quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Casamento



Excelente matéria do nosso filósofo Paulo Ghiraldelli Jr

O casamento não é um jogo de tênis, mas de frescobol. Um amigo meu, professor em Tocantins, disse isso com acerto. Não sei se é dele a idéia ou se leu em algum lugar, mas, enfim, a comparação é boa.

De fato, no jogo de tênis o que se deve fazer, para que o jogo ocorra, é colocar a bola no lugar mais difícil, de modo a tornar a vida do outro um dispêndio máximo de energia. Ganha quem dificulta. No frescobol, para que ele ocorra, o jogador deve fazer com que a bola chegue para o outro de um modo que o outro gaste o mínimo esforço possível para apanhá-la. Ganha quem facilita.

O casamento é um jogo, certamente. Mas é um jogo de frescobol. Quem não “arredonda” a bola para o outro e, enfim, imagina que está num jogo de tênis, pode fazer o jogo não acontecer. Ou seja, pode fazer o casamento não se desenrolar.

O frescobol não pode ser jogado por aqueles que precisam combinar regras. Não faz sentido conversar sobre a prática do frescobol. A idéia é simples: “arrendondar” a bola para o outro, não deixar a bola se tornar algo difícil, fazer com que o outro possa rebater. O que há para ser dito? Nada! O casamento que exige conversa, não funciona. “Discutir o relacionamento” é uma tarefa de quem já deveria ter pedido o divórcio.

Relacionamentos não podem ser discutidos. No frescobol, a coisa é tão simples, que tentar combinar algo já é desgastante demais. Quem seria tão estúpido a ponto de desconfiar que o frescobol poderia ser jogado senão com dois que, sem qualquer conversa, iniciam a partida tentando fazer durar a seqüência de toques?

Quando a esposa ou o marido precisam conversar, toda semana, para acertar ponteiros de como manter o casamento funcionando, o divórcio já deveria ter sido pedido. Casamento não é lugar de conversa de negociação. Casamento é lugar de sexo e frescobol. Quem gosta de negociação não deve ir à praia, deve ir a um sindicato ou coisa parecida.

As pessoas que querem discutir o relacionamento, antes de tudo, deveriam concordar que é o sexo que está ruim. Vendo isso, não conversariam, apenas iriam para a praia tentando achar quem entende de frescobol, uma vez que o já ex-parceiro só sabia tênis. Mas há teimosos, os que passam uma vida jogando tênis quando tênis não é o jogo. Discutir relacionamento só é bom se é uma discussão única, aquela que encaminha ambos para o Fórum, de modo a resolver tudo por meio do divórcio.

Não quero dizer com isso que diálogo no casamento não ajuda. Ao contrário. Diálogo é tudo, após sexo. Mas o diálogo já tem de ser feito no espírito do frescobol. Caso seja o diálogo para explicar o que é o frescobol, aí não, não vale a pena. Ninguém pode ser tão imbecil a ponto de querer discutir o relacionamento, uma vez que o casamento é, na verdade, algo simples. Tão simples quanto o frescobol.

Agora, as pessoas se enchem de filhos, de dívidas e de trabalho. Fazem sexo mal. Se acotovelam. Querem jogar tênis e não frescobol. E acham que podem, fazendo tudo isso, resolver as coisas com a “discussão do relacionamento”. Ora, quem acha isso, está com algum problema cerebral grave.


©2010 Paulo Ghiraldelli Jr. Filósofo, escritor e professor da UFRRJ.

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