sábado, 28 de novembro de 2009
Reflexão - Carlos Drummond de Andrade
Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que real mente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situaçãoe saber o que fazer.Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?" Difícil é dizer "adeus".
Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ditar regras.
Difícil é segui-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro .
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho. Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata".
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Frustração (...há muito tempo atrás...)
Por Bel Bezerra
Já sentiu vontade de morar sozinha sem ninguem? De poder ter todas as suas coisas como vc as quer no lugar que vc quer e que com certeza vai encontrar qdo chegar em casa do jeito que vc deixou?
Já sentiu vontade de ter seus lençóis limpos e cheirosos com uma cama bem feita e bonita cheia de almofadas macias..arrumado?
De abrir sua gaveta e encontrar seus pertences arrumados...sabe aquelas manias que temos ? Pois é , e que ninguem respeita?
Já sentiu vontade de escrever mas não poder pq vai ter gente sempre olhando, metendo os olhos onde vc não quer? Não por ter algo mas por ser seu?
Já sentiu vontade de ter seu espaço e qdo vc o vê, nota que está uma zona pq alguem o invadiu e nao te respeitou?
Já teve vontade de chutar a tina mas não pode pq vc tem responsabilidades?
Já sentiu vontade de querer fazer algo mas estar tão cansado e ninguem se importar que vc tenha deixado de fazer pq teve que fazer outras coisas para terceiros? E ainda ao chegar ver todos com a cara mais descansada e ainda se dando ao luxo de reclamar?
Já chegou em casa e no mesmo instante vontade de dar meia volta e sumir? Já teve vontade de chegar numa cozinha e quebrar tudo que encontrar pela frente? Já sentiu vontade de gritar até ficar rouco para ver se consegue por para fora o que está te sufocando ou o que está te embrulhando o estomago?
Já sentiu vontade de sentar-se em um sofá confortavelmente e ficar escutando um clássico sem ninguem para desligar por querer ver tv?
Já teve vontade de sair e passar o dia fora e ao retornar ver que tudo está nos seus lugares? Já teve vontade de após um relaxante banho, isto qdo vc o encontra "entrável", deitar para ler um bom livro e ter o prazer de adormecer sem acordar assustado por invadirem seu quarto aos trancos?
Já teve momentos em que vc já se cansou de repetir sempre as mesmas coisas e ninguem de dar atenção pq na verdade nada do que vc diz ou quer ou faça lhes incomoda e sim somente a vc?
Já sentiu vontade de fechar os olhos e não ver tudo que te magoa e mesmo que te incomoda? Dos valores e cuidados que só vc tem e ninguem dá a minima? Da falta de união, da falta de companheirismo, de solidariedade, da cumplicidade, do afeto..do respeito.....
Já sentiu falta daquele beijo que aviva a alma e aquece o espírito? Daquele abraço, daquele carinho sem hora marcada?
Pois por tudo isso que quem vive a nossa volta não enxerga ou que não quer ver o quanto nos atropelam, nos machucam, nos agridem e nos desrespeitam transgredindo nossos limites.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Escritos e Parábolas para a Paz
“Invoquem a paz sobre Jerusalém
que sejam pacíficos aqueles que te amam
que a paz venha para os teus muros
que sejam pacíficas tuas casas
pelo amor dos meus irmãos, dos meus amigos
deixe-me dizer, paz sobre ti
por amor da casa de YHWH
“Aquele que era, que é e que vem”,
oro pela tua felicidade!” (Salmo 122)
Qual é esta paz que “aqueles que amam” invocam sobre Jerusalém e sobre o mundo?
Que eles próprios sejam pacíficos, essa é sem dúvida a primeira condição para que se realize, já no seu próprio corpo e no seu próprio espírito, a paz que eles desejam a todos.
A palavra hebraica “Shalom” deriva de uma raiz que designa o fato de estar intacto, inteiro; estar em paz é estar “inteiro”, nós não estamos em paz porque não estamos inteiramente aqui... Qual é a parte de nós mesmos que nos falta, que está esquecida ou reprimida – o que nos impede de estarmos em paz?
Perceberemos que quando somos amorosos, somos mais “inteiros”, o amor nos une, nada mais nos falta em nós mesmos, tudo está “voltado para” o Outro.
O mandamento ou o exercício (mitzvot) proposto pela Escritura é um exercício terapêutico, cujo fruto é o de nos fazer “Um”, corpo, coração e espírito, portanto, estarmos felizes e em paz:
“Tu amarás “Aquele que era, que É e que será” de todas as tuas forças, de todo teu coração, de todo teu espírito e tu amarás teu próximo, aquele que era, que é e que será como a ti mesmo, tal qual tu eras, tu és e tu te tornarás...”
A paz abrange todos os tempos. Será que podemos estar em paz com o nosso presente, se não o estivermos com o nosso passado? Será que podemos estar em paz com “aquilo que será”, com “aquilo que virá” se não estivermos em paz com o nosso presente?
A paz designa “o bem-estar do ser” e particularmente do ser humano que vive em harmonia com ele mesmo, com Deus, com os outros, com a natureza, suas sombras e sua luz... Na Bíblia, “estar em boa saúde” e “estar em paz” são duas expressões paralelas; para perguntar como vai alguém; se ele está bem, dizemos: “ele está em paz?”.
Dizemos que Abraão morreu numa idade avançada, feliz e saciado de dias, que “ele se foi em paz”. Também dizemos do nosso namorado que ele é “o homem da minha paz”. A paz é, então, uma confiança mútua, que torna possível a vida em comum e a fraternidade; sem esta paz e esta confiança entre nós, não há comunidade humana ou futuro possível.
Todos os bens materiais, afetivos, intelectuais e espirituais que nós podemos nos desejar uns aos outros estão resumidos nesta simples palavra: Shalom, Salam (em árabe), Bom dia – a paz esteja contigo, em ti e entre nós...
Quando Jesus diz a alguém no Evangelho “Shalom”, é realmente uma “saudação”, uma “salvação”[1], uma cura. Quando ele diz à mulher hemorroíssa: “Vá em paz”, ele lhe devolve a saúde. Da mesma maneira àqueles que se afastaram de diversas maneiras, quando ele lhes diz: “Vá em paz”, eles têm o coração, o corpo e o espírito lavados da sua culpa, eles podem realmente se recolocar a caminho e ver “todas as coisas novas”.
Mas Jesus precisa que a “Sua paz, Ele não a dá como o mundo a dá”. Ela não é um tranqüilizante, um sedativo, que livraria os humanos das provações e das contradições do Real.
Jesus inscreve-se assim na linhagem dos antigos profetas que denunciam “as falsas pazes” e as falsas seguranças que são buscadas em outro lugar e não n’ “Aquele que era, que é e que será”, seu fundamento – aí estão as pazes ilusórias e mentirosas e ele vem nos libertar das nossas ilusões e das nossas mentiras.
Estar em paz é não ser parvo e acreditar-se invulnerável. O Dom da paz supõe uma metanóia, uma transformação da sua vida e da sua maneira de ser e de pensar; Miquéias, Jeremias denunciava assim os falsos profetas que têm apenas a palavra “paz” na sua boca e a ambição e outras vontades de poder no coração: “Eles curam superficialmente a chaga do meu povo dizendo “Paz, Paz” e, no entanto, não existe paz”. (Jr 6, 14)
Jesus será ainda mais radical quando ele dirá: “Penseis que vim trazer a paz sobre a terra? Não, mas o conflito. (polémos, em grego)” Isso quer dizer que se não reconhecermos nossas alteridades, e esse reconhecimento passa às vezes pelo conflito, não há paz verdadeira (particularmente no seio de uma mesma família onde a diferenciação, do pai e do filho, da mãe e da filha é por vezes difícil). A paz não nos deixa tranqüilos, pois se quisermos “permanecer inteiros” e verdadeiros, face ao outro e respeitá-lo na sua inteireza e na sua verdade, isso nem sempre acontece sem que haja um enfrentamento, é preciso amar o outro o suficiente para não ter medo de desagradá-lo e nos amar o suficiente para nos fazer respeitar na nossa identidade. Se o verdadeiro amor é sem complacência, a paz verdadeira é sem compromisso.
Ezequiel também não deixará de gritar: “Chega de remendos! O muro deve tombar” (Ez 13), mas quando os muros do medo, da vaidade, da ilusão e das mentiras desabarem, uma verdadeira paz será edificada.
“Eu sei, eu, “Aquele que era, que é e que será”, que tenho sobre vós um desígnio de paz e não de infelicidade” (Jo 29, 11). Isaías e Zacarias sonham com o “príncipe da paz” (Is 9, 5 /Za 9, 95) que dará uma “paz sem fim”, “é ele que estará em paz” (Mi 5, 4), as duas terras separadas se reconciliarão, as nações viverão em paz (Is 2, 2).
“Farei correr sobre Jerusalém como um rio...” Enquanto aguardamos, “Bem-aventurados os “artesãos” da paz”. A paz é um “artesanato” e não uma indústria. A diferença entre o artesão e o operário é que o artesão realiza um objeto, uma obra na sua “inteireza”, ele trabalha nela do início ao fim. Aquilo que se rouba do operário que trabalha na produção em cadeia é o acesso ao objeto na sua inteireza.
Assim, ser “artesão” da paz é tentar viver, nem que seja apenas uma única relação na sua inteireza, da maneira mais verdadeira e pacífica que possa existir.
Jesus pede que façamos a paz, que amemos o próximo, o mais próximo e não que façamos a paz e amemos “a humanidade”, “o mundo”. A palavra “paz”, os discursos sobre a paz não fazem de nós “artesãos da paz”, mas ideólogos, discursistas, pretensiosos pretendentes à paz, “mas a paz não existe...”
A questão, então, para aquele que, em Jerusalém ou em qualquer outro lugar, queira conhecer a felicidade dos artesãos da paz, não é mais: “O que é a paz?”,mas: “Quem é o meu próximo?”. Basta, então, termos olhos e “vermos” qual relação muito concreta devemos “apaziguar”, compreender e “reconciliar”... Isso começa, sem dúvida, em nós mesmos. Enquanto não tivermos feito a paz entre nossos diferentes quarteirões (cabeça – coração – ventre), não haverá paz entre os diferentes quarteirões de Jerusalém.
“Encontre a paz interior” dizia São Serafim de Sarov, “e uma multidão será salva ao teu lado.”
É sempre pelo mais próximo que devemos começar, é o primeiro passo de todos os caminhos que conduzem à paz.
Nunca vou muito longe
Para encontrar a paz
Basta uma flor no meu jardim
Ela não me coloca questões
Ela não me pergunta por quê
Todos os homens que têm uma flor no seu jardim
Não olham a flor
E não estão em paz
* * *
A calma das árvores queimadas pelo sol
ou arrancadas pelo homem é sempre calma
a calma das árvores sacudidas pela tempestade surpreende:
uma floresta de calma
Essa calma é também a do homem
é até mesmo o segredo da sua vida
mas só vemos as tempestades
o sol e o vento
só ouvimos o barulho que ele faz
jamais o silêncio que ele é
ninguém consegue imaginar o que seria uma cidade
se ela fosse habitada por homens que são o que eles são:
uma floresta de calma
Jean-Yves Leloup, doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, escritor, conferencista, dominicano e depois padre ortodoxo, oferece através dos seus livros, conferências e seminários um aprofundamento dos textos sagrados, assim como uma abordagem e uma reflexão extremamente ricas sobre a espiritualidade no quotidiano graças à uma formação pluridisciplinar de rara complementaridade. Membro da organização das Tradições Unidas, doutor honoris causa e ciências da Universidade de Colombo (Sri Lanka), Jean-Yves Leloup ensina na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul em diferentes universidades e institutos de pesquisa em antropologia fundamental. É autor de mais de cinqüenta obras, além de ter comentado e traduzido os evangelhos de Tomé, Maria de Magdala, Felipe e João. Ele participa igualmente de vários encontros entre as diversas tradições.