Conheci Ana Lucia quando me procurou para terapia e convivi com ela em cursos e grupos. Moça alta, bonita, formada em direito, tinha tudo para estar feliz, mas vivendo um momento difícil, com o fim de um casamento que durou 8 anos, estava triste. Trabalhamos em terapia questões familiares e de auto-estima porque no fim de uma relação afetiva é muito natural a pessoa estar meio destruída sem saber ao certo se errou ou acertou colocando um fim na relação. Nem sempre as coisas terminam claramente.
Perder a identidade quando se vive um relacionamento longo é bem natural, porque sem perceber vamos nos adaptando ao outro, cedendo às suas vontades e tentando conciliar nossos gostos e desejos, em função da perspectiva do outro. E não há nada exatamente errado nisso porque não somos reis nem rainhas e, portanto, temos mesmo que nos render às regras básicas da boa convivência.
Ceder faz parte de qualquer relação, ouvir o outro, aceitar seus pontos de vista também. Isso é o que podemos chamar de construir uma história de cumplicidade. Mas quando não recebemos de volta o que oferecemos, não adianta brigar, gritar, como havia feito Ana Lucia no seu casamento. Aliás, quando ela me procurou já tinha claro dentro de si que em alguns momentos ela cedeu além do que devia e, em outros momentos, gritou, brigou tentando colocar suas opiniões e sentimentos, e de nada adiantou.
Vimos, em Vidas Passadas, a guerreira forte que não quis aprender com os demais. Vimos também em outro encontro a versão oposta da mulher que guardou tudo dentro de si, mostrando uma submissão que não era verdadeira. Entendendo esses dois extremos da personalidade dela, tratamos de equilibrar as forças visando um bem-estar numa relação futura.
Ana Lucia tinha algo muito positivo. Essa moça era muito corajosa e honesta consigo mesma e, depois de sofrer tanto com o termino da relação, queria ver o que estava errado no seu comportamento para mudar. E isso é fundamental para a conquista do bem-estar, mas eu não esperava dela uma atitude tão sábia quanto a que ela teve numa viagem com uma amiga...
Voltando da Europa novamente veio me procurar. Feliz com as lembranças da viagem, relatou que estava muito mais tranqüila agora que aceitava ficar sozinha e respeitar seus limites, e não se colocava mais na condição de vitima como fez durante muito tempo. Mas veja, amigo leitor, que bonita a vivência que ela teve em Roma.
“Maria Silvia, estávamos em três amigas dividindo tudo, passeios, visitando museus, peregrinando pelas ruas, conhecendo lojas. Foi tudo muito bacana, mas uma das minhas colegas estava sempre mal humorada, fechada, meio triste e a gente carregando ela para todo lugar tentando mudar o astral.
Um dia, enquanto stávamos nos preparando para visitar o Vaticano, percebemos que ela colocou roupas mais formais, enquanto nós continuávamos de bermuda e camiseta pois fazia calor naqueles dias. Quando chegamos lá, não pudemos entrar justamente por conta de nossas roupas. Na hora, ficamos morrendo de raiva de nossa amiga. Tive vontade de xingar e gritar defendendo meu lado, mas não fiz isso. Respirei fundo e deixei passar. Minha outra colega ficou possessa e brigou bastante. Eu não agi assim. Como era uma viagem tão especial, resolvi que não iria estragar tudo ficando de mal humor e me mantive calma. enquanto as duas brigaram. Somente quando voltei ao Brasil é que fui conversar sobre o assunto. Nos encontramos e perguntei para ela por que havia agido assim. Por que não nos avisou da roupa correta para se usar na visita, já que ela sabia?
Levei em conta que minha amiga estava sofrendo, que era uma pessoa boa mas estava desarmonizada. Cheguei à conclusão que não valia à pena perder uma amizade por conta de uma atitude ridícula da parte dela. Fui superior e relevei sua atitude egoísta”. disse Ana Lucia triunfante.
Amigo leitor, você pode estar pensando: o que tem a ver a amizade da Ana Lucia com o mau karma em seu casamento???
Ana Lucia venceu o karma porque controlou sua a ação impulsiva. Não somos uma pessoa no namoro ou casamento, outra na vida familiar, outra ainda no trabalho ou na amizade. Somos seres que se conectam a muitas facetas da vida, mas ainda assim somos um único ser. Se Ana Lúcia aprende controlar uma ação impulsiva na amizade, temos fortes indícios que ela fará o mesmo numa próxima vivência amorosa.
A energia, o karma, começa nela, e segue vibrando em suas atitudes. Se tivesse agido por impulso, por vingança, ou para descontar a raiva que sentia da colega de viagem, que cá entre nós acho que agiu muito errado. A atitude teria sido gritar, xingar, e estragar seus últimos dias de viagem, mas minha cliente aprendeu a lição, pensou antes de agir, ponderou os prós e os contras e não se deixou levar pelo impulso. No seu casamento, ela o tempo inteiro brigava ou cedia a situações erradas, cheia de raiva de forma totalmente impulsiva. Agora, ela caminhava mais leve, pensando, refletindo antes de agir. Com sabedoria, ela tinha um domínio maior de suas atitudes. Com isso, libertou-se do karma e está se abrindo a relações mais tranqüilas. Muitas vezes, as soluções não estão em nossas mãos, mas em outras circunstâncias. Mudar está mais perto de nós do que pensamos.
Por Maria Silvia Orlovas
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