quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A face do medo





O medo faz parte da existência humana e nos acompanha por toda a vida. Se é assim, então, devemos aceitá-lo! Aceitar não significa estar fadado a viver prisioneiro do medo, mas sim, parar de lutar contra uma força que está dentro de nós. Quando paramos de lutar, ele tem a chance de se manifestar e mostrar sua face. 

Passamos a vida tentando evitar, negar e ocultar o medo, e o empurramos para um lugar muito escondido nos porões de nosso inconsciente, na tentativa de o mantermos bem longe de nós. Mas o medo se acumulou e se intensificou, tomando grandes proporções, fazendo com que num determinado ponto em nossa vida, torna-se impossível mantermos esse jogo de 'faz de conta que não sinto medo. 

É quando ele mostra sua face e nos paralisa. O pior medo, não é aquele que percebemos e sentimos, mas aquele profundo e oculto, que se manifesta de forma velada, sorrateira, é aquele medo ficou aprisionado por longos anos e que aprendeu a encontrar frestas e brechas para fugir, é aquele que o ego usa muito astutamente, sempre que se vê ameaçado em perder o poder para nosso Espírito. Este tipo de medo fica quietinho, à espreita, só esperando o momento em que estejamos mais satisfeitos com nosso desenvolvimento, momentos estes em que estamos nos sentindo fortalecidos e confiantes e que não sentimos medo de nada, em que tudo nos parece perfeitamente possível. Naqueles momentos de nosso desenvolvimento em que já superamos muitas barreiras, inclusive as barreiras dos medos mais superficiais, o que nos leva a acreditar que já não sentimos mais medo e que ele já não nos ameaça mais, que já sabemos lidar com ele e que a "quantidade" e intensidade do medo estão praticamente esgotadas. 

Nesses momentos de autoconfiança, nos abrimos mais para a vida e para nosso Espírito, permitindo que ele se manifeste de forma mais intensa em nossa vida e é aqui que o ego nos pega de surpresa e nos sabota. O medo mais terrível que está escondido em nosso inconsciente, é a arma mais letal que o ego tem para nos frear e destruir toda e qualquer possibilidade que tenhamos em seguir a trilha de nosso coração. 

Desta forma, naqueles momentos em que estamos mais confiantes e encorajados para realizarmos nosso propósito de vida, emanamos uma vibração que ativa o sensor que o ego colocou para detectar qualquer sinal desta vibração, ativando o alarme que faz com que o ego perceba - sem que tenhamos essa consciência - o que de fato está acontecendo: ele perdeu o controle sobre nós. A sensação de realização que estamos experimentando só é possível quando somos tomados pelos impulsos de nossa alma, sendo direcionados aos caminhos do coração. Quando o alarme dispara o ego entra em 'pânico e sabe que precisa fazer de tudo para evitar a catástrofe eminente. 

Ele, então, ativa os mecanismos que abrem as travas que aprisionam o MEDO mais profundo. Este medo mais oculto é o mais assustador, o mais paralisante. O ego não se dá ao trabalho de liberar energias de 'medinhos tolos e simples quando quer nos travar. Ele precisa liberar cargas muito explosivas e paralisantes de medo. O mais assustador nesta carga liberada, não é o medo em si, mas a forma oculta, dissimulada e 'sinistra com que ele se manifesta. Nós simplesmente não conseguimos perceber, é o tipo de medo que não sentimos. 

Assim, estamos num momento mágico de satisfação e expansão de consciência e, do nada, começamos a sentir um mal estar, ficamos incomodados, entorpecidos, cabeça pesada, coração disparando, sensação de aperto na garganta, tontura, tristeza, angústia, nos desequilibramos emocional e mentalmente. Porém, nada nos faz perceber que estamos com medo. 

Se entendermos que é simplesmente medo e lidarmos com isso de forma natural, como quem enfrenta algo que precisa ser enfrentado, teremos condições de superar os efeitos do medo. Precisaremos estar conscientes dessas armadilhas do ego, para que estejamos mais atentos, mas não de forma persecutória, para que possamos perceber quando estiver acontecendo. Isto nos dará mais poder pessoal, não para evitar ou aniquilar o medo que se manifestará, mas sim, para lidar com ele com mais segurança e propriedade. 

A forma de lidar com esse medo é aceitando-o e acolhendo-o. Se estivermos passando por um momento de satisfação e confiança e passarmos para uma sensação de desconforto sem causa aparente, devemos ficar atentos e prontos para percebermos o que virá a seguir. Deveremos assistir ao medo se manifestando, sentindo-o e nos entregando ao seu fluxo e intensidade. É desconfortável e, obviamente, sentiremos medo do medo, mas deveremos confiar em nossa força interior e no processo e deixar acontecer, permitindo que o medo seja liberado. Conversaremos com o medo, dizendo que ele é bem-vindo, que entendemos que ele esteve aprisionado por muito tempo, ao invés de ter sido aceito em cada momento de nossa vida em que se manifestou, e que deve ser liberado, mas que ainda não somos capazes de lidar com toda a sua potência armazenada por tanto tempo. Diremos a ele que agora somos capazes de compreender que ele é somente medo e não uma força destrutiva, conforme o ego nos fez acreditar até então, e que sabemos que o ego está usando-o para nos manipular e interditar para não seguirmos os impulsos de nossa alma. Diremos também que sabemos que precisaremos aprender a lidar com ele, aos poucos, para que ele não seja mais um inimigo e sim um aliado, pois estamos começando a compreender que ele só se tornou uma força destrutiva porque não foi acolhido em suas manifestações naturais que eram apenas indicadores de que estávamos passando por perigos, para que nos protegêssemos, e que, em sua essência, ele é força divina, proveniente das virtudes coragem e amor que foram negativadas ao entrarem na dualidade. 

Quando o medo se sente aceito e compreendido, torna-se força e poder, e um indicador de que estamos no caminho certo. Imediatamente, ao ser aceito desta forma, as sensações pesadas do medo se dissipam e dão lugar às sensações de paz, força e segurança, muito verdadeiras e poderosas. Medo aceito e acolhido mostra sua face, se dissipa e nos apóia. Medo negado destrói e é um dos mais intensos motivos de nossas sensações de fracasso, derrota e paralisação. 

Então, que nos aliemos ao medo e façamos dele um verdadeiro amigo e apoio para nossa trajetória de vida, ele será mais fiel que o ego, pois o medo não tem nada a nos esconder, ele mostra a realidade e não nos engana. É possível, basta acessarmos um pouco da coragem que há em nós, para começarmos a fazer isso. Aos poucos aprenderemos a lidar com cargas de medo mais intensas. Isto fará com que aquele medo acumulado nos porões ocultos de nosso inconsciente, comece a ser liberado e dissipado. Ficaremos então, apenas com os medos momentâneos, aqueles que se manifestam de forma pontual, e não com aqueles medos antiqüíssimos e pesadíssimos que carregamos desta e de outras vidas. 

Por Teresa Cristina Pascotto

Um comentário:

Sylvia Pabst disse...

Esse medo que tememos e tentamos fugir, que não damos conta de quanto mais fugimos mais ele cresce e mais nos paralisa. Mas, fugimos porque nunca ninguém nos ensinou como enfrentá-lo. Os pais não têm o costume de ajudar seus filhos a enfrentar os medos por mais remotos que sejam, ao contrário muitos às vezes colocam mais medo ainda em seus filhos e depois? Quais as consequências? Muitas vezes as piores possíveis, pois chega a paralisar. Para conseguirmos encarar nossos medos precisamos aprender a olhar para dentro da gente, buscar pontos positivos pois são eles que nos darão a força e a coragem para transformar os medos em desafios para o crescimento e amadurecimento da vida.