sábado, 11 de julho de 2009

Uma alma que chora


Quando um relacionamento termina os questionamentos são muitos. Nossa cabeça quer respostas e buscamos encontrar um culpado, alguém que se responsabilize por toda dor que sentimos. Nos perguntamos se erramos, onde erramos, onde nos perdemos. Olhamos para os lados e só encontramos um vazio, olhamos para dentro de nós mesmos e só encontramos dor.

Como conseguimos nos machucar tanto? Nos machucamos ao permitir que colocassem uma faca onde já existia uma ferida e, assim, não a deixamos cicatrizar, pois cada vez que pára de sangrar, recomeçamos a mexer na ferida, muitas vezes sem percebermos, e quando nos damos conta, já está sangrando novamente. E como dói! Por que insistimos tanto naquilo que nos faz mal, nos faz sofrer?


Será que nosso sofrimento não se torna tão intenso por negarmos a realidade dos fatos? No que realmente acreditamos, enquanto o relacionamento durou? Na pessoa como ela é ou naquilo que gostaríamos que ela fosse? Acreditamos no outro como ele se apresenta, ou na imagem que idealizamos que ele seja? Por que insistimos em mudar o que, ou quem, não quer ser mudado? Talvez a resposta seja que devemos enfrentar e aceitar a realidade dos fatos e não a realidade que gostaríamos que existisse. Sofremos não pela realidade em si, mas pela busca de nossa verdade. Ficamos esperando que o outro mude e quanto mais esperamos, menos reagimos e mais sofremos; adiando cada vez mais nossa capacidade em nos reconstruir; esperando que quem foi embora, volte para nos salvar.

Os motivos que nos fazem entrar em relacionamentos que acabam deixando muita dor podem ser muitos, e depois que estamos envolvidos emocionalmente, mais difícil ainda se torna sair dele ou aceitar seu fim. Enquanto se está junto de alguém é muito comum cedermos em valores que são importantes para nós e aos poucos, eles vão se somando, até que não conseguimos mais suportar conviver com quem se tornou um total desconhecido: nós mesmos! Pois chegamos em um ponto, que nem sabemos mais quem somos. Nos perdemos aos poucos e perdemos também quem amamos.

Somos abandonados porque muito antes disso, nos abandonamos na mesma proporção.

Quando esquecemos de nós mesmos, nos desvalorizamos, deixamos de nos cuidar, entre muitos motivos, por estarmos muito ocupados em fazer o outro feliz. É quando a outra pessoa faz exatamente o mesmo com nós, cuida de si mesma como se não existíssemos. Aos poucos e com o tempo, vamos perdendo a beleza, o brilho, a luz, a energia, a vontade, a conexão com nossos sentimentos e, principalmente, com nossa voz interior.

Quantos sinais recebemos que não daria certo, e sequer ouvimos? Nosso verdadeiro eu começa a ficar tão distante, que não conseguimos mais distinguir o certo do errado, o caminho a ser seguido e acreditamos estar sofrendo porque o outro nos deixou. Será que ficamos sem chão, sem ar, com o coração sangrando, a alma dilacerada, por que o outro foi embora ou por que perdemos a conexão com nós mesmos, quando aos poucos, fomos nos abandonando? Será que nosso sofrimento é mesmo por que o outro foi embora ou é nossa alma que chora há tempos pela nossa própria ausência?


Não podemos negar que uma separação dói e muito, mas a intensidade e a duração do nosso sofrimento, se é que podemos medir sofrimento, perdura de acordo com o tempo que levamos para nos aproximarmos de quem somos. Muitas pessoas entram em depressão.

A tristeza é tanta, que se torna crônica. Ficam deprimidas exatamente pela negação da realidade e sua dificuldade em enfrentarem sua própria verdade. A depressão nada mais é do que um convite para a reflexão, uma oportunidade de mergulharmos em nosso interior, já dizia Jung. Sofremos, mais do que o necessário, porque nos abandonamos, nos negligenciamos, nos perdemos de nós mesmos. E choramos pelo outro quando, na verdade, devíamos estar chorando por nós mesmos, e principalmente, pelo que permitimos que fizessem com aquilo que damos o nome de amor!

Demos tudo! Carinho, colo, ombro, respeito, verdade, amizade, cumplicidade, sinceridade, fidelidade, e tudo mais que um ser humano quando ama é capaz de doar. E o que recebemos? Desprezo, mentira, abandono, traição e tudo aquilo que dói em nosso coração. Amar é isso? Não, amar não é sofrer, se sofremos pode ser aquilo que insistimos em chamar de amor, ou o que pensamos que era amor, mas com certeza não é amor. Mas o que é então? É nossa necessidade em sermos amados, aceitos, aprovados, reconhecidos. É uma enorme necessidade que o nosso vazio seja preenchido com aquilo que não nos sentimos capazes de nos dar.

É uma carência da ausência, antes de tudo, de nós mesmos.


Quando sentimos dor é porque de alguma forma resistimos às mudanças, preferimos amar o outro, mesmo que tenha nos deixado, a ter que amar a nós mesmos e assim, sofremos. Se não podemos modificar alguém, nem torná-lo naquilo que gostaríamos, por que não começamos as mudanças dentro de nós? Por que continuar querendo se aproximar de quem se foi e se manter tão distante de si mesmo? Por que ficar esperando pelo amor do outro, quando há tanto amor dentro de si? Será que esse não é o momento de descobrir suas próprias verdades, satisfazer suas próprias necessidades, ouvir seu próprio coração e deixar que ele fale o que significa realmente amar?


Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior.

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