terça-feira, 23 de junho de 2009

Quando o mais saudável é não acreditar nos seus pensamentos

Se ficarmos em silêncio para escutar nosso diálogo interior, vamos perceber que, com freqüência, somos juízes severos diante de nossos próprios dramas emocionais: damo-nos ordens destrutivas e nos condenamos a sentenças de derrota, até mesmo com data marcada.

Às vezes, carregamos ressentimentos ou dúvidas em nossa mente 24 horas por dia: frases desagradáveis que se repetem sem parar. Quando sofremos assim, é porque o hábito de nos autopressionarmos está mais intenso do que nossa força de vontade para superar os padrões mentais negativos.

O antídoto para este sofrimento é a consciência de que os pensamentos só possuem o poder que damos a eles. Isto é, podemos aprender a parar de implicar com eles e deixá-los falando sozinhos.

Deepak Chopra, em seu livro Criando Prosperidade (Ed. Best Seller), escreve: Sempre que surgir um pensamento negativo, diga apenas para si mesmo:Que venha o seguinte, e continue em frente.

No entanto, há um segredo que precisamos saber: para dominarmos pensamentos carregados de emoção, temos que ter empatia por eles! Isto é, os padrões mentais só desaparecem quando a energia que os sustenta também for extinguida. Não adianta tentarmos evitar nossas emoções sem termos feito as pazes com elas. Do contrário, elas voltam com mais força, indignadas, cobrando seus direitos. Para liberar uma dor emocional, temos primeiro que ter empatia por ela, acolhê-la.

Jeremy Hayward, em O Mundo sagrado(Ed.Rocco), diz: Se quisermos abandonar nossa tensão e egocentrismo, nossa raiva legítima, nosso sentimento de sermos vítimas, nosso falso otimismo ou não importa quais possam ser nossos pensamentos seguintes habituais, longe de tentar nos desapegar, temos de sentir essas coisas, tocá-las, segurá-las. Aí, então, podemos soltá-las.

Desta forma, na próxima vez que você se der conta de estar preso a um pensamento destrutivo, respire como se estivesse dando um passo para trás: em vez de brigar com o seu pensamento, reconheça a força que ele tem sobre sua mente, e, então, respire novamente e diga a si mesmo: Eu não preciso mais de você, você pode ir. E assim, nos libertamos da carga desse pensamento e o deixamos ir.

Somente quando pararmos de nos identificar com nossos padrões mentais é que poderemos nos liberar deles. Uma vez liberados dos padrões mentais, seremos também capazes de usufruir a energia vital que antes eles consumiam.

Quando se é capaz de sentir as emoções sem sermos esmagados por elas, consegue-se ouvir o insight de sabedoria. Faça uma pausa suficientemente longa para sentir o mundo e ouvir o que ele está lhe dizendo. Deixe o espaço da percepção invadir o seu coração. Desta maneira, você se torna mais sensível e aberto às sutilezas do mundo, escreve Jeremy Hayward.

Para não acreditar em nossos pensamentos destrutivos, temos que ser determinados e suaves ao mesmo tempo. Esta é uma prática de concentração e autocompaixão.

Por Bel Cesar

domingo, 7 de junho de 2009

A noite escura da alma


Esta semana quero compartilhar com vocês um texto maravilhoso que me chegou às mãos. Nele, num momento de grande inspiração, a monja zen budista Isshin, detalha os passos necessários para se avançar na busca da iluminação espiritual. Espero que ele toque seus corações e os inspire a manterem-se firmes na jornada ao encontro de sua própria Luz.


Encontrei uma expressão Chan (Zen chinês) que diz:

"Grande dúvida, grande iluminação.
Pequena dúvida, pequena iluminação.
Nenhuma dúvida, nenhuma iluminação."

A tradição nos ensina que existem três pré-requisitos para a prática verdadeira: Grande Dúvida, Grande Fé e Grande Determinação.

1. Grande Dúvida
A maioria das pessoas chega à prática espiritual motivada por um sofrimento que deu origem a um questionamento. Quase sempre, a pessoa está fazendo uma pergunta do tipo "Por que está acontecendo 'x'?" ou "Por que eu?"

Muitas destas pessoas nem dão continuidade num centro de prática séria, e vão embora depois de uma, duas - algumas - visitas. Outras pessoas, depois de algumas sessões de meditação, sentindo algum alívio do problema imediato que as trouxeram até o zazen, já relaxam os seus questionamentos. Talvez até se tornem associadas, até venham a se considerar "praticantes". Mas a verdade é: não chegaram a fazer a pergunta essencial, não se abriram para a "Grande Dúvida" e, assim, ainda não entraram realmente no caminho espiritual.

Algumas poucas pessoas, ao passar por uma situação de dificuldade, acabam aprofundando as perguntas iniciais ("Por que eu?", "Por que está acontecendo 'x'?") para começar a questionar: "Quem sou eu?", "Qual é o significado da minha vida?", "Qual o sentido da vida e da morte?".

Estas são perguntas da "Grande Dúvida" - o início da caminhada espiritual. A tradição Rinzai Zen usa os 'koans' para provocar a Grande Dúvida. Quanto mais intensamente se vivencie a Grande Dúvida, tanto maior será a "iluminação" obtida.

Acredito que, na nossa realidade de seres humanos, as nossas "iluminações" são, na verdade, "pequenas iluminações", pois a diferença entre "ter uma ou algumas experiências de iluminação" e "se tornar uma pessoa iluminada", ou "se tornar uma pessoa que manifeste plenamente a sua iluminação", é igual a diferença entre água e vinho.

Os mestres também nos ensinam que aquela pessoa que se acha "iluminada", não é. Ainda nos ensinam que a prática deve ser constante e pelo resto da vida - e próximas vidas, também.

Portanto, sempre que acreditamos que encontramos uma resposta à "Grande Dúvida", é importante que recoloquemos a pergunta e sigamos além, além da resposta atual, além da nossa compreensão deste momento, sempre além, sempre nos aprofundando mais e mais.

O grande perigo aqui está em achar que encontramos "A Resposta" e que a "Grande Dúvida" já acabou. Vamos cair numa complacência, arrogância - talvez até nos posicionando como prontos para liderar outras pessoas, mas, na realidade, estamos nos iludindo e iludindo os outros.

De certa forma, a nossa caminhada espiritual foi abandonada. O nosso Zazen se tornou um zazen de conforto, um zazen de consumo. Sempre podemos encontrar mais um pedaço da resposta à "Grande Dúvida". Mas, vamos dizer que você está com o seu questionamento "à flor da pele". Entrou no caminho espiritual e iniciou uma prática. Aí surge a questão da fé.

2. Grande Fé

O segundo elemento essencial a uma boa prática é uma "Grande Fé".. Fé na prática, fé nos ensinamentos, fé no professor - um ser humano, com falhas humanas, que tem mais experiência no Caminho e algum tanto de "iluminação" manifestada. E, mais ainda, fé na sua possibilidade de poder manifestar a sua própria iluminação, de encontrar a "resposta" de sua Grande Dúvida.

Inicialmente, pode ser que parte desta fé você encontre depositando fé nos outros. Você gostou e confia no seu Professor de Dharma. Ou admira um praticante budista e confia nele. Mas os seres humanos são literalmente isto - seres humanos, sujeitos a falhas. Podem nos desiludir.

Mais ainda, uma das funções dos Professores de Dharma é de "puxar o tapete" debaixo de nossos pés. Podem até nos provocar, fazendo com que manifestemos a nossa "sombra", na esperança de que possamos "iluminar" este aspecto nosso que foi trazido à luz. Nestas horas, podemos até nos sentir "traídos" pelo Professor, enquanto não estamos compreendendo o que ele está tentando nos ensinar.

Portanto, temos que ir além desta fé inicial, depositada em seres humanos externos à nos mesmos. De um lado, temos que amadurecer e aprofundar a nossa fé no Professor e outros seres humanos, temperando-a com fé nos ensinamentos e no próprio Dharma - passo-por-passo.

E os ensinamentos, que foram transmitidos já durante 2.600 anos - podemos depositar fé neles? Podemos, mas isto também tem suas limitações, pois a transmissão dos ensinamentos depende da comunicação e das palavras, sempre sujeitas às mais variadas interpretações. Transcrições de diálogos entre grandes mestres e os seus alunos não nos transmitem o contexto, o cenário, todos os detalhes que fizeram com que aquelas palavras fossem as mais apropriadas para aquele aluno naquele momento.

No Zen encontramos inúmeros exemplos de professores que, num momento dizem uma coisa e, em outro momento, dizem exatamente o contrário. Será que estão mentindo? Será que são loucos? Ou será que estão simplesmente falando exatamente aquilo que é mais apropriado para aquele momento, aquele contexto, aquele aluno - para convidá-lo a tomar o próximo passo de aprendizagem? Como alunos do Zen, existem momentos que podemos nos desesperar com um professor que parece estar se contradizendo. Como é forte, nestes momentos, o sentimento de "mas você não falou 'x' antes? Por que está falando 'y' agora? Qual é a verdade, 'x' ou 'y'?"

Conheço uma mestra moderna que faz isto o tempo todo. Será que ela é louca? Não acho, não. Acho que ela está simplesmente me desafiando a mergulhar para dentro e encontrar a MINHA verdade - e desafiando outras pessoas com quem ela faz a mesma coisa a fazer o mesmo mergulho para dentro.

Não é um processo fácil. Mas certamente me oferece a oportunidade de me aprofundar na fé verdadeira que preciso cultivar - a Grande Fé. Fé na minha própria Natureza Buda, fé no Universo, fé no Dharma, fé na minha prática, fé em mim mesma. Fé para atravessar a noite escura da alma - ou as noites escuras da alma. É aí que entra o terceiro pré-requisito da prática.

3. Grande Determinação

Sem a Grande Determinação, não vamos conseguir atravessar a noite escura. Se falhar a nossa determinação, vamos acabar "voltando para trás" em lugar de completar esta etapa da jornada. Não vamos chegar até o raiar do novo dia, aquele pedaço de Iluminação que seria resultado de nosso questionamento, fé e determinação.

Se a nossa determinação for fraca, vamos falhar. Se a nossa determinação depende de outras pessoas para nos apoiar, vamos falhar. Pois a noite escura da alma é exatamente isto. É um momento em que nos sentimos totalmente sós - a nossa dúvida nos consumindo, a auto-confiança cambaleada, a nossa fé no limite - só vemos escuridão e é somente a nossa determinação que nos segura no caminho. Afinal, o momento mais escuro da noite é o momento anterior ao nascer do Sol. E é a mesma coisa na jornada espiritual.

Se iniciamos a jornada com uma pequena dúvida, a noite escura vai ser "pequena" e o raiar do Sol também. Mas se o nosso primeiro passo foi baseado numa GRANDE Dúvida, a noite escura vai ser igualmente GRANDE.

A crise - mistura de perigo com oportunidade - vai ser GRANDE. Para atravessar esta noite escura, vamos ter que descobrir, dentro de nós, fé da mesma grandeza e, por fim, GRANDE Determinação - talvez aquela determinação que diz: "mesmo que perca tudo, não arredo o pé daqui", "mesmo que eu tenha que morrer tentando, não desisto", "mesmo que estejam todos me chamando de louco, não saio deste caminho", "mesmo que todos os meus amigos me abandonem, não abro mão".

Talvez a vida vá nos exigir uma entrega total, a "morte simbólica", morte do ego, morte para tudo que pensávamos que importava. Mas, na realidade, a vida está nos convidando a passar pela morte dos condicionamentos - nos convidando à Libertação.

No meio da noite escura da alma passamos por uma fase de ficar só enxergando as perdas, as "mortes". Talvez percamos contato com a nossa fé. Talvez nos entreguemos ao medo. Talvez não resistamos às pressões e voltemos correndo, tentando voltar à nossa zona de conforto anterior, voltar à harmonia conhecida, voltar às amizades e relacionamentos antigos que não queremos arriscar perder, buscando apoio externo na falta de nosso próprio apoio interno.

Quantas e quantas pessoas fraquejam neste ponto, justo quando estão quase lá, quase vencendo esta fase da jornada. Que tristeza! É como se vendessem a alma, caissem em "tentação".

É por isto que todas as tradições espirituais falam da dificuldade da jornada. Todas as tradições espirituais têm a sua forma de descrever o processo de passar pela "noite escura da alma". Algumas tradições xamânicas ou indígenas usam "jornadas interiores" indo ao encontro da morte e renascimento simbólicos, desmembramento e "re-membramento" simbólicos, para facilitar esta passagem.

A tradição budista nos fala da determinação de Buda quando ele sentou embaixo da figueira, decidido a não se levantar dali até que encontrasse a resposta, a Iluminação. Fala, em linguagem simbólica, dos ninhos que pássaros construíram em seu cabelo, das teias que as aranhas teceram, das plantinhas que cresceram entre os dedos dos seus pés - tudo para nos ajudar a imaginar uma determinação tão firme, inquebrantável, que permitisse que ficasse lá - sentado em meditação - o tempo suficiente e com a "imobilidade" - firmeza de propósito - suficiente para atingir a Iluminação.

Lembro-me de momentos de dúvida (dúvidas que pareciam bastante grandes para mim, na época), onde toda a minha fé foi posta à prova e onde parecia que a minha determinação não ia agüentar - e lembro-me dos raiares do Sol que vieram no final daquelas noites escuras da alma. Não posso dizer que eu tenha atingindo qualquer GRANDE Iluminação, mas com certeza, sinto que posso dizer que cheguei em algumas pequenas iluminações, de acordo com a minha capacidade de ter uma dúvida, de cultivar a fé e de achar dentro de mim mesma a determinação de prosseguir até a hora do Sol nascer.

Como será que isto vai acontecer? Como será o momento da virada, de uma pequena iluminação? Vai ser o seu momento, único, totalmente diferente dos meus momentos - e nem para mim um momento será igual ao outro.. Só posso compartilhar que, para mim, a virada vinha muitas vezes quando eu finalmente parava de lutar contra os acontecimentos e me entregava totalmente.

Sabia que a gente tem todo o direito de espernear e reclamar tudo que quiser neste universo? Só que o Dharma simplesmente vai continuar procurando nos ensinar. Então não precisa se sentir culpado por passar por uma fase de "briga com o universo" antes de chegar numa entrega! Outras vezes, a virada veio quando finalmente percebi a "comédia dos absurdos" numa situação e caí nas gargalhadas, de corpo e alma. De qualquer forma, a virada vinha quando algo dentro de mim mudou. A mudança nunca vinha de fora, só de dentro. Este que é o detalhe importante: a mudança tem que vir de dentro.

A noite passa. O novo dia nasce. A Luz retorna. Portanto, se você estiver atravessando uma noite escura da alma, não abra mão de sua fé, não vacile na sua determinação. Não tente voltar ao "conforto" ou "harmonia" ou "segurança" anterior. Se, no seu coração você sabe que está ouvindo a voz de sua Natureza Buda, prossiga firme.

Mergulhe, deixe que a Grande Dúvida lhe "consuma" até os ossos, até a medula, até restar somente o grande Vazio. Estique a sua fé, mantenha a sua determinação - e atinja mais um pedaço da Iluminação. O importante é de sempre manter-se firme na busca de Sabedoria e Compaixão.

Se você está com mais Sabedoria e Compaixão, mais Paz e Tranqüilidade no "dia seguinte", saberá que atravessou a noite. Mas, se está com alguma raiva, algum mal-estar, alguma inquietação, saberá que ainda não terminou a travessia ou, pior, saberá que desistiu no meio do caminho e voltou para trás.

Mesmo assim, não perca esperanças, não se critique, não se julgue. Você fez o seu melhor. Aprenda com o processo.. Veja onde "falhou", onde "errou" e comece de novo. A vida sempre nos oferece novas oportunidades. Temos todo o tempo do universo para nos iluminar - kalpas e kalpas estão à nossa disposição!

Então, não tenha medo. A noite passa.”

Que os méritos de nossa prática se estendam a todos os seres e que possamos todos nos tornar o Caminho Iluminado. Gassho.


Por Elisabeth Cavalcante
é Taróloga, Astróloga,
Consultora de I Ching e Terapeuta Floral.

O sentimento de culpa sustenta o padrão da auto-sabotagem


A culpa é uma autocondenação por sentir-se incapaz de algo. É um mecanismo que muitas vezes não tem lógica. Já testemunhei pessoas que, por exemplo, se culpam por não estarem presentes no momento da morte de seus entes queridos. Culpamos-nos por um hábito de nos maltratarmos inutilmente!

A base do mecanismo de auto-sabotagem nos ocidentais pode ser encontrada na tradição judaico-cristã que [...] tende a conceber o sofrimento como efeito de uma causa externa – Deus – a título de castigo pela desobediência à lei divina. Na tradição budista, a tendência é conceber o sofrimento como causado pelo próprio ser que sofre – como a conseqüência natural da satisfação irrestrita dos desejos egoístas, escreve Ron Leifer, em Projeto Felicidade (Ed. Cultrix).

Neste sentido, a marca mental da auto-sabotagem é sustentada por um padrão inconsciente de que merecemos ser punidos. Desde pequenos escutamos o Mandamento Amai-vos uns aos outros. Odiar nos foi transmitido como uma atitude pecaminosa. No entanto, muitas vezes odiamos quem amamos. Começando pelos nossos pais. Assim como escreve Eva Pierrakos, em Não temas o Mal (Ed. Cultrix):

A culpa por odiar aqueles que mais ama convence a criança de que não é merecedora de nada que seja bom, alegre ou prazeroso. A criança sente que se ela tivesse que ser feliz um dia, o castigo, que parece inevitável, seria ainda maior. Portanto, a criança evita inconscientemente a felicidade, pensando dessa forma dar uma compensação e assim evitar uma punição ainda maior. Essa fuga da felicidade cria situações e padrões que sempre parecem destruir tudo que é mais ardentemente desejado na vida.


Até mesmo diante da adversidade podemos optar pelo desenvolvimento interno. O lado positivo do sofrimento é que ele nos dá a oportunidade de compreender as causas dele mesmo. Cria-nos a possibilidade de compreender o papel do desejo e da aversão em nossa vida, ressalta Ron Leifer.

Do ponto de vista budista, a espiritualidade surge quando decidimos nos responsabilizar cem por cento por nosso autodesenvolvimento: purificar nossa mente de seus hábitos mentais destrutivos. Assim, abandonamos qualquer tentativa de vitimização, pois partimos do princípio de que a semente de todo conflito não se encontra nos acontecimentos externos, mas nas qualidades da mente, do Eu e seus agregados, que moldam a percepção que temos dos acontecimentos e a maneira pela qual reagimos a eles.

O Eu atrai para si suas experiências e percepções, uma vez que traz consigo suas marcas mentais, as sementes de nossos hábitos.

O que determina nossa maneira de ver o mundo são nossos hábitos mentais, isto é, as marcas que imprimimos em nossa mente por meio das intenções com as quais agimos com nosso corpo, palavra e mente. Ou seja, conforme nossa motivação interna, quando fazemos, falamos ou pensamos algo, deixamos marcas em nossa mente que se tornam nossos hábitos mentais.

Já vimos claramente que nada do que acontece para nós é uma coisa boa ou ruim vinda de si mesma, porque se o fosse todo mundo se sentiria do mesmo modo. Por exemplo, a pessoa que nos irrita no trabalho, deveria então irritar todo mundo exatamente da mesma forma, porque a sua ‘irritação’, estaria sendo irradiada de dentro dela e atingindo a todos no escritório. No entanto, a verdade é que sempre haverá alguém que vai achar essa mesma pessoa boa e amável. [...] No entanto achamos algumas coisas como sendo boas, e achamos algumas coisas como sendo ruins. Se esse sentimento não está vindo da coisa em si, de onde está vindo então? [...] Não precisamos de muito para entender que, obviamente, o modo como vemos as coisas está vindo de nós mesmos, escreve Gueshe Michael Roach em O lapidador de diamantes (Ed. Gaia).

Portanto, se estas marcas mentais são as sementes formadoras de nossos hábitos, seremos felizes ou não de acordo com a qualidade das sementes que estão em nossa consciência. Se elas forem de medo, quando elas amadurecerem, iremos vivenciar situações carregadas de dúvida e insegurança.


Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.

Amor maduro


Construam uma história de vida bonita, a partir de agora, pois vocês não sabem durante quanto tempo ficarão juntos.

Deixem para trás o que passou. E, quando tiverem algum entrevero, não façam menção a fatos passados.

Mantenham sempre o diálogo e usem o tom de voz baixo e respeitoso.

Lembrem-se de que os defeitos das pessoas que vivem mais próximas de nós são notados com maior frequência, porque se evidenciam no dia-a-dia.

Não usem as fraquezas um do outro para agressão. O amor reclama cultivo.

O verdadeiro amor é conhecido não por aquilo que reclama, mas sim pelo que oferta.

A melhor relação é aquela em que o amor excede a necessidade.

Texto extraído do romance espírita A Pétala Vermelha - Lachâtre

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Permissão para sentir


Como você está se sentindo agora? Nem sempre respondemos corretamente a esta pergunta... Por exemplo, diante de avaliação imediata, podemos dizer que estamos bem, mas se pararmos para nos observar melhor veremos que estamos ansiosos ou deprimimos.

Outras vezes, ocorre justamente o contrário: respondemos - quase por hábito - que estamos mais ou menos, quando, na realidade, já nos sentimos bem melhor do que noutros momentos.


Sem falar de quando os outros comentam que estamos irritados e só nós, não nos damos conta disso... em geral, nos sentimos incomodados com a observação alheia e reagimos de forma exagerada, dizendo que "está tudo bem...". Nossa reação só comprova o que a pessoa havia dito: não estávamos cientes de nosso estado emocional.


Muitas vezes, quando paro para me sentir, descubro que estou desatualizada quanto a meus próprios sentimentos. Explico melhor: se acho que não gosto de alguém, toda vez que vejo esta pessoa já tenho um olhar preconcebido sobre ela. Mas se eu estiver aberta para admitir que esta é uma atitude tendenciosa que contamina minha percepção, posso me surpreender e gostar de encontrá-la numa próxima vez.

Portanto, apesar de parecer natural sabermos avaliar nossas sensações e sentimentos, não é bem assim que ocorre. Para tanto, é preciso, em primeiro lugar ,saber sentir nosso próprio corpo.

Isso é um função da sensação: uma habilidade da mente de nos conectarmos com a realidade, pois por meio dela percebemos o que está ocorrendo neste exato momento, tanto em nosso corpo-mente como no meio ambiente.


Percebemos de modo superficial o que ocorre em nosso interior porque estamos viciados em prestar atenção naquilo que ocorre fora de nós.

Cabe ressaltar que a função da auto-observação é gerar maior conhecimento e auto-responsabilidade diante de nossa reação frente às pressões do mundo externo.

Portanto, esta não é uma atitude egocentrada e nem está baseada na prática de autocrítica!
Em geral, associamos a liberdade de sentir com a nossa possibilidade de expressão.

Quando alguém me incentiva a expressar minha raiva, solto-a com muito mais facilidade.
O fato de não estarmos familiarizados com nosso mundo interior e de mantermos nosso foco no mundo exterior, faz com que tenhamos pouca liberdade em permitir sentir ou não nossos sentimentos.

Em outras palavras, quando o mundo externo não permite que nos expressemos, acabamos por nos bloquear internamente também. Como diz a expressão, engolir sapos.
O ponto é que negar o que sentimos não faz com que os sentimentos passem, porque a carga emocional ainda precisa ser liberada por nosso cérebro.

Quanto mais não nos permitimos sentir nossas emoções, mais vulneráveis estamos para as doenças psicossomáticas.
Portanto, se não pudermos nos expressar externamente, devemos criar um ambiente interno para nos acolher. Permitir-se sentir e permitir-se ser.

Quando nos apropriamos de nossas sensações, pensamentos e sentimentos, sejam eles agradáveis ou não, podemos direcioná-los. A permissão para sentir é a base para o caminho da responsabilidade pessoal.

Quando me permito sentir irritação, por exemplo, posso resolvê-la como um assunto privado. Desta maneira, deixo de precisar do outro para liberar meu mal-estar.

Ao me descolar do outro, ganho liberdade para resolver meu mal estar sem depender de ninguém.
Isto não quer dizer que basta resolver o assunto internamente ou que não é preciso comunicarmo-nos com os outros. Não... pois sabemos vivemos melhor quando compartilhamos emoções com transparência.

O que estamos ressaltando aqui é que quanto mais resolvidos emocionalmente estivermos conosco mesmos, menos sobrecarga e expectativa teremos sobre os outros. Por exemplo, quando acolho meu mal humor, não preciso do outro para me libertar da minha irritação!

Desta forma, me torno cada vez menos refém da disponibilidade alheia.
Esta liberdade não é fácil de ser conquistada, pois estamos muito acostumados a contar com a idéia de que o outro, se quisesse, poderia nos entender.

Quanto mais íntimos são os vínculos afetivos, maior é a expectativa de empatia, isto é, de que o outro poderia se colocar em nosso lugar e naturalmente compreender a nossa necessidade de expressão. Mas, nem sempre isso ocorre...

Portanto, o conselho aqui é: antes de tirar a limpo com o outro, faça sua limpeza interna! Como?
Começando por observar o seu corpo. O corpo não mente: ele se contrai diante da dor. Respire algumas vezes profundamente soltando o ar pela boca. Depois, deixe a respiração seguir seu fluxo e concentre-se na imagem ou no pensamento do assunto que o está incomodando, e perceba onde o seu corpo se contraiu.

À medida em que você massagear e relaxar este local, vai sentir gradualmente ceder o desconforto emocional.
Se negarmos nossas sensações, nos distanciaremos de nós mesmos.

Podemos não gostar do que estamos sentindo, mas a liberdade de sentir é a nossa porta de entrada para voltarmos para o nosso eixo interior.
Não sentir o corpo é como querer voar sem precisar voltar para a pista de pouso para se recarregar. Uma hora nossa gasolina acaba... mas corpo está lá para nos receber!

Ao cuidar do corpo, estamos zelando por nossa base interna para podermos assim relaxar na confiança de pousar com segurança em nosso mundo interior.

Por Bel Cesar