O poema traz as lembranças
Dos muros que carrego nas mãos
Traça a fronteira do dito e o não dito
Separa a espuma da cerveja
O poema me coloca no topo da palavra
Com o sabor da maça no céu da boca
Deixo o cair das horas com a vergonha exposta
O poema é a tua boca em chama
Na espuma flutuante das ondas
Das águas quentes dos meus olhos
Meu corpo chora à margem do poema
Sujo do descaso das mãos embriagadas
Roça na alma, impregna na pele
A sede do poema leve,
Do poema terra, do poema fome
Do poema que me come.
O poema são todos os sentidos,
Que correm do corpo para os dedos
Até o papel fresco e branco
E derrama leve grito, fortes suspiros
Em sustenido encanto, por entre matas verdes,
Quartos fechados, ou braços em abandonos.
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte... Meu corpo!
Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
O nosso amor morreu... Quem o diria?
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos pra partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De que outro amor impossível que há-de vir!
Nesse país de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que p´las aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi…
Mostrem-me esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta!
Ó meu país de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Florbela Espanca foi uma mulher triste e infeliz, talvez mesmo incompreendida para a sua época; nem os seus belos, mas tristes poemas, carregados de sentimento, evitaram a sua trágica morte ( suicídio); Não foi a Florbela uma alma suficientemente forte para suportar sozinha tanta solidão...
Seus poemas nos transportam para agudeza das palavras e do amor, sôfrego e passional, mas de uma beleza intensa q nos devora a alma, q nos faz sentir q corre o sangue da vida em nossas veias.
Seus poemas nos transportam para agudeza das palavras e do amor, sôfrego e passional, mas de uma beleza intensa q nos devora a alma, q nos faz sentir q corre o sangue da vida em nossas veias.
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