quinta-feira, 13 de maio de 2010

Uma visão diferente do dia das mães...

Navegando no blog do filósogo Ghiraldelli Jr encontrei uma visão interessante sobre o "dia das mães", vale a pena conferir não só a matéria abaixo como entrar em seu blog e se deleitar com as idéias desse filósofo.

by Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo.

"Falam em “instinto materno”. Não à toa. Quem experimentou o impulso espontâneo para dar amor a um filho e torcer pela sua felicidade, como uma força que não passa por nenhuma deliberação racional, sabe do que estou falando. Instinto materno é um instinto descabelado. A cobrança da espécie ao indivíduo? Seja lá o que for, mas que não tem eira nem beira, isso não tem mesmo!

Essa energia para cuidar de um rebento, humano ou animal, que muitas mulheres sentem, é tão poderosa que faz algumas, que optaram por não se encaminharem para a função materna, serem chamadas de “mulheres sem natureza”. É claro que isso é um erro e uma enorme injustiça. Não se deve censurar ninguém por não ser mãe, por não querer ser mãe – ao menos no sentido tradicional do termo. O que é necessário entender é que a tal força para cuidar de criança ou filhote, quando surge, é avassaladora. Quando ela vem, não há represa que a segure.

Os filhos são pais e são mães – mais cedo ou mais tarde, chegam nisso. Infelizmente, para vários, quando isso ocorre e eles reconhecem o tal instinto materno (ou paterno) neles próprios, já é tarde para eles poderem se voltar para o pai ou para a mãe para, então, confessarem: “só agora eu entendi você”.

Muitos filhos acreditam que, como se trata de instinto ou algo que assim possa ser chamado, e que, portanto, não passa por deliberação, não pode ser valorizado. Eles imaginam que se é um impulso, torna-se algo impositivo para a mãe. Raciocinam assim: já que não se delibera, que é algo, digamos, espontâneo, então não há nenhum sacrifício nele e, por isso, o que a mãe faz por um filho nada é que aquilo que ele tem o direito de cobrar.

No limite, a sociedade pensa um pouco assim, ainda que diga o contrário. Basta uma moça, em desespero, abandonar uma criança, e o mundo cai sobre ela. “Mãe desnaturada” é uma frase que equivale a uma sentença de morte. Em alguns lugares, ela é levada a cabo. Em outros a frase é agregada a tudo que existe de pior no ambiente do preconceito e da injustiça: “nem puta abandona o filho” – e eis que surgem mil histórias de mulheres que sustentaram os filhos antes com o suor da vagina que do rosto, ainda que no ato sexual o suor do rosto é o que apareça mais. Essa sentença sobre a mulher é a pior das ditaduras: você está condenada à maternidade e, se foi “premiada por Deus por ter um filho” e o abandonou, pecou contra toda a humanidade. A forma como a humanidade diz que se pecou contra ela é, neste caso, uma bela enganação.

Não raro, filho injustiça a mãe e, com mais freqüência ainda, o pai. Caso a mãe ou o pai fiquem viúvos, são proibidos de casar. Caso se divorcie, o pai é logo punido com a inimizade. Quando é a mãe que toma a iniciativa, é acusada de ser uma provocadora da desonra e coisa assim. Uma vez que pais cedem uma mão, logo eles são convocados para cederem o pé. Filho é um saco sem fundo, um eterno querer. Até aí tudo bem. O pior é quando se tornam um eterno exigir.

Até mesmo o Dia das Mães passa, então, a ser negociado. A mãe tem de ficar disponível no Dia das Mães. Ela ficou disponível o ano todo e, neste dia, é decretado mundialmente que ela deve ficar disponível para todos – filhos e não filhos. Tem de ir às festinhas de escola em sua homenagem e, propriamente no domingo, agüentar familiares que ou aparecem em sua casa para colocá-la na cozinha – principalmente quando dizem que não vão fazer isso – ou para levá-la para almoçar onde eles querem, sem perguntar para a mãe se é ali que ela deseja ou não. Os presentes, então, são um martírio. Tudo que a mãe não precisa aparece nesse dia. É pior que o Natal da mãe.

Na segunda feira, terminado o Dia das Mães, começa tudo de novo: todas as mulheres novamente são condenadas a serem mães. Mesmo com o tal instinto materno funcionando, não há quem agüente isso sem capa e espada."


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