Nossas limitações são sempre internas, porém, quando o Ego teme que ultrapassemos as barreiras que nos impõe, providencia mecanismos de defesa, ligando-nos a situações e pessoas, com os quais criamos algum tipo de vínculo negativo, com poder de nos aprisionar. Criamos uma complexa teia energética com tudo e todos, de forma muito intensa, tudo se ramifica e se estende, criamos uma trama "perfeita", na qual ficamos aprisionados.
Quando buscamos o autoconhecimento, percebemos alguns desses pontos de nossas teias e até conseguimos nos libertar um pouco e criar mudanças em nossa vida. Porém, chega um determinado momento em que não conseguimos ir além de certo limite e, por mais que nos esforcemos, não conseguimos e nos sentimos presos.
No processo de autoconhecimento, passamos a olhar muito para dentro de nós, mas acabamos desconsiderando condições externas que, apesar de serem ilusórias, "existem em potencial energético" e tem poder sobre nós. Nossas teias familiares (que não se atém somente à família de origem, mas também aos nossos antepassados), nos limitam intensamente, pois fizemos um acordo de nos mantermos aprisionados uns aos outros e aceitamos as limitações impostas, antes de encarnarmos dentro de nossa linhagem, eles nos cobram fidelidade.
As pequenas mudanças que efetuamos até então, só aconteceram porque não afetaram intensamente essa teia, tudo o que fazemos dentro da teia, ressoa por toda a trama e todos são afetados. Se nossos movimentos são benéficos aos demais, ninguém se opõe, porém, se são contrários aos acordos firmados (inconscientes) - ex: seremos todos fracassados, ninguém pode se sobressair, sendo bem sucedido, para não causar desconforto aos demais. Se alguém tentar burlar as regras, será "excluído" e rejeitado por todos -, e se resolvemos mudar e buscar o sucesso, que é nosso de direito, nossa vibração irá ressoar fortemente pela teia, trazendo mudanças ao contexto e todos se abalarão. Causamos um abalo "sísmico" e todos se inquietam e começam a reagir contrapondo-se aos nossos intentos de mudanças.
Nossas mudanças sempre causam benefícios a todos, por ressonância, mesmo com um grave abalo na teia, sempre existirá um ponto de cura para todos. Mas na sensação, tudo é doloroso, ninguém quer que as coisas mudem.
Assim, enquanto mudamos e vibramos essa mudança, os demais começam a se inquietar, a estrutura familiar começa a se modificar, mas eles ainda não conseguem definir o que está acontecendo e de onde vem o abalo. Alguma pessoa da nossa família, em especial (quer seja alguém bem próximo ou até mesmo distante ou falecido. Aqui vou citar um exemplo de alguém vivo e próximo, ou pode ser levado a uma situação dentro de um grupo), pode ser afetada e se alterar de forma mais "negativa", principalmente se tiver uma ligação ou afinidade mais intensa conosco e, por isso, ser o mais sensível às nossas mudanças, sentindo-se ameaçado por elas.
Essa pessoa poderá começar a se desesperar e se desequilibrar, tendo reações negativas, externando-as e afetando a todos. Na verdade, seu inconsciente está registrando nosso movimento e essa sua reação, sem que saiba, é como um grito de desespero, para despertar a todos, na intenção de fazer com que todos o ajudem a se contrapor ao nosso processo de mudança.
Obviamente, ninguém tem consciência desse movimento, mas toda a família começa a se desarmonizar, a se desentender, tudo parece ficar confuso e até mesmo caótico. Dentro deste desconforto geral, cada um, à sua maneira, tentará encontrar uma forma de reverter o quadro, para que tudo volte ao "normal", ao confortável estado de limitações e aprisionamento geral.
É aqui que vacilamos, pois pensávamos que já conhecíamos muito dessa dinâmica e que bastava olharmos para dentro de nós e encontrarmos formas de lidar com cada um, para que tudo fosse favorável a criarmos uma nova possibilidade de vida para nós. Mas algo muito pior aconteceu e estávamos desatentos e não percebemos o "caos" que estava ocorrendo em nossa família e fomos nós que o iniciamos e nos prejudicamos. A família estava tentando puxar todos os fios da teia, tentando fazer reparos desesperados.
Se estivermos conscientes de que um abalo nessas proporções poderá ocorrer, não seremos muito afetados, passaremos por dificuldades pela contraposição natural de todos, claro, mas poderemos fazer isso de forma suave, nos fortalecendo e encontrando soluções para cada situação. Mas se estamos desavisados e "felizes e contentes" apenas saboreando um bom momento de conquista em nosso processo de vida, somos pegos de surpresa quando, sem que possamos perceber e compreender, tudo parece ruir à nossa frente. Começamos a sentir que estamos "em queda", enquanto assistimos àquele, que se desesperou com nosso crescimento e se desequilibrou, "se elevar", diante de nós.
Somos tomados pela confusão e perplexidade, tudo é muito sutil para percebermos. Não conseguimos compreender nem mesmo os motivos de nossa queda, como vamos compreender a elevação do outro? Do desequilíbrio à elevação, do nada. Tínhamos percebido o desconforto dele diante de nossa pequena mudança, mas achávamos que ele não tinha mais nada a seu alcance para nos atingir, como fazia sempre, durante toda a nossa vida.
Foi aqui que nos perdemos, pois quando ele não tinha mais armas para nos derrubar, como sempre o fez, de forma tão fácil, baixamos guarda e ele, na tentativa de assumir o poder sobre nós, causou um grande movimento que desestruturou a família, para que ela, vendo-o tão desequilibrado e afetando a todos, buscasse fazer de tudo para dar a ele o poder que ele queria.
E assim a família o fez: entregou a ele aquilo que era nosso, aquele lugar, que há muito tempo buscamos e fomos construindo, degrau por degrau e, lá no topo, num patamar acima, construímos um lugar de "poder pessoal", onde tudo começou a ser possível, um lugar só nosso. Não tínhamos a intenção de afetar os demais, mas sabíamos que isso até os ajudaria, pelo exemplo, por ressonância. Esse lugar era nosso, de fato e de direito.
Na nossa "queda", percebemos que a família, à sua maneira, nos "convidou" a sair de nosso lugar, nos ameaçando de desaprovação e rejeição e, para que o desequilibrado pudesse se sentir melhor e no poder, nos obrigaram a abrir mão do que era nosso, deixando que o outro assumisse o lugar como sendo seu. A mensagem velada foi de punição, ou seja, se burlamos as regras e criamos mudanças, "causando mal" ao outro, devemos pagar por isso, oferecendo de bandeja para o outro, tudo aquilo que conquistamos com tanto esforço.
Apesar da nossa dor, precisamos aceitar os fatos e colher o aprendizado dentro disso. Desta forma, se construímos aquele lugar, com certeza poderemos construir outro, mas de forma mais cuidadosa e atenta, não de forma persecutória. Com isso, poderemos aproveitar para fazer um planejamento de mudanças nesse novo lugar a ser criado, pois perceberemos que o outro lugar tinha falhas. Com aceitação e nova atitude, criaremos um lugar que nos levará para mais além, sem causar danos aos demais, mas nos dando até mesmo forças para ajudarmos aos outros, caso se abalem, sem que nos impeçam de prosseguir e sem que nos tirem novamente do lugar que conquistarmos.
Por Teresa Cristina Pacotto