beleza física fosse fundamental para a felicidade, atores e modelos famosos pela privilegiada estética, seriam felizes para sempre. No entanto, sabemos que não é o que acontece na vida dessas pessoas, pelo fato de carregarem consigo as mesmas insatisfações da grande maioria dos "mortais".
O homem ocidental, baseado numa cultura que estimula a competitividade a partir da beleza física como atributo indispensavel para o sucesso, possui uma visão unilateral da vida e uma percepção linear da estética humana. Essa influência cultural, associada à genética, seleciona perfis ou biotipos como modelos de estética, e os meios de comunicação estabelecem a moda que dita regras de sucesso nas relações profissionais e interpessoais.
A cabeça feita, sem uma reflexão crítica da realidade midiática que constrói mitos baseados em valores superficiais do materialismo, tornam os indivíduos que perseguem obstinadamente esse ideal de beleza, pessoas insatisfeitas consigo mesmas, porque a satisfação parte do princípio de que não existem protótipos de beleza a serem, obstinadamente, perseguidos, e sim, uma orientação natural onde o saudável em primeiro lugar, associado à estética sem preconceitos, focam o indivíduo - seja ele do biotipo que for - a curtir uma vida sem neuroses.
A satisfação consigo mesmo segue a intuição natural que é ligada ao instinto de preservação da espécie humana. Portanto, a pessoa sedentária sabe que para garantir uma vida com mais qualidade na saúde e no relacionamento amoroso, deve seguir, equilibradamente, uma dieta alimentar e(ou) de exercícios físicos. Nesse sentido, a percepção de equilíbrio, que é inerente ao ser humano - e não a moda - é o que orienta o indivíduo na sua busca por um melhor nível de satisfação em sua vida.
No entanto, nos dias atuais, percebe-se um caminhar na contra-mão da orientação natural de equilíbrio. Revistas que se auto-intitulam "especializadas" em estética, vendem fórmulas milagrosas que transformam mulheres em princesas e homens em príncipes encantados, sem, no entanto, se darem conta que ainda existem "sapos enfeitiçados" e "belas adormecidas" no contexto das relações humanas.
O despertar da consciência para outros valores da vida, que vão muito além dos padronizados valores estéticos de beleza física, forma o contra-ponto da tendência atual que atinge os limites do exagero, da patologia e da alienação em relação à idolatria do corpo.
"Mens sana in corpore sano"(mente sã em corpo são), mensagem filosófica adaptada de uma mensagem crística relacionada ao corpo como sendo templo do espírito, ainda reflete o ideal de equilíbrio saudável que independe de biotipo ou de padrão de beleza física.
Os valores do espírito passam pela responsabilidade do corpo físico que nos foi confiado. Sem ele não haveria vida humana na dimensão em que, transitóriamente, existimos. Como referiu-se Jesus em sua mensagem original, o corpo é o nosso templo que deve ser cuidado e jamais negligenciado ou deliberadamente mau tratado.
Portanto, a linha natural que estimula o indivíduo a perceber-se como corpo, mente e espírito, é a filosofia que mais aproxima-se da estética do amor numa relação saudável consigo mesmo e com o outrem.
Os desequilíbrios bio-psíquico-espirituais emanam da percepção linear da vida, fruto da cultura materialista e fundamentada na visão unilateral da existência humana, sem reflexões, questionamentos ou buscas.
O despertar para a visão interdimensional, exige do indivíduo uma revisão de valores e, conforme o caso, ajuda psicoterapêutica para (re)encontrar o ponto de partida do equilíbrio vital.
Compreender que estética não é sinônimo de amor, e que relação saudável independe de padrões de beleza, mas de percepção - ou noção - de equilíbrio vital, é o primeiro passo a ser dado rumo ao saudável em nós mesmos.
Fazer das relações afetivas uma consciente associação entre amor, estética e vida, nos fortalece no sentido de novos valores adquiridos. Valores que passam pela percepção da interdimensionalidade de nossa existência, onde a beleza ganha uma dimensão nunca antes imaginada.
A busca de uma relação saudável consigo mesmo e com o outrem, é o maior desafio do espírito encarnado. Sem este vital estímulo, o indivíduo, como se fosse uma marionete que expressa a vontade de quem a manipula, permanece no "sono" da inconsciência por tempo indeterminado.
Despertar para a luz da consciência de si mesmo, inserido em uma realidade interdimensional, é estar preparado para uma melhor relação com o mundo em que vivemos, onde amor e estética são valores inseparáveis e imperecíveis.
Por Fávio Bastos
Nenhum comentário:
Postar um comentário